Em 31 de janeiro de 1999, um domingo, a aldeia de Coucieiro vivia um dos momentos mais ‘pesados’ da sua história. Três irmãs que exploravam uma mercearia/tasca foram brutalmente atacadas durante a hora da missa, acabando por morrer. A PJ interrogou cerca de 100 pessoas, mas nunca encontrou culpados. O crime prescreveu em 2014 e deixou de ser investigado.
Ester Maria – a mais velha de três irmãs que exploravam um mercado no rés-do-chão da moradia onde residiam à face da estrada municipal 531(2) – foi a primeira a morrer. Vítima de nove facadas, no tórax e no abdómen, ainda estava deitada quando foi surpreendida pelo(s) homicida(s). Os populares falam em “um”. A Polícia Judiciária concordou. Mas nunca houve certezas quanto ao número de atacantes. Nem sequer do motivo que levou a este desfecho.
Rosa e Olívia não estavam em casa, mas chegariam minutos depois, para seu próprio infortúnio. Abriram as portas do mercado, ainda fechado àquela hora, para serem surpreendidas na entrada. Desta vez, o agressor utilizou um objeto pesado de ferro, desferindo vários golpes na nuca das duas irmãs. Nesse momento, ter-se-á colocado em fuga.
O caso conheceu muitos suspeitos mas não houve acusação formal. Entretanto, em 2014 o crime prescreveu, como diz a lei em relação ao crime de homicídio (15 anos), sem que fossem encontrados culpados. O ‘massacre’ ainda hoje é encarado com bastante reserva pelos habitantes de Vila Verde, que, com estupefação por nunca o verem resolvido, o apelidaram de “o crime perfeito”.
Vizinhas em prantos
Maria da Conceição e a filha residiam a cerca de 500 metros da residência das três irmãs, numa rua perpendicular. Foram comprar pão e, ao empurrar a porta de entrada, que se encontrava semi-aberta, depararam-se com o cenário de horror. Começaram em “prantos”, pelo que José Sampaio, marido e pai das duas mulheres, que em 2019 lembrou aquele dia fatídico a O MINHO, foi atraído pelo barulho e deparou-se com mesmo cenário, isto à hora em que a missa terminava. A GNR foi chamada.
Vindos da missa, dezenas de habitantes de Coucieiro pasmaram em frente à residência das irmãs e muitos deles entraram dentro da casa,e acabando por contaminar as provas, algo que dificultou sobremaneira o trabalho de investigação das polícias.
Rosa morreu no dia seguinte, no hospital. Olívia sobreviveu durante uma semana, em coma, até perecer. Desapareceram “20 contos” de dentro da habitação. Havia gavetas remexidas pelo agressor que, concluiu a ‘judiciária’, estaria à procura de algo que poderá ou não ter encontrado. Certezas? Zero.
Vários interrogados, poucos suspeitos e algumas teorias
Dezenas de pessoas foram interrogadas nos calabouços daquela polícia, em Braga, mas nenhuma acusada. Suspeitas foram algumas. Vingança, assalto, motivos fúteis ou pura vontade de matar. Nunca nenhum foi comprovado. Não houve sequer uma acusação a qualquer suspeito, para que o caso pudesse seguir para tribunal.
A O MINHO, vizinhos da habitação indicaram que a tese que ganhou maior consistência na freguesia foi a de que um grupo de jovens toxicodependentes que se dedicava a furtos naquele concelho terá tentado assaltar a casa, julgando não se encontrar ninguém porque além de ser hora de missa, também era quando as irmãs iam distribuir pão, e foi surpreendido pela terceira irmã, que estava de pijama, ao que tudo indica na cama.
Um dos elementos desse tal “grupo de toxicodependentes”, bastante conhecido por furtos no centro de Vila Verde no final dos anos 90, acabou por cumprir pena de prisão por outros crimes, mas nunca por este. O mesmo terá admitido a conhecidos que terá sido o autor do crime, mas negou depois essas declarações. E nunca foi provado que tenha sido ele.
José Pimentel, ex-presidente da Junta de Coucieiro, partilhou da teoria de que se tratou de um assalto que correu mal, talvez porque uma das irmãs tenha ouvido barulho na parte inferior da casa e terá reconhecido o(s) assaltante(s), levando a tal desfecho. Já Ester, afilhada de uma das vítimas, crê que a desarrumação “foi para disfarçar” e que a intenção de quem ali se deslocou “era mesmo matar” as três irmãs. Ambos contaram essas ideias à RTP, 15 anos depois do crime.
Manuel Silva, um dos dez herdeiros da habitação, revelou a O MINHO, em 2019, que a casa nunca mais foi ocupada depois da tragédia, e esteve à venda vários anos. Em 2024, continua inabitada. Recentemente, depois de perder o telhado, foi alvo de algumas obras, as placas de venda foram retiradas e os terrenos ao redor ‘amaciados’. Estava à venda por cerca de 25 mil euros quando ainda não era um esqueleto, mas ninguém quis comprar.
Esta quarta-feira, o atual presidente da Junta de Coucieiro diz ao Jornal de Notícias (edição em papel) que pretende criar um “memorial” para evocar as três irmãs. Com ou sem memorial, o que permanece na memória é a dúvida, talvez nunca seja esclarecida: Quem matou Ester, Rosa e Olívia?