O emblemático Mercado do Bolhão, no Porto, reabriu hoje após quatro anos de obras, totalmente equipado com balanças da empresa bracarense Balanças Marques.
Em comunicado, a empresa salienta o projeto do novo Bolhão foi desenvolvido para ser equipado especificamente com os equipamentos de pesagem da Balanças Marques, que concebeu um modelo especial a partir da sua principal balança comercial BM5, a pedido do arquiteto Nuno Valentim, responsável pela renovação do Bolhão, de modo a enquadrar-se no espírito da reabilitação que procurou preservar a tradição e a história deste mercado.
“É um orgulho e uma honra para a Balanças Marques que as suas balanças tenham sido as escolhidas para equipar um mercado tão histórico e que muito diz não só aos portuenses mas a todos os portugueses”, revela a administração da empresa do Grupo José Pimenta Marques, citado em comunicado enviado a O MINHO. “Por outro lado, também é sinal do reconhecimento da qualidade das nossas balanças e da nossa marca elas fazerem parte, a partir de agora, do quotidiano de um mercado tão importante e movimentado como o Bolhão”, acrescenta.
A obra de renovação do Mercado do Bolhão aliou a recuperação física do edifício, a atualização do mercado de frescos e a restituição da relação deste equipamento com a cidade, preservando os seus históricos comerciantes. Investiu ainda no aumento da transparência, na acessibilidade, no conforto e na sua funcionalidade.
Fundada em 1967, a Balanças Marques conta já com mais de meio século de experiência no fabrico de equipamentos de pesagem comercial e industrial. Atualmente, é o principal ‘player’ do mercado português e o maior fabricante e exportador nacional da área, tendo já sido eleita por duas vezes a melhor empresa de pesagem do mundo nos prémios internacionais do setor.
Com sede em Braga, a Balanças Marques é também reconhecida a nível nacional pela sua política de benefícios para os funcionários, entre os quais se destacam a distribuição de lucros e um prémio de natalidade no valor de 500 euros.
Novo Bolhão
Com 81 bancadas, 38 lojas e 10 restaurantes, o Bolhão acomoda os frescos no piso térreo e os restaurantes no piso superior. No exterior, ficarão as lojas e, no interior, haverá ainda espaço para acolher pequenos mercados temporários.
O mercado centenário, cujas origens remontam a 1838, está também “mais adequado aos novos tempos”, tendo agora novas ligações à cidade: uma passagem intermédia que liga as ruas Alexandre Braga e Sá da Bandeira, e uma entrada direta a partir da estação do metro do Bolhão.
Alvo de uma obra de restauro “exigente”, consignada a 15 de maio de 2018, o Mercado do Bolhão estava suportado por andaimes desde 2005, devido a um alegado risco de ruína que só não levou ao seu encerramento porque os comerciantes o impediram.
A empreitada de restauro e modernização foi adjudicada ao agrupamento Alberto Couto Alves S.A e Lúcio da Silva Azevedo & Filhos S.A, por 22,379 milhões de euros, mas, veio, no entanto, a custar mais 15% do que inicialmente previsto, passando para cerca de 26 milhões de euros.
A pandemia da covid-19 e “várias vicissitudes” condicionaram a conclusão dos trabalhos – prevista para 15 maio de 2020 – e tornaram necessário o reajustamento do prazo por mais dois anos e quatro meses.
Ao longo da sua história, o Mercado do Bolhão teve um primeiro projeto de requalificação em 1998 e dois planos de intervenção durante os mandatos do social-democrata Rui Rio, mas nenhum saiu do papel.
Em 1998, o projeto do arquiteto Joaquim Massena, avaliado em 12,5 milhões de euros, seria abandonado pelo executivo municipal pouco tempo depois da sua adjudicação por alegada falta de verbas.
E, em 2008, durante o segundo mandato de Rui Rio, a câmara aprovou um contrato para adjudicar a recuperação e exploração do mercado a privados, mas as partes entraram em rutura devido ao que a autarquia apelidou de “incumprimento de obrigações pré-contratuais”.
À época, decidiu-se, então, por um projeto em parceria com o Ministério da Cultura, através da Direção Regional de Cultura do Norte, mas, no final de 2011, o social-democrata anunciava não poder avançar com o projeto de 20 milhões de euros sem uma substancial comparticipação de fundos comunitários.
O mercado centenário, classificado em 2013 como Monumento de Interesse Público, foi também palco inevitável de inúmeros candidatos e políticos.
Nas eleições autárquicas de 2013, o mercado foi prioridade de vários candidatos, entre eles, Rui Moreira, o independente eleito presidente que, à época, defendia uma concessão a privados, um projeto “exequível em 12 meses” e o renovado mercado aberto em 2015.
Já depois de tomar posse, o independente assegurou que o modelo de recuperação seria público, mas que dependia de fundos comunitários. No entanto, os “tão bons” resultados nas contas de 2014 fizeram crer que a recuperação do Bolhão podia avançar sem privados ou financiamento europeu.
Anunciado a 22 de abril de 2015, durante o primeiro mandato de Rui Moreira na Câmara do Porto, o atual restauro do mercado foi adjudicado em novembro, mas foi preciso esperar por março de 2016 para obter o último visto do Tribunal de Contas.
Em agosto de 2016, arrancava a primeira parte da atual modernização, com o desvio de infraestruturas e de uma linha de água, necessária para a posterior estabilização do edifício e construção da cave logística.
Nesse mesmo mês, a Procuradoria-Geral da República confirmava que o Ministério Público estava a investigar a existência de um eventual crime no processo de reabilitação do mercado, na sequência de uma queixa que o arquiteto Joaquim Massena, autor do projeto de 1998, apresentara no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto.
O arquiteto viria ainda, em maio de 2019, a avançar com uma ação judicial no Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) do Porto contra o município por quebra de contrato, pedindo uma indemnização por danos morais e patrimoniais.
Com as ações judiciais a desenrolarem-se, a reabilitação do Mercado prosseguia, com a autarquia a anunciar, em dezembro de 2019, que as obras iriam ser prolongadas por mais um ano devido à necessidade de alterar o “método construtivo” que, implicava a demolição e reconstrução total das galerias superiores, cujo estado de degradação era “bastante mais grave do que era possível apurar dos estudos preliminares”.
O desfecho da investigação do Ministério Público chegava um ano depois, em dezembro de 2020: arquivada por se considerar que não existiam “indícios da prática de infração criminal” e que as opções tomadas em 1998, 2008 e 2015 “foram diferentes porque o podiam ser” e que, o município podia escolher o projeto que “tivesse por conveniente”.
Depois de várias datas e previsões, o histórico mercado reabre na indicada agenda: “15 de setembro”.