O ex-vereador na Câmara de Braga e ex-dirigente do CDS/PP, Miguel Brito elogia, em entrevista a O MINHO, o trabalho de Ricardo Rio na Câmara de Braga. E enaltece o labor do vereador centrista. O advogado, que está fora da política há nove anos, está na expectativa do que fará o PS e os novos partidos.
O MINHO: Não há muitos anos foste membro do CDS/PP e seu dirigente . Foste também vereador na Câmara de Braga, na oposição.
Miguel Brito: A eleição de 1997 foi histórica para o CDS de Braga, o partido teve uma votação nacional baixa e ressuscitou em Braga. Depois de 1976, onde o CDS foi a segunda força política mais votada, desaparece no concelho e apesar de tudo resistiu no distrito, até que foi desaparecendo, em Vila Verde, Amares, Celorico, onde chegamos a vencer as Câmaras. Hoje desapareceu no distrito, com uma representação política “mascarada” com alianças que quando chamarem o Partido a ir a votos sozinho, mostrará a sua fragilidade. No concelho de Braga, ainda se vive sobre os “rendimentos” conquistados em 1997! Insisti muito para que o partido optasse por uma estratégia local, virada para a valorização de líderes locais, com independência em relação às direções nacionais. Tal não sucedeu. A Distrital de Braga tem o mesmo líder desde 1998. A concelhia de Braga, não tem raízes em Braga, os dois últimos vereadores, não eram de Braga. Vieram em regime de “comissão”. A sua marca originária é a natureza de nomeação, pela forma como foram escolhidos. Mas é justo dizer e reconhecer o seguinte: o excesso de “aparelhismo” do Partido, no caso na vereação de Braga, revelou o melhor vereador, deste executivo, Altino Bessa. Entrou à força, mas mostrou que era capaz. Mas o aparelho do CDS é muito constrangedor. Não há medida, nem ponderação. Veja-se a manifestação exuberante do líder da JP; que exibe cartazes e propaganda política, a par dos cartazes de campanha. Quem paga? Está cumprida a lei do financiamento dos partidos? Quem investiga? Há interesses? Aparelho seca tudo.
Depois saíste do partido…
Depois saí do Partido e escrevi várias “Cartas do Exilio”. O aparelho do CDS, os regulamentos, os congressistas, conseguiram fazer o que os eucaliptos fazem ao subsolo. Secam tudo. A democracia cristã, a visão do Adriano , o Conservadorismo do Manuel Monteiro, as ideias liberais do grupo de “Ofir” e as metáforas de Lucas Pires, secaram um imenso eucaliptal, que se estima em duas dúzias de conselheiros nacionais
O que pensas da política nacional? Como vês o «estado da nação» com a atual governação socialista?
A política nacional está em confinamento. Não sou adepto do bota abaixo, subscrevo a ideia do Presidente da República de que o país, precisa de tudo menos de uma crise política. O PS sozinho tem mais votos que a Direita junta. A direita não se entende, reúne-se sob a sigla do M.E.L mas troca galhardetes de FEL. O Estado confunde-se cada vez mais com o Partido Socialista e a proverbial clientela passeia por ai. Interrogo-me por termos um antigo líder socialista a ser julgado por lesar o Estado e o seu partido assobiar para o lado, com a agravante de continuar à frente nas sondagens!.
E o CDS?
Eu acrescentaria: a direita, que papel quer desempenhar no futuro? Acho que devemos revisitar o espírito fundador da Aliança democrática e ler os discursos dos seus líderes, Freitas do Amaral, Sá Carneiro e Ribeiro Telles. E ler o Adriano Moreira, sobre o papel de Portugal no mundo. E ler o Vítor Cunha Rego, o Vasco Pulido Valente, a Agustina e o Miguel Esteves Cardoso, Rui Ramos, Nuno Garoupa, Carlos Blanco de Morais, Nogueira Pinto, entre outros. Para todas as sensibilidades. E o CDS? Tem que revisitar a sua declaração de princípios confiscada por um “aparelho engravatado”. O CDS tem a síndrome do menino rico que não estudou e de repente, vê chegar à cidade o primo que foi estudar e vem desempoeirado (IL) e o primo que não saiu da terra e agora é forcado, muito popular! Se o CDS não percebeu que Chega, vai passar tempos difíceis!
E a nível local? Ao fim de sete anos de gestão da Coligação Juntos por Braga como avalias o trabalho do Presidente Ricardo Rio? E o dos vereadores, nomeadamente os da oposição?
Faço uma avaliação positiva do trabalho de Rio. Tem concerteza falhas. Mas globalmente é positiva: melhorou as estruturas existentes, definiu uma posição estratégica muito valorizada no Eixo Atlântico, desenvolveu um eixo de diplomacia económica que associado a um dinamismo do concelho, tem sido uma marca forte da cidade. E acho que essencialmente, há uma dimensão institucional que valoriza o papel do Presidente, e que não se foca na pessoa. A cidade funciona, cresceu, atraiu empresas, olha para a competitividade, mas não descuida a área social, promove a cultura e valoriza o espaço público. Fora da de Braga, fala-se muito positivamente da nossa cidade e do seu dinamismo. Eu gosto de uma política em que a obra é mais falada que as pessoas. Há uma ética republicana que o Ricardo Rio vai deixar. E as coisas funcionam bem.
A oposição de Braga, sofre do tique de Rui Rio na Câmara do Porto. Governou tempo a mais para fazer oposição. A recente entrevista do Adolfo Luxuria Canibal, que arrasa o Mesquita Machado e despreza Ricardo Rio, busca um papel que nem o PS, sabe identificar. Mas Braga precisa de uma oposição mais ativa e claro que compete ao PS buscar esse caminho. No PS de Braga discutem-se mais sobre pessoas do que sobre políticas.
E os vereadores do CDS?
Já destaquei o trabalho de Altino Bessa, acho que ganhou um capital político que extravasa o do seu partido.
Aproximam-se as eleições autárquicas e os candidatos das várias forças políticas estão definidos. Como vês a eleição?
A eleição que se avizinha tem novos protagonistas e estou atento ao novo xadrez, com novos partidos a disputar as eleições. Ainda não conheço as propostas e aguardo sobre o que têm para dizer, temendo que as suas propostas cheguem na época estival e por ir a banhos, não as venha a conhecer, O Ricardo Rio precisa de uma oposição forte, criativa e construtiva. O poder é melhor exercido no quadro de uma oposição forte. O Ricardo precisa de uma oposição . Eu faço parte do grupo que construiu a Coligação. Ganhamos um vereador ao PS. Recordo os meus companheiros, Rui Moreira, Acácio Brito Ramiro Brito, Sérgio Villan, Carlos Gomes. Estive oito anos ausente do debate político no fim de um ciclo, que se vai renovar com a eleição do Ricardo Rio, associo-me à sua reeleição, recordando o espírito de mudança que a sua vitória representou para a cidade. É um gesto de reconhecimento pelo balanço que faço.