Músico de Esposende ganha 50 mil dólares pela melhor ‘cover’ de Imagine Dragons

Nuno Casais venceu concurso internacional promovido pela banda norte-americana

Porque nunca conhecemos o que a vida nos reserva, o músico brasileiro Marcelo Camelo cantava a “estrada vai além do que se vê”. Aos 44 anos, e depois de 30 de carreira como músico, com muita “luta e ainda mais acreditar”, Nuno Casais, de Esposende, também ele músico, não vislumbrou para lá da curva que lhe traria um novo fôlego para continuar a fazer bem aquilo que gosta: atuar.

Pelo caminho, nunca desistiu, mesmo quando “as coisas não estavam fáceis”. Com ‘zero’ expectativas, submeteu duas ‘covers’ da banda norte-americana Imagine Dragons para um concurso internacional promovido pelo grupo e, esta segunda-feira, foi anunciado como vencedor, por entre 120 outros concorrentes, todos estrangeiros, arrecadando o prémio de 50 mil dólares (43.360 euros de acordo com a informação de câmbio desta terça-feira).

Imagem de reprodução do site de Imagine Dragons

Nascido em Apúlia, Nuno começou desde cedo a dedicar-se à música, e também cedo percebeu que a estrada era uma boa solução para continuar a fazer aquilo que gostava e ser independente financeiramente com esse mesmo trabalho. “Uma forma de vida”, diz a O MINHO, após contacto telefónico nesta terça-feira. As atuações em bares levaram-no pelo caminho das ‘covers’, de uma forma “quase natural”. “É inevitável, quando escolhemos esse caminho, ficámos ligados às versões”, sustenta.

Mas foram as versões que lhe trouxeram um novo ânimo durante a pandemia, enquanto a Cultura estava a ser trucidada com a não realização de espectáculos. Nuno aventurou-se nas redes sociais, sobretudo no YouTube, e começou a atuar em direto, durante várias horas, com mais de 100 concertos online. E os fãs aderiram, tornando-se subscritores. A partir daí, com o dinheiro que foi ganhando, investiu em melhorar as condições de produção e transmissão do estúdio caseiro. E assim também melhorou a produção das ‘covers’ que gravava.

“Foi uma boa alternativa para o facto de ter ficado sem trabalho, fechado em casa, e foi o que me ajudou a impulsionar o canal do YouTube, já consigo ganhar algum dinheiro com isso. Basicamente cerca de 70% do que faço gira à volta de versões feitas com o meu cunho próprio”, explica.

“Já tinha feito a versão antes de saber da existência do concurso, foi só fazer ‘upload’”

Sobre a versão da música Wrecked que lhe valeu a vitória no concurso internacional, Nuno classifica “tudo” como um golpe de sorte. Como a filha gostava da banda, fez versões de dois temas do novo álbum que saíram em julho (o álbum completo só saiu em setembro), mas ainda antes de se saber da existência de qualquer concurso.

“Eu nessa altura tive sorte – porque não foi mais nada do que sorte – de ter tido a ideia de pegar naqueles temas e fazer dois ‘covers’ dentro daquilo que eu faço, que é livelooping”. Ou seja, com recurso a máquinas, grava e reproduz em tempo real, durante o concerto ao vivo.

Nuno Casais ao vivo. Foto cedida a O MINHO

“Em setembro anunciaram o concurso e eu só tive de fazer o ‘upload’, com expectativas iguais aos últimos dois anos, desde a pandemia, ou seja, não estava a contar com nada, zero. Mas as coisas surgiram. Tive o apoio massivo da minha zona [na votação], a palavra foi espalhando e foi muito gratificante ver o apoio das pessoas. Acho que esse é que é o verdadeiro prémio, e não o dinheiro”, considerou.

“O nosso tempo já lá foi? Isto veio provar o contrário”

E o prémio já tem destinos. Um deles é uma causa solidária, que Nuno prefere não revelar, pois ficará com ela “no coração”. Outro prende-se com orientar os estudos da filha, “uma grande ajuda”. O restante, será para “coisas pequenas que façam falta”, mas confessa já pensar em comprar material para, quando regressar à estrada – e é sempre a estrada -, não ter de desmontar o estúdio caseiro para utilizar nos concertos em bares.

Outro dos objetivos que pensa em cumprir, agora que até está a ganhar notoriedade graças ao canal de YouTube e a ter vencido o concurso, é completar um segundo álbum de originais, que ficou “adiado” em 2015, com apenas quatro músicas. Anteriormente, já havia gravado um disco em nome próprio, “Autoretrato”, em 2006. Mas a estrada levou-o para as versões de músicas de autor, e agora parece querer trazê-lo de volta a um destino que ficou por cumprir.

Nuno confessa que, aos 44 anos, pensa-se muitas vezes que “o nosso tempo já lá foi”, e isso é “meio caminho andado para desanimar”. “Mas o que aconteceu nestes dias veio provar o contrário”, sustenta.

“Houve uma grande lição que aprendi, isto relacionado com as redes sociais, porque um sujeito de 44 anos não costuma dominar estas tecnologias, e eu consegui fazer delas uma ferramenta de trabalho, onde tive de investir, arriscar, porque, como lhe digo, este é o meu emprego, e fiquei sem ele na pandemia”, explicou, considerando ter encontrado “um sítio onde podia pelo menos manter a sanidade mental e continuar a trabalhar naquilo” que ama. “Sei fazer outras coisas, mas não sou feliz a fazê-las, e aos 44 anos ainda menos”, concluiu.

Sobre conhecer a banda Imagine Dragons, Nuno Casais repete o mote: “Zero expectativas”. Mas pode ser que se concretize. Agora, manterá a monetização do canal de YouTube, e prepara-se para regressar aos concertos ao vivo,  rumo à estrada que “vai além do que se vê”, como canta Marcelo Camelo.

 
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