Já deve ter reparado no pequeno vídeo que encabeça a página de Facebook de O MINHO. Faz parte de um projeto chamado “Amar o Minho”, tem já três milhões e 125 mil visualizações e 64 mil partilhas. No O MINHO foi colocado duas vezes com quase 400 mil visualizações no total.
São quatro minutos, só com música e imagens. Foi uma encomenda do consórcio ‘Minho IN’, que juntou 24 municípios das três Comunidades Intermunicipais Municipais.
O realizador e responsável pelas filmagens é Martin Dale, um britânico que está há mais de 20 anos em Portugal, que assentou arraiais em Arcos de Valdevez e é professor na Universidade do Minho.
“A nossa preocupação nesse filme foi explorar e mostrar a identidade desses Municípios num espaço muito curto de tempo”, começa por explicar a O MINHO.
A logística não “foi fácil” porque “é preciso perceber o que vamos condensar para que as pessoas se identifiquem com o filme”.
“Sendo eu britânico, apesar de morar cá há muitos anos, tenho uma visão por dentro e por fora. De fora digo que o português tem um lado esquizofrénico, tem um espírito pouco associativo, gosta da sua independência, alguns com problemas com os concelhos vizinhos mas ao mesmo tempo tem um lado solidário e identificam apaixonadamente com o território no seu todo, com um amor verdadeiro para o Minho e para Portugal”, refere Martin Dale.
Partindo desta ideia “é preciso criar algo com que todas as pessoas se identifiquem. Temos que ir à raiz minhota e transmitir a alma e identidade desses locais”. A dificuldade aumenta quando é preciso comunicar em pouco tempo.
“Os elementos mais emblemáticos são os mais relevantes mas temos que fazer de forma a envolver o espectador. Isso tem a ver com as técnicas de filmagem e hoje temos técnicas que não existiam antes, como os drones”.
Mas não chega só usar drones, até porque “vemos os locais com uma determinada distância, com planos abertos. Nos meus filmes tem que haver uma componente terrestre onde há movimentos da câmara perto das pessoas, dado que pretendemos criar a sensação que estamos ao lado delas”.
Martin Dale também quis fugir dos clichés ‘centralistas’ e da imagem que os meios de comunicação social mais tradicionais, sediados em Lisboa, dão destas zonas.
“A tendência é apresentar uma visão algo cliché, muito na base do tradicional, do rancho, dos trajes tradicionais etc. Esta abordagem reforça a ideia que Lisboa é o centro do espírito de modernidade em Portugal”.
Mas a realidade é outra: “quem vive numa zona como o Minho tem a noção que existe um espírito moderno e ‘Atlântico’ que não se encontra em muitas outras partes do país, que tem raízes históricas e que é também influenciada pela relação de proximidade com a Galiza”.
Daí que Martin Dale tente “mostrar o lado tradicional que faz parte da alma minhota mas também refletir este espírito mais moderno, seja nos temas retratados seja nas técnicas de filmagem. Acho que é isto que ajuda na circulação dos trabalhos”.
Outros trabalhos
O vídeo “Uma Viagem ao Minho”, com locução, tem mais que 1,5 milhões de visualizações e mais não é do que um vídeo mais extenso do “Amar o Minho”.
Martin Dale atualmente tem em mãos o projeto ‘Rewilding no Alto Minho’ que irá mostrar um lado “mais selvagem e natural” da região. A finalizar está um vídeo de 4/5 minutos, com locução, sobre o Santuário de Bom Jesus feito para a Confraria, no âmbito da candidatura à UNESCO. O primeiro filme curto com música já está disponível online.
Um outro projeto seu foi produzido para o Município de Valongo e a Universidade do Minho, no âmbito de um estudo em curso sobre a Festa da Bugiada e da Mouriscada para efeitos de uma eventual Candidatura a Património Cultural Imaterial da UNESCO.
“Estes projetos foram trabalhos de equipa nos quais eu tinha responsabilidade da realização dos vídeos. Mas é importante frisar que este projeto foi muito mais vasto do que a produção vídeo”.
Prémios
Martin Dale ganhou o prémio para o “Melhor filme do Porto e Norte” no âmbito do festival Art&Tur nos últimos três anos, 2016, 2017 e 2018. A grande reportagem da Peneda-Geres Trail Adventure 2017 no Art&Tur e o “Minho Road Trip” no festival Arrábida – Finisterra em 2018, foram mais alguns dos galardoados.
Quem é Martin Dale
Britânico de nascimento, tem criado a sua família, com duas filhas, em Arcos de Valdevez. “Eu estava a morar em Paris onde conheci bem a comunidade portuguesa, sobretudo, aquela ligada ao cinema”. Depois disso foi convidado para dar aulas de cinema em Lisboa, “numa escola que se chama Aula do Risco, e fui conhecendo melhor o país e acabei por me apaixonar por Portugal. Aprendi a língua e cá estou há 20 anos”.
Estudou em Oxford na área de Filosofia, Política e Economia. Depois teve uma bolsa para estudar na Universidade de Pensilvânia, Filadélfia, nos Estados Unidos onde prosseguiu estudos de mestrado em Comunicação.
“Comecei a trabalhar mais nesta área do audiovisual que é transversal porque não podemos falar só de cinema, sobretudo, hoje em dia, com o digital”.
Quando realiza um filme “o que me interessa mais é o espírito cinematográfico, que seja uma experiência para o espectador, que seja ao mesmo tempo algo que transportarmos para fora de nós e um encontro dentro de nós. E por isso, para mim, não me interessa se é um filme de cinema ou um filme de internet”.
Depois do mestrado voltou para Londres onde trabalhou na produção e pós-produção de filmes para o Channel 4 e alguns filmes promocionais. Obtém uma bolsa para Paris e é por esta altura que escreve um livro sobre o cinema europeu, ‘Europa, Europa’, “com alguma projeção na altura”. Mais tarde, escreveria outro livro, ‘The Movie Game’ sobre como funciona a indústria cinematográfica em pormenor, tanto nos Estados Unidos como na Europa.
Há mais de 20 anos que colabora com a revista ‘Variety’, foi consultor em projetos pontuais para a BBC e empresas de comunicação. Foi convidado para trabalhar no Instituto de Cinema Português, como assessor do presidente, onde acompanhou a política nacional acabando, há cerca de 10 anos, por fazer um estudo sobre o setor e definir linhas estratégicas.
Universidade do Minho
A Universidade do Minho, em Braga, surge a partir da altura em que Martin Dale se escreveu no Doutoramento: “devo terminar este ano”. Foi convidado para ser assistente e integra o atual corpo docente.
“Existe a vontade para reforçar, dentro da própria Universidade a oferta na área do audiovisual, do multimédia, reforçando os recursos, o número de alunos e o corpo docente. É uma área onde existe espaço para aumentar a oferta e o interesse dos alunos tem vindo a crescer”, refere o professor universitário.
Este reforço já originou dois projetos assinados com o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, do ICS, um deles, em 2013 com a CIM do Ave composto por 18 vídeos sobre os oito Municípios.
O seu papel dentro da equipa docente passa por “tentar reforçar a envolvência dos alunos com o mundo exterior, seja através de festivais, seja através da internet onde conseguem chegar a um público mais vasto”.
“Eu próprio tenho tido uma aprendizagem com estas novas redes, partilho as ideias e aprendo muito com os alunos”. Os resultados estão à vista com a participação todos os anos no Fantasporto e em outros festivais, por exemplo no Brasil, através dos alunos de Erasmus.
Nas redes sociais, “temos incentivado a que os alunos coloquem os seus filmes nas plataformas digitais e vemos cada vez mais partilhas”.