O Safari Club International (SCI) lamentou hoje a suspensão das jornadas de que era coorganizador em Arcos de Valdevez após protestos do FAPAS, por considerar “pertinente” o debate sobre a “eventual exploração cinegética” no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG).
Em causa estão as I Jornadas Internacionais sobre Sustentabilidade Económica dos Espaços Ordenados e Protegidos, previstas para os dias 13 e 14 de abril.
Na última sexta-feira foram suspensas pelo Clube Português de Monteiros, também da organização, por “razões técnicas”.
Dias antes da suspensão, em comunicado, o Fundo para a Proteção dos Animais Selvagens (FAPAS) pediu à Câmara de Arcos de Valdevez a anulação das jornadas, alegando serem “propaganda de caça”.
Em causa está a preservação da cabra-brava do Gerês, que o FAPAS diz ter sido dada como extinta em 1892 “devido ao excesso de caça” e que “regressou a Portugal” em 1998.
“Ao fim de 20 anos de repovoamento da espécie, já a querem caçar, provavelmente para a levar de novo à extinção”, frisou a organização ambientalista.
Hoje, em comunicado, o SCI explicou que “o principal objetivo do evento visava avaliar a Sustentabilidade Económica dos Espaços Ordenados e Protegidos e o estado atual do conhecimento sobre a cabra montesa (Capra pyrenaica) no território do PNPG com vista à sua, eventual, exploração cinegética de forma sustentada e equilibrada”.
A associação adianta que estava “garantida a participação de especialistas, nacionais e estrangeiros, conhecedores da dinâmica populacional da espécie, assim como da importância da sua exploração para as regiões onde ocorre”.
“Seria de todo essencial poder decidir como atuar em prol da conservação da natureza e da sustentabilidade económica do PNPG, com informação fidedigna e científica, e não o fazer com base em ideologias preconcebidas”.
A associação diz “continuar a acreditar que é de toda a pertinência a avaliação desta temática de forma fundamentada e organizada”, por considerar “que a atividade cinegética, desde que praticada e suportada por planos de gestão, é uma ferramenta que não deve ser desprezada no controlo sanitário das espécies, na competição com exemplares domésticos, no incremento económico das regiões, entre outros fatores”.
“Aguardamos com serenidade que existam condições para debater a questão”, reforçou.
O SCI foi fundado em 1971 nos Estados Unidos e está presente em 187 países, contando com 55.000 sócios.
Na semana passada, em declarações à Lusa, o diretor do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Norte disse que a cabra-montês não pode ser caçada por ser espécie protegida e que é proibido caçar em mais de dois terços do Parque Peneda-Gerês.
Armando Loureiro explicou que a cabra-montês “não é uma raça cinegética” por estar classificada no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal como “Criticamente em Perigo”.
O responsável reforçou que, “em mais de dois terços do PNPG não é permitido caçar, sendo que aquela atividade apenas pode ser exercida nas zonas situadas na periferia do parque, em zonas organizadas e a espécies menores, como o coelho, perdiz, lebre, entre outras”.
CDS quer saber se Governo retirou apoio
O CDS-PP quer saber se o Governo retirou o apoio a umas jornadas organizadas por associações de caça que deveriam decorrer em Arcos de Valdevez e quais as razões dessa decisão, informou hoje o partido.
No requerimento enviado aos ministros do Ambiente e Transição Energética e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, os deputados Patrícia Fonseca, Ilda Araújo Novo e Hélder Amaral querem saber “se é, ou não, verdade que o objetivo das jornadas era avaliar o estado atual do conhecimento sobre a cabra-montês, em Portugal e Espanha, e não alterar o ordenamento de caça no Parque Nacional da Peneda-Gerês, definido e estável há mais de 20 anos”.
O CDS questiona ainda o ministro do Ambiente e Transição Energética e secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural sobre se era intenção do Ministério tutelado por Matos Fernandes, “participar nas jornadas e se em algum momento foi comunicado à organização que não iriam, afinal, estar presentes e qual o motivo apresentado”.
“Contrariamente ao que algumas associações ditas ambientalistas começaram a querer fazer crer, não se tratava de umas jornadas de caça, mas de umas jornadas técnicas para debater um tema que, eventualmente, também envolve caça”, sustentam os deputados do CDS-PP.
Na nota, o CDS adianta que, “durante o último debate quinzenal, o primeiro-ministro foi questionado sobre o assunto, apresentado como sendo uma situação muito grave com o objetivo de se voltar a caçar a cabra-montês, tendo então respondido que nenhum membro do Governo apadrinharia ou estaria presente no evento”.
“O CDS-PP considera esta uma postura grave por parte do Governo, em especial do primeiro-ministro, demonstrando uma clara cedência à imposição de uma cultura do gosto por parte de algumas bancadas parlamentares, como já aconteceu noutras ocasiões e em relação a outros assuntos”, sustenta o partido.
Para o CDS-PP, “não sendo a caça o objetivo final das jornadas, o Governo parece ignorar que, desde que devidamente enquadrada na lei e na preservação da natureza, a caça é uma atividade de grande relevância económica”.
“A presença atual de um importante efetivo de cabra-montês – proveniente de Espanha e em crescimento constante -, no território que abrange diversos Municípios que integram o PNPG, é um facto novo e muito significativo para as populações envolvidas, e merece ser alvo de análise e ponderação por parte de todos os envolvidos, até para proteção da própria espécie”, referem.
O PNPG foi criado em 1971 e é a única área protegida no país com a classificação de parque nacional.