A Biblioteca Municipal de Amares acolheu a apresentação da mais recente edição da “Praça da Canção” de Manuel Alegre, que assinala os 50 anos da sua primeira publicação.
Há cinco décadas chegou às livrarias nacionais um livro que acabaria por se tornar uma referência na literatura. Esteve para se chamar “País de Abril” mas acabou por ficar com o título “Praça da Canção”.
Num estilo poético, então considerado inovador, narrava as histórias de sofrimento e de morte dos soldados portugueses em África e a exaltação dos heróis portugueses de então.
Manuel Alegre, o seu autor, admitiu que o que escreveu é fruto das suas vivências e deu a sua perspetiva do sucesso da publicação passados 50 anos:
“É muito difícil falar sobre aquilo que se escreveu mas não há dúvida que a Praça da Canção se tornou um livro mítico. Muitas vezes me perguntam o porquê do sucesso da Praça da Canção e eu não sei exatamente responder porque como dizia a minha amiga Sofia a poesia não se explica, implica. E aquilo foi um livro que implicou”.
“A poesia é capaz de exprimir o indizível. Eu creio que a “Praça da Canção” exprimiu o mal português que estava dentro das pessoas: a ditadura, a tristeza, o pais amarfanhado, a guerra colonial, e exprimiu isso poeticamente. Exprimiu o anseio de liberdade que estava dentro dos portugueses e uma rebeldia contra a usurpação da palavra pátria que era quase uma palavra mal vista”, acrescentou.
Na ocasião, Manuel Alegre falou, ainda, da sua mais recente obra, intitulada “Bairro Ocidental”.
“É um livro que exprime, poeticamente, um mal português integrado num mal europeu. É um livro de mágoa e de rebeldia. Eu não me resigno a que Portugal seja um bairro no Ocidente, na Europa, uma espécie de junta de freguesia da Europa, nem me resigno a que Europa seja aquilo que é hoje que é o contrário de si mesma, um tratado orçamental, onde os mercados se sobrepõem aos estados, à democracia, aos povos, países e pessoas”.
José Manuel Mendes, também escritor e amigo de Manuel Alegre, a quem coube apresentação da obra, deixou transparecer de forma afável a admiração que sente pelo autor.
“Nós somos mais do que aquilo que pensamos e Manuel Alegre é um ser maior. É acima de tudo, e desde sempre, um poeta, um narrador, uma figura da literatura que nasceu para que a sua voz perdure e o exemplo mais notório é o que se nos oferece com os 50 anos da “Praça da Canção”.
Uma obra que, na opinião de José Manuel Mendes, o tempo “não fez envelhecer”, que perdura de geração em geração ganhando novos sentidos.
“Pode escrever-se poesia com todas as matérias e em alguns casos é imperioso que se escreva poesia com a história, com a realidade coletiva, com o que nos convoca em nome de valores e princípios que se tornam verdadeiramente vitais”, destacou, referindo-se à “Praça da Canção”.
O vereador do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Amares, Jorge Tinoco, responsável pela abertura da sessão, endereçou elogiadas palavras a Manuel Alegre, referindo-se ao livro do autor “como um clássico pela qualidade literária e porque a liberdade será sempre um valor intemporal sobre o qual faz todo o sentido continuar a refletir e comemorar”.