Um bombeiro sapador queixa-se que não podia utilizar o ginásio da corporação ou almoçar junto dos colegas porque o comandante não permitia. Outro afirma ter pedido para acumular funções profissionais que em nada colidiam com a atividade de bombeiro, mas nunca obteve resposta formal do comandante se era autorizado ou não a iniciar o seu negócio. Um outro, já reformado devido ao que apelida de “mau ambiente”, recebeu as férias a triplicar numa indemnização da Câmara por não lhe terem sido aplicados corretamente os dias de férias, também autorizados pelo comandante.
Perto de metade dos 68 elementos do corpo ativo e profissional da Companhia de Bombeiros Sapadores de Viana do Castelo protestou hoje no centro da cidade, contra aquilo a que chama discriminação do comandante e incapacidade e falta de vontade do presidente da Câmara para resolver a situação.
No total, colocaram 68 velas, uma por cada elemento, e uma coroa de flores, junto ao Monumento de Homenagem ao Bombeiro, simbolizando “um voto de pesar e um lamento pelo facto do presidente da Câmara não ter tido nestes últimos anos a iniciativa de conversar com os bombeiros, ouvir as suas inquietudes e queixas, porque esta situação já se arrasta há cerca de três anos”, disse a O MINHO Ludovina Sousa, coordenadora distrital do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL).




Desde 22 de março, data de aniversário da companhia, que a responsável sindical acompanha e apoia estas ações de rua, que culminaram num desfile no 1.º de Maio, com metade da corporação a aderir. Ludovina afirma que existem “situações graves lá dentro e das quais o senhor presidente da Câmara se demitiu da responsabilidade como dirigente máximo do serviço e representante maior da proteção civil local”.
“No fundo, este gesto foi um protesto, um lamento dos trabalhadores pela falta de consideração e pela postura do presidente da Câmara, porque não era necessário ter chegado aqui se tivesse ouvido as queixas dos trabalhadores, pois é com o diálogo que as coisas se resolvem, e ele sempre se recusou a fazê-lo”, considerou.
Sindicato coloca cartazes em frente à Câmara de Viana a denunciar assédio nos Sapadores
No passado dia 11 de março, um total de 31 bombeiros assinou um documento que foi entregue ao autarca José Maria Costa (PS), denunciando “atitudes ditatoriais, discriminatórias e persecutórias do comandante” exigindo “que se ponha cobro às situações descritas”. A resposta do autarca foi enviar o documento para o Ministério Público para ser analisado e processar judicialmente o sindicato por falsas declarações à imprensa.



“Este processo arrasta-se há vários anos, o senhor comandante não consegue ser uma pessoa imparcial no tratamento com os homens que comanda. Ele favorece uns em detrimento de outros, em coisas que até são simples, mas são continuadas, como as formações que só existem para alguns e nunca para outros. Alguns dos formandos nem sequer podem usar esses conhecimentos no terreno porque não têm graduação para tal, ao contrário de outros que ficam sistematicamente de fora”, denuncia Ludovina.
De acordo com a sindicalista, os bombeiros querem “que se regularize as situações”, independentemente da continuidade ou não do comandante António Cruz. “Ele não tem de gostar dos trabalhadores, tem é de cumprir enquanto comandante e ter um tratamento igual para todos, sem prejudicar na evolução profissional. E o senhor presidente sabe disso através de ofícios e reuniões presenciais, e pura e simplesmente deixa andar”, afirma.


Também a vereadora da CDU, Cláudia Marinho, pediu ao presidente da Câmara para reunir com os bombeiros, pedido que terá sido um compromisso não cumprido por parte de José Maria Costa, e que ajudou a motivar a continuidade destas ações de rua levadas a cabo pelos trabalhadores.
Presidente da Câmara processa sindicato
O sindicato processou o comandante, que ainda não se pronunciou publicamente sobre este tema, motivando uma reação por parte de José Maria Costa, à agência Lusa: “Não temos tido nenhuma razão de queixa, até ao momento, na forma e organização da corporação. Sabemos que há sempre uma ou outra reclamação, que é natural do ponto de vista sindical, a que temos procurado dar acolhimento. Mantenho a confiança no comandante António Cruz. Não tenho razão para o contrário”, disse o autarca.
Entretanto, José Maria Costa decidiu avançar com um processo a cargo do Município, e contra o sindicato, entendendo “que tais afirmações não correspondendo à verdade, podem consubstanciar um crime de difamação, pondo em causa o bom nome do município de Viana do Castelo e da companhia dos Bombeiros Sapadores”.
José Maria Costa realçou “a gravidade dos factos plasmados nas notícias, veiculados pelo STAL”, informando que iria apresentar participação junto do Ministério Público para averiguação as declarações do sindicato e do teor do abaixo-assinado.
Com 242 anos de existência, os antigos Bombeiros Municipais de Viana do Castelo passaram, em 2019, a designar-se Companhia de Bombeiros Sapadores.
A decisão foi tomada, por unanimidade pela Câmara de Viana do Castelo, dando cumprimento ao Decreto-Lei Nº 86/2019.