A Agência Espacial Portuguesa (Portugal Space) iniciou hoje as inscrições para a segunda edição do “Astronauta por um dia”, que no ano passado levou 30 jovens, de entre os quais quatro estudantes do Minho, para um voo parabólico, onde puderam experimentar a gravidade zero.
O MINHO conversou com um deles, que é também embaixador da iniciativa para este ano.
Ricardo Portela Martins, residente em Cervães, Vila Verde, hoje com 16 anos, foi um dos 30 selecionados entre cerca de 500 candidatos para a primeira edição. Apaixonado pelo espaço desde miúdo, o estudante pretende ser engenheiro aeroespacial, e viu a oportunidade de realizar o voo parabólico como uma chance única.
“Mal soube da iniciativa e captou logo o meu interesse”, disse Ricardo. “É extremamente difícil de descrever, não dá para ter noção. Eu tinha expetativas, mas superou tudo que estava à espera. Sentimo-nos livres mesmo, é uma sensação diferente e de liberdade, foi espetacular. Fizemos diferentes atividades, como ver líquidos em gravidade zero a flutuar. Juntámos todos e depois rodamos, depois jogamos bolas, que ficavam sempre a flutuar”.
No ano passado, o voo fretado pela Portugal Space foi feito por um avião Airbus A310, que simulou a ausência de gravidade que existe no espaço a partir de manobras de ascensão e queda-livre (parábolas) executadas pela aeronave que permitem aos passageiros flutuar no seu interior em ciclos de cerca de 20 a 25 segundos.
Os 30 jovens selecionados puderam experimentar três tipos diferentes de gravidades: a da Lua, a de Marte e zero.
“Começámos com um processo de aclimatização. Primeiro fizemos a de Marte, uma parábola, depois foram duas parábolas da Lua, que é mais leve, quase não sentimos o corpo, e depois mais 13 parábolas em gravidade zero. O avião sobe a cerca de 45 graus, neste momento sentimos 2G, o dobro do nosso peso, somos puxados para baixo. Depois o avião sobe a pique, desligam os motores, cai a pique, e quando voltamos a atingir os 45 graus, mas para baixo, ficamos em gravidade zero, ou de Marte ou da Lua”.
Ricardo lembra também que o processo seletivo e o convívio fazem parte da experiência. Este momento é dividido em quatro fases, entre vídeo de apresentação, produção de textos, testes psicotécnicos, provas físicas, provas de equilíbrio, e até uma entrevista com três júris. “Todo o processo de seleção de certa forma já nos prepara para o futuro. São quatro fases de seleção baseadas no processo verdadeiro dos astronautas. Acho que nos prepara para o futuro na medida que quando formos mais velhos, vamos ser submetidos a entrevistas de emprego, e até a fase final foi com uma entrevista”, reflete.
Para o jovem aspirante a engenheiro aeroespacial, a melhor parte do processo seletivo foi a terceira, quando teve contacto com outros candidatos. “Demos logo muito bem nas provas, enquanto podíamos, já falávamos, a partilhar a experiência e ficamos a manter contato entre nós, a perguntar como estavam a correr as outras fases”, lembra.
Na primeira edição foram 500 candidaturas. Segundo informa Ricardo, este número já foi alcançado para este ano ainda na fase de pré-inscrições. O jovem vilaverdense tem agora a missão de passar para outros estudantes como foi a aventura e tentar atrair outros estudantes.
“A intenção deste projeto é mesmo desenvolver a área em Portugal. No entanto não é só ser astronauta, há todas as áreas relacionadas, o astronauta não vai à Lua sozinho, há desde engenheiros, médicos, toda uma área envolvente”, disse.
Agora com o título de embaixador, Ricardo transmite a experiência através de palestras, redes sociais e imprensa, e tenta desmistificar a ideia de que é uma área inacessível, ou que é apenas para interessados em ciências e tecnologias, ou até que é voltada para rapazes.
“Toda a gente deve experimentar, porque mesmo que não chegue até ao fim, é uma grande experiência”, garante.
Para realizar a inscrição, os candidatos devem entrar no site do Zero-G Portugal, preencher a ficha e enviar um vídeo de apresentação do participante e da motivação com no máximo 45 segundos.