É totalmente proibida a circulação de veículos movidos a motor na via ciclopedonal Famalicão-Póvoa de Varzim, mas isso não impede que muitos condutores ‘furem’ a lei. Na passada quarta-feira, em Terroso, Póvoa de Varzim, um carro de marca Jaguar foi ‘apanhado’ a percorrer uma pequena extensão daquela via junto ao posto de combustível da BP.
O caso foi exposto pela página de Facebook “Estacionamentos selvagens na Póvoa de Varzim”.
O MINHO falou com Carlos Maçães, presidente da Junta de Aver-o-Mar, Amorim e Terroso, e este admitiu que não estava a par da situação, mas adiantou que já não é a primeira vez que acontecem casos destes, apontando o dedo a pessoas que derrubam os mecos de segurança.
Fonte da Câmara da Póvoa de Varzim, através da sua Polícia Municipal, garantiu estarem a ser tomadas medidas para reforço de vigilância em alguns pontos, confirmando que em alguns acessos a caminhos de servidão existe abuso por parte dos condutores.
É recorrente
Em novembro de 2021, na freguesia de S. Pedro de Rates, um carro estacionou durante mais de uma hora na ciclovia, enquanto foi ao cemitério. O condutor terá aproveitado o facto de um dos pinos de proteção de entrada na ciclovia ter sido vandalizado e entrou com toda a força naquela infraestrutura reservada a ciclistas e peões.
O MINHO falou na ocasião com o presidente da Junta de S. Pedro de Rates, Paulo João Silva, e este explicou que “terá sido alguém de fora da freguesia que se deslocou ao cemitério, porque aqui fazemos a romagem ao cemitério no domingo seguinte ao Dia de Todos os Santos” “Um dos pinos foi vandalizado e o senhor ou senhora deve ter visto oportunidade de estacionar ali e assim o fez”, disse o autarca.
Muita utilização, mas faltam pormenores importantes
Há quem a faça por lazer, para treinar ou até para desenvolver a mobilidade. A via ciclopedonal que liga Famalicão à Póvoa de Varzim, inaugurada em julho de 2021, tem acolhido milhares de utentes, sobretudo ao fim de semana, onde a movimentação é constante.
Treino, lazer, terapia ou cumprir promessas: Ciclovia Famalicão-Póvoa é para todos
Ainda este domingo, perto de uma centena de pessoas realizaram um passeio de bicicleta para mascarados, de forma a assinalar a celebração do Carnaval, percorrendo a extensão correspondente ao concelho de Famalicão.
A ciclovia ainda não estará concluída em termos de sinaléticas e barreiras, faltando implementar, por exemplo, semáforos em algumas confluências com estradas nacionais. A saída de Balasar, diretamente para cima de um passeio e forçando o atravassamento de uma rotunda é outro ‘obstáculo’ bastante criticado pelos utilizadores, e que deverá ter resolução no futuro.
Obra de milhões
A obra da via ciclável e pedonal Famalicão-Póvoa de Varzim teve um custo total de 4.333.644,27 euros e beneficiou de um cofinanciamento FEDER no âmbito do Programa Operacional Norte 2020 no valor de 3.683.598,63 euros.
Com uma extensão de perto de 27 quilómetros (onze deles no concelho famalicense), atravessa as freguesias de Famalicão, Brufe, Louro, Outiz, Cavalões e Gondifelos, seguindo depois no concelho da Póvoa de Varzim até à margem litoral.
O antigo trajeto dos comboios, que encerrou em 1995, deu lugar às pessoas que a pé ou de bicicleta podem desfrutar de um percurso com rio, árvores, campos, passadiços, hortas e animais.
Tem iluminação pública LED em toda a sua extensão e está pavimentada com asfalto e pintura a distinguir os espaços para peões e bicicletas.
Abrange diretamente cerca de 80 mil habitantes e reabilitou cerca de 170 metros quadrados de espaços verdes.
Foram plantadas 281 novas árvores e criados sete lugares de estacionamento para deficientes.
A nível ambiental, é esperada a redução de emissões de CO2 em 13.555 toneladas até 2023.
Pode voltar a ser linha de comboio
A via ciclopedonal Famalicão-Póvoa de Varzim, assim como a via cicloturística Fafe-Guimarães, podem voltar a funcionar como linha ferroviária no âmbito do novo Plano Ferroviário Nacional (PFN).
Na apresentação do projeto do PFN, em novembro, foi assinalada a intenção de unir as cidades de Póvoa de Varzim e Famalicão através do chamado “Sistema de Mobilidade Ligeira do Cávado-Ave”.
No documento, consultado por O MINHO, é salientado que “há dois troços desativados de antiga linha férrea que podem ser reaproveitados para um novo sistema de mobilidade ligeira, o troço que liga a Póvoa de Varzim a Famalicão e o que liga Guimarães a Fafe”.
Ciclovias Famalicão-Póvoa e Fafe-Guimarães podem voltar a ter comboio
Em relação à atual via pedonal e ciclável que une Famalicão e Póvoa de Varzim, o plano salvaguarda, inicialmente, uma eventual transformação, apontando para uma solução que poderá ser por estrada – do género de um autocarro – mas que terá sempre de evoluir para um sistema de ferrovia. E é aí que entra a via ciclo pedonal.
“A solução evolutiva permite que mais cedo e com um investimento inicial mais modesto se possa criar um transporte coletivo de qualidade onde hoje não existe nada, captando tráfego e ocupando o espaço-canal necessário ao futuro sistema ferroviário”, é dito no relatório.