Há quem a faça por lazer, para treinar ou até para desenvolver a mobilidade. A via ciclopedonal que liga Famalicão à Póvoa de Varzim, inaugurada em julho de 2021, tem acolhido milhares de utentes, sobretudo ao fim de semana, onde a movimentação é constante. A partir do antigo apeadeiro de Gondifelos, O MINHO falou, esta manhã de domingo, com vários utilizadores do espaço, e constatou que cada um à sua maneira, e vindos de diferentes locais da região, a utilizam por motivos vários.
Alexandre Oliveira e o filho vieram de Ronfe, concelho de Guimarães. A nossa reportagem encontrou-se com a dupla no bar do posto de abastecimento da Repsol, que tem lugar privilegiado de acesso, assim como locais de estacionamento para quem ali quiser iniciar ou terminar o percurso.
“Acho que está bem construída, aproveitaram bem a linha ferroviária. Foi uma boa aposta que recuperou esta zona”, considera Alexandre, que descansava com o filho ao fim de alguns quilómetros percorridos, para pouco depois regressar pelo percurso inverso.
“Em Guimarães não há muitas alternativas, acho. Embora exista a ciclovia que liga a Fafe, dentro do nosso concelho não há grandes alternativas. Ou venho por esta ou vou pela de Fafe. E vou variando”, salientou, enquanto, em conjunto com o filho, voltou a montar a bicicleta para regressar a Guimarães.
Ricardo Campos, de Lemenhe, concelho de Famalicão, usa a estrutura neste domingo de manhã porque “permite fazer um bom treino” e porque está “um ótimo sol”.
A trabalhar como Data Analyst Business Sports, é atleta federado de OCR (obstáculos), participando em provas nacionais e internacionais graças ao clube NAUS OCR, sediado na quinta do Conde, em Sesimbra, mas gosta de praticar na via ciclopedonal de Famalicão.
“Apesar de termos de nos cruzar com carros de vez em quando, a verdade é que não temos de nos preocupar muito, porque é uma zona destinada a lazer e desporto, com vários quilómetros, que permite fazer treinos curtos e longos”, considerou o atleta de 26 anos.
Ricardo parava num dos diversos bancos de apoio que se estendem ao longo da ciclovia, para recuperar forças e “beber uma águazinha”. “Depois vou para casa”, afirmou.
João Costa, de Calendário, concelho de Famalicão habitualmente frequenta a estrutura de bicicleta, mas este domingo veio com a filha, que tem problemas de mobilidade, para fazer algum exercício.
“Venho para Gondifelos porque é uma zona mais solarenga, mais plana e tem espaço para estacionar. Como a minha filha tem problemas de mobilidade, para passar do carro para aqui, este é um dos melhores sítios”, explicou.
João considera que a pista “é agradável e tem boas condições, tanto para andar a pé como de bicicleta”.
“É importante para exercitar problemas de mobilidade, pois não há muitos sítios como este. Foi uma boa aposta, um ótimo investimento”, finalizou, enquanto acompanhava a filha, a ritmo lento, pela zona pedonal da pista.
Luís Pedro e a esposa, residentes no centro da cidade de Braga, vieram cumprir uma promessa à Santa Alexandrina, e aproveitaram a entrada da pista em Famalicão para ir até Balazar, já no concelho da Póvoa de Varzim.
“Esta infraestrutura é importante, já cá tínhamos andado e gostámos. Se a ferrovia estava inativa, fizeram bem, foi uma boa aposta”, considerou o casal, lembrando que em Braga “já se aposta qualquer coisa”, mas esta “é mais a direito”.
Salientaram, no entanto, “um inconveniente”. “Atravessa algumas zonas de estrada, com trânsito a passar, mas eles [Câmaras] certamente vão resolver isso”, finalizaram, enquanto retomaram o rumo movidos pela fé.
Pedro e Nuno, da cidade de Famalicão, e Stefan, do Porto, regressam a casa pela ciclovia depois de uma manhã dedicada ao BTT, no monte. “Fazemos BTT ali por Santa Catarina, Gondifelos, e depois apanhámos a ciclovia para regressar a Famalicão, porque nos permite virmos mais relaxados, já com o treino feito, e até dá para ir conversando”. E, acrescenta o jornalista, tirar uma selfie.
“Não vejo nada muito mau nisto, há algum sítios onde cruza trânsito, mas não há grande hipótese para contornar essa situação, porque a linha do comboio atravessava os mesmos locais, talvez só com uns semáforos”, considerou Pedro.
E Nuno reforça: “Ali no Louro às vezes vamos na fé, porque tem curva e há condutores que às vezes andam a 100 à hora”. Mas “considera segura” a estrutura, com “muitas condições para andar a pé, de bicicleta, de patins ou até com carrinhos de bebé”.
Pedro concorda, mas deixa algumas sugestões que, aliás, já foram anunciadas por Mário Passos, presidente da Câmara de Famalicão. “Acho que devia haver mais bancos para descansar, mais recipientes do lixo e mais pontos de água ao longo do percurso. Mas para quem conheceu esta ciclovia, que não estava quase nada ciclável, isto teve uma melhoria espetacular, e o facto de ligar à Póvoa, dá para ir com a família, devagar, sempre com qualidade”, acrescentou.
“Bom seria conseguir ligar todas as ciclovias do país”, interrompeu Stefan, ao que Pedro respondeu: “Por acaso estão a fazer isso e tem vindo a evoluir”.
Nuno considera que a ciclovia com condições “tira pessoas do sistema de trânsito”: “Já há muita gente a ir trabalhar de bicicleta, eu cruzo-me com elas nas nacionais. É uma situação que tem lógica. Se houver alternativas à estrada, as pessoas aderem. Vejo grandes vantagens”, concluiu, enquanto os três se despediam da reportagem, regressando a Famalicão.
A obra da via ciclável e pedonal Famalicão-Póvoa de Varzim teve um custo total de 4.333.644,27 euros e beneficiou de um cofinanciamento FEDER no âmbito do Programa Operacional Norte 2020 no valor de 3.683.598,63 euros.
Com uma extensão de perto de 27 quilómetros (onze deles no concelho famalicense), atravessa as freguesias de Famalicão, Brufe, Louro, Outiz, Cavalões e Gondifelos, seguindo depois no concelho da Póvoa de Varzim até à margem litoral.
O antigo trajeto dos comboios, que encerrou em 1995, deu lugar às pessoas que a pé ou de bicicleta podem desfrutar de um percurso com rio, árvores, campos, passadiços, hortas e animais.
Tem iluminação pública LED em toda a sua extensão e está pavimentada com asfalto e pintura a distinguir os espaços para peões e bicicletas.
Abrange diretamente cerca de 80 mil habitantes e reabilitou cerca de 170 metros quadrados de espaços verdes.
Foram plantadas 281 novas árvores e criados sete lugares de estacionamento para deficientes.
A nível ambiental, é esperada a redução de emissões de CO2 em 13.555 toneladas até 2023.