Os três inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), um deles de Braga, que vão ser julgados pela morte, em março de 2020, de um imigrante ucraniano que estava à sua guarda no aeroporto de Lisboa, não vão admitir a prática do crime de homicídio.
Fonte ligada ao processo disse a O MINHO que a contestação à acusação, que cada um deles apresentará dentro de dias antes do começo do julgamento, refuta a tese do Ministério Público, a de que terão assassinado Ihor Homeniuk, de 40 anos, à pancada.
Luís Silva, casado e residente nos arredores de Braga, Bruno Sousa e Duarte Laja, que estão em prisão domiciliária desde 30 de março, vão ser julgados por homicídio qualificado. Luís Silva, que está em prisão domiciliária numa casa nos arredores de Braga e Duarte Laja responderão ainda pelo crime de posse de arma proibida.
O inspetor bracarense foi apanhado pelas câmaras de vídeo do sistema de vigilância do Aeroporto a dirigir-se para o quarto onde o ucraniano estava detido com um bastão extensível na mão, o que acusação considera ser prova de que iria espancar o imigrante.
Indemnização
Há dias, soube-se que a Provedora de Justiça decidiu que a viúva vai receber uma indemnização imediata de 712.950 euros, a que acrescente uma pensão para os dois filhos enquanto estes estiverem a estudar. Este montante inclui 50 mil euros para o pai da vítima.
O Ministério Público (MP) concluiu que foram as agressões dos três inspetores que provocaram a morte do ucraniano, casado e com dois filhos menores no seu país, o qual terá agonizado durante dez horas, devido a hematomas, fraturas nas costelas e no tórax que o impediam de respirar, provocados pela pancada de bastão e pelas botas.
A investigação do MP e da Polícia Judiciária ouviu cerca de 40 testemunhas, nomeadamente socorristas e seguranças em serviço no aeroporto que falaram com Ihor desde 10 de março, quando aterrou no Aeroporto Humberto Delgado e pediu para entrar em Portugal para vir trabalhar na agricultura, até ao momento da sua morte, pelas 18:40 de dia 12.
Gritos de sofrimento
Aliás, os testemunhos dos seguranças indicam que, durante os 20 minutos em que os agentes do SEF estiveram na sala onde estava Ihor, os seguranças ouviram gritos de sofrimento do ucraniano.
Um deles afirmou que os inspetores saíram a suar e que um deles terá dito “ele agora fica sossegado”, enquanto outro ironizava: “Hoje nem preciso de ir ao ginásio”.