O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, chegou hoje a Kiev numa missão de paz que incluirá um encontro com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, após uma reunião com o líder russo, Vladimir Putin, na terça-feira.
Guterres confirmou que há um acordo de princípio, que lhe foi dito pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, para criar cordões humanitários, mas o líder da ONU reconhece que não conseguiu convencer Putin a acabar com o guerra.
“As nossas posições têm sido claras, e eu disse em Moscovo, a Lavrov e a Putin, que para nós esta é uma invasão da Ucrânia pela Federação russa, que é contrária à carta da ONU, que viola a integridade da Ucrânia, e que deveria acabar o mais cedo possível”, disse Guterres aos jornalistas, esta quarta-feira, em Kiev.
“Eu mantive esta posição e voltei a reafirmá-la em Moscovo, mas dado que a questão de Mariupol estava paralisada, foi importante ter uma conversa séria com Putin sobre esta operação, e esperemos que seja possível encontrar modalidades práticas que satisfaçam as autoridades russas, ucranianas e os nossos princípios”, disse.
“Espero que um dia a paz regresse a estas terras, que bem precisam dela. nunca são conseguidos todos os objetivos, este é um processo… quantas pessoas falaram com Putin, e eu tenho a humildade de entender que posso dar um contributo mas também tenho a humildade de perceber que não consigo chegar a uma sala e convencer Putin de tudo aquilo em que acredito, mas que não corresponde à posição da Federação Russa”, disse.
Guterres esclareceu ainda que a integração da ONU nas negociações sobre o fim da guerra não aconteceu, porque não foi aceite o pedido para participar.
A Organização das Nações Unidas (ONU) atribuiu o facto de Guterres ter visitado Moscovo primeiramente a “uma questão logística”, apesar de a ordem das visitas não ter sido do agrado do Presidente ucraniano, com quem Guterres se encontrará na quinta-feira.
“A ordem das visitas foi uma questão de logística. As cartas foram enviadas aos dois Governos a partir de Nova Iorque. A Rússia respondeu primeiro e quando a resposta da Ucrânia chegou, agendamos esta visita”, explicou Saviano Andreu, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês).
Guterres entrou na Ucrânia na manhã de hoje através da fronteira com a Polónia e continuou a sua viagem para a capital ucraniana, Kiev, de carro, escoltado por seguranças da ONU e militares ucranianos.
Na sua viagem de centenas de quilómetros de automóvel para Kiev, o principal líder da ONU fez duas paragens pelo caminho.
António Guterres não só se encontrará com o Presidente Zelensky e com o seu ministro dos Negócios Estrangeiros Dmytro Kuleba, como também se reunirá com funcionários das agências da ONU para discutir “como otimizar a assistência humanitária ao povo da Ucrânia”, embora, por enquanto, não tenha revelado qual o local em que visitará as equipas no terreno.
Não houve comunicação entre a ONU e o Governo ucraniano após a reclamação de Zelensky sobre o facto de o secretário-geral da ONU ter visitado Moscovo primeiro. O chefe do governo ucraniano lembrou que era o seu país que estava a ser atacado e considerou que não era justo que Guterres se encontrasse primeiro com Putin.
O porta-voz do OCHA explicou à agência espanhola EFE que a viagem aos dois países é “uma missão de paz”. A ONU, disse Saviano Andreu, está a trabalhar para que “o terror e o horror nas áreas que estão a ser bombardeadas acabem o mais rápido possível” e para que “a ajuda humanitária possa chegar às pessoas que precisam”.
“Há muitas zonas da Ucrânia às quais podemos chegar, por exemplo a Mariupol ou a Kherson. É urgente que se consiga um acordo para corredores humanitários e que as pessoas que o necessitem possam ser evacuadas”, disse o porta-voz do braço humanitário da ONU.
“A guerra causou um número de mortes, de pessoas deslocadas e de nível de sofrimento humano inimaginável. Temos 25% da população da Ucrânia que precisa de ajuda humanitária por causa da guerra”, acrescentou Saviano Abreu.
Segundo afirmou, após os “acordos de Moscovo”, a ONU já se está a preparar e a coordenar para que essas evacuações e a entrada de bens alimentares sejam possíveis e ocorram o mais rápido possível, esperando que as reuniões de quinta-feira na Ucrânia possam dar mais frutos.
O presidente russo, Vladimir Putin, admitiu na terça-feira que a situação na cidade ucraniana de Mariupol, brutalmente sitiada há semanas pelo exército russo, é “trágica”.
Guterres propôs a criação de um Grupo de Contacto com a Rússia e a Ucrânia para “procurar possibilidades de abrir corredores humanitários seguros, com um cessar-fogo para garantir que sejam realmente eficazes” nas áreas da Ucrânia mais afetadas pelos combates.
Esta é a primeira viagem de Guterres aos dois países desde meados de fevereiro, quando a Rússia lançou uma guerra na Ucrânia, provocando o maior movimento de refugiados da Europa em décadas.
A ONU como um todo foi questionada durante a guerra na Ucrânia pela sua incapacidade de detê-la ou mesmo de conseguir uma trégua ou um acordo por “corredores humanitários”, principalmente devido ao poder de veto que a Rússia tem no Conselho de Segurança como um dos seus membros permanentes.