Três em cada quatro inquiridos num estudo nacional da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), hoje divulgado, não sabe os seus níveis de colesterol, desconhecimento que se acentua nas camadas mais jovens e diminui com a idade.
O estudo “Os Portugueses e o Colesterol 2023” realizado pela GFK Metris para a FPC vai ser divulgado hoje na apresentação da campanha da fundação “Maio, mês do coração”, que visa sensibilizar a população para a importância de proteger o seu coração, controlando os níveis de colesterol mau (LDL), um dos principais fatores de risco das doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, e dar a conhecer o estado atual da situação cardiovascular em Portugal.
Segundo o estudo, que decorreu em abril e envolveu 800 pessoas com 18 ou mais anos residentes no continente, 88% dos inquiridos com idades entre os 18 e os 24 anos desconhece o valor do seu colesterol, valor que desce para 86% nas idades entre os 25 e os 44 anos, para 66% entre os 45 e os 64 anos, subindo para 69% nos inquiridos com 65 ou mais anos.
A grande maioria (89%) sabe que o colesterol é uma gordura que circula no corpo das pessoas e 64% refere que o valor normal é inferior a 190 mg/dL.
De entre as doenças provocadas por colesterol elevado, 42% destaca o acidente vascular cerebral (AVC), 25% o enfarte miocárdio e 18% as doenças cardiovasculares. Como principal causa do enfarte miocárdio, 49% aponta o colesterol elevado e 32% a hipertensão.
Um terço dos inquiridos considera falso que alguns suplementos alimentares fazem melhor ao colesterol do que as estatinas que os médicos receitam e a quase totalidade rejeita a ideia de que “a prática regular do exercício físico não traz vantagens para quem tem o colesterol elevado” ou que “Os magros não têm que se preocupar com o colesterol. Isso é um problema dos gordos”.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da FPC, Manuel Carrageta, afirmou que o estado de saúde dos portugueses “piorou após a pandemia e as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte em Portugal”, sendo responsáveis por cerca de 30.000 mortes anualmente, quase um terço do total de óbitos.
Segundo a FPC, cerca de oito em cada 10 óbitos de causa cardiovascular que ocorrem antes dos 70 anos podem ser evitados.
A Fundação salienta que, em cada 15 minutos, morre uma pessoa por doença cardiovascular em Portugal, uma realidade que tem que ser revertida, alertando a sociedade para a urgência de considerar o colesterol como um fator determinante do risco cardiovascular, que se estiver controlado pode ajudar a reverter esta situação.
“Só o enfarte do miocárdio mata, em média, mais de duas pessoas por dia”, precisou o cardiologista, explicando que esta doença se deve em “grande parte” aos fatores de risco, nomeadamente o colesterol.
Segundo Manuel Carrageta, ainda há “um certo desconhecimento do seu significado, muitos mitos e muita controvérsia”.
“O colesterol elevado não causa sintomas e quando estes ocorrem já é sob a forma de eventos cardiovasculares no caso do enfarte do miocárdio”, alertou, lembrando um estudo da FPC que mostra que dois terços da população têm colesterol elevado.
Apontou também que outro estudo recente verificou que mais de 90% dos doentes com risco cardiovascular elevado e muito elevado não tem o colesterol nos valores recomendados e cerca de 20% dos doentes de muito alto risco não fazem qualquer medicação.
Manuel Carrageta salientou a importância do tratamento com estatinas, que assegurou serem “fármacos seguros e fundamentais” para reduzir estas doenças, ao contrário da ideia que “se criou na opinião pública”.
A FPC, a Portugal AVC e a Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca uniram-se para criar a Coligação Nação Invisível, que pretende alertar para a necessidade de se olhar para o impacto das doenças cardiovasculares na população e como ajudar na sua prevenção, assim como desenvolver um programa de ações focado em desencadear uma mudança de comportamento na sociedade,
A coligação nasce da preocupação dos seus fundadores com “o atual cenário das doenças cardiovasculares em Portugal e com a falta de medidas e ações por parte das autoridades de saúde para reduzir, de forma eficaz, o impacto negativo que têm em Portugal, numa perspetiva médica, social e económica”.