A têxtil Tintex (de Cerveira) e as suas congéneres Carvema e Color for Tex, ambas de Barcelos, foram as empresas portuguesas premiadas na Fórum Textrends da ISPO, a maior feira têxtil a nível mundial dedicada ao ramo do desporto, que se realiza em Munique, na Alemanha. Estes reconhecimentos valem-se da performance, tecnologia e sustentabilidade apresentado pelas firmas.
Carvema com três prémios
O maior destaque vai para a empresa Carvema, sediada em Perelhal, no concelho de Barcelos. A têxtil recebeu três prémios, um pelo acabamento de interloque (malha costurada com duas agulhas e quatro fios) modal elastano com acabamento especial que aumenta a elasticidade da malha, outro por um interloque com poliéster reciclado com elastano com um acabamento antibacteriano, e um terceiro pela rib (canelado) em poliéster reciclado com algodão orgânico com acabamento que regula a temperatura.
Alice Sampaio, responsável pelo Marketing da empresa, adiantou a O MINHO que este reconhecimento “é importante”, pois “realmente mostra o nome da empresa na área têxtil, não só cá, mas em toda a Europa”.
“Esta feira é importante porque é muito ligada a desporto e a malhas técnicas, que são áreas onde queremos estar, então ganhar estes prémios é muito bom, um grande reconhecimento”, considerou.
Sobre a Carvema, uma tinturaria fundada há mais de 45 anos e administrada por famílias de Barcelos, com trabalhadores da região, foi-nos explicado que trabalha com “vários acabamentos especiais” e com malhas sustentáveis e orgânicas. “E isso faz com que o produto seja diferenciado para os clientes”, realça Alice Sampaio.
Trabalham diretamente para as marcas e vendem quase tudo para fora, sobretudo Europa e Reino Unido. A produção é integralmente feita em Barcelos e os materiais usados também são comprados em fornecedores da região minhota, pois esse ato é visto como “uma mais valia para apoiar a nossa região e os fornecedores da região”. Os clientes portugueses, são algumas confeções da zona do Cávado e Ave, mas que também exportam integralmente os produtos.
A concluir, Alice Sampaio nota que a Carvema “não está propriamente à procura de grandes marcas, mas sim as que procuram malha de qualidade”, ou seja, um nicho mais luxuoso.
Outra empresa distinguida na feira, com um lugar no top5 dos acabamentos de performance, é a Tintex, com sede em Vila Nova de Cerveira, já perto da fronteira com Espanha. Fundada nos anos 90 por alguns empresários da região do Cávado, atualmente é uma empresa 100% familiar gerida por habitantes de Esposende.
Tintex, de Cerveira, no top5 dos melhores acabamentos performance
Pedro Silva, elemento da administração e responsável pela industrialização da Tintex, em declarações a O MINHO, mostrou-se muito satisfeito pelo reconhecimento da feira de Munique, confessando que é uma forma de “ficar debaixo dos holofotes” perante muitos potenciais clientes.
“Esta é a maior feira de têxteis técnicos e performance do mundo. Ficar no top5 [da categoria performance finishings] traz reconhecimento e leva para debaixo dos holofotes os materiais da Tintex”, afirmou, acrescentando que estas referências são muito úteis para a abordagem a clientes.
Pedro explica que, para que o processo seja concluído com sucesso, existem três acabamentos técnicos a aplicar na malha, que já é, por si própria, construída de forma compacta que permite uma maior durabilidade e ajustamento ao corpo, e com masterização que leva a que seja mais elástica, resistente e que absorva a humidade.
O primeiro acabamento, “fast dry”, consiste numa melhoria da absorção. “Este acabamento faz com que a absorção seja imediata. Por exemplo: uma gota de suor cai na malha e é logo absorvida e espalhada pela superfície, fazendo com que não se sinta a humidade – que é sempre factor de desconforto no desporto.
O segundo é um acabamento antibacteriano, que atua como prevenção para a reprodução de bactérias provenientes do suor e ajuda a eliminar o mau cheiro de forma instantânea.
Já o terceiro acabamento é neutralização de odor, ou seja, um complemento ao antibacteriano. Para além de remover o odor do suor, também atua com odores externos, como fumo de tabaco ou vapores de cozinha. “Tudo o que seja odor externo, o que estamos a fazer é absorver o odor quando entra em contacto com o têxtil. Em vez de se agarrar, aboserve e degrada as moléculas de mau cheiro”. E deixa um exemplo prático: “por vezes deixámos a roupa do ginásio num saco. Se for utilizada esta técnica, no dia seguinte, a roupa não tem qualquer mau cheiro, mesmo depois de ter ficado toda a noite num saco, sem lavar”.
Porquê em Cerveira?
O administrador explica que a Tintex localiza-se em Cerveira, um local pouco habitual para este ramo, deveu-se a dificuldades logísticas, o que levou os então cinco empresários da região do Cávado, em 1998, a fundarem a nova empresa sobre as ruínas de uma antiga tinturaria.
O objetivo foi, desde logo, criar têxteis de qualidade, e muito rapidamente o produto de mais destaque da Tintex foram as malhas de liocel, algo que, afirma Pedro Silva, “foi revolucionário” no modo como se produz no têxtil.
“Estas malhas estão cada vez mais presentes nas roupas do dia a dia, quando há vinte anos não se ouvia falar. Mas hoje continua a ser a fibra mais sustentável, com um toque caraterístico, e a Tintex cresceu nessa fama e entretanto direcionou-se para produtos mais sustentáveis e inovadores, com investigação e desenvolvimento e por isso é que hoje em dia estamos presentes nestas feiras e ganhámos o que ganhámos, fruto do trabalho”, concluiu.
Tingimentos sem água – Color For Tex
Hélder Coelho, da administração da Color For Tex, sediada em Tamel São Veríssimo, no concelho de Barcelos, destaca o reconhecimento na inovação (a feira colocou-os no top10 mundial), através de uma malha composta por algodão e poliéster com zero porcento de desperdício de água.
A O MINHO, o empresário explica que “o prémio surge com o acrescentar de técnicas de acabamento secas onde é retirada toda a água da tinturaria”. Ou seja, não utilizam água nos processos. E por isso mesmo, é a única das três empresas distinguidas que não é considerada uma tinturaria, mas sim uma estamparia. É que as malhas são confeccionadas no tear e passam diretamente para a estampagem digital ou para a sublimação, evitando assim o processo que, habitualmente, gasta entre 100 a 150 litros de água por cada quilo de malha tingido.
A trabalhar desde 2015, há três anos que se dedicam ao artigo desportivo, entregando o produto já acabado ao cliente, pronto a vender nas lojas. Atualmente, exportam cerca de 70% da produção, tudo para marcas. Contam com 22 colaboradores (com previsão de 25 até maio), todos provenientes da região de Barcelos e arredores.
Quando à distinção na ISPO, integraram o top5 mundial dos melhores materiais em termos de sustentabilidade, muito por não utilizarem água.