Os carrilhões do Palácio Nacional de Mafra voltam a tocar em 01 de fevereiro, quase 20 anos depois de terem parado, com o concerto inaugural marcado para dia 02, data anunciada, esta segunda-feira, pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, no Parlamento.
Os mais de 100 sinos do Palácio Nacional de Mafra e os dois carrilhões começaram a ser apeados das torres pela primeira vez, ao fim de mais de 200 anos, em outubro de 2018, para serem analisados e restaurados, num investimento de 1,5 milhões de euros.
As obras arrancaram depois de ter sido dado o visto do Tribunal de Contas para a assinatura do contrato de consignação com o empreiteiro, a empresa Augusto de Oliveira Ferreira Lda (AOF), de Braga, e de os ministérios das Finanças e da Cultura terem autorizado a repartição, por 2018 e 2019, dos encargos, no valor de 1,5 milhões de euros.
Filipe Ferreira, atual administrador da AOF, explica que “trabalhar no restauro dos carrilhões do Palácio Real de Mafra é um orgulho e uma enorme responsabilidade” onde “nada pode falhar”.
“Estamos em presença de dois carrilhões, que são instrumentos musicais e exemplares únicos no mundo, pelas suas dimensões e pela qualidade e riqueza dos equipamentos e ornamentos. Existem também sinos de grande porte nas torres sineiras para indicação das horas e toques. Estamos a falar em 119 sinos, com pesos variados, em que os maiores pesam cerca de 12 toneladas. Existem também dois relógios de grandes dimensões, um em cada torre, e quatro enormes cilindros musicais, para o sistema automático de toque”, disse o empresário à revista Business.
Fez parte da empreitada a reabilitação e reformulação de todas as estruturas de suporte dos sinos, em madeira de sucupira, o tratamento dos paramentos de pedra, o tratamento dos dois para-raios das duas torres, o tratamento dos sinos e de todas as peças dos dois relógios, incluindo montagem e desmontagem, entre outros trabalhos.
Com 60 anos de atividade, a AOF foi fundada, em Braga, por Augusto de Oliveira Ferreira, empregando mais de 70 trabalhadores. É especializada na reabilitação, conservação e restauro do património material construído, móvel e imóvel, estando ligada a intervenções de grande valor patrimonial no país. Dispõe de equipas especializadas nas várias áreas da construção e conservação e restauro, recorrendo aos métodos e materiais tradicionais, aliados aos novos materiais e tecnologias.
Programa da inauguração
A inauguração do restauro antecede a instalação do Museu Nacional da Música no Palácio, que foi também apresentado por Graça Fonseca como um dos “investimentos prioritários” do Governo para 2020, no âmbito da reabilitação do património cultural.
O programa inicia-se no dia 01, com diversos recitais sobre a herança da família Gato, os compositores ao serviço da Coroa nos séculos XVIII e XIX. No carrilhão da torre sul, serão interpretadas músicas originais compostas para carrilhão, arranjos para carrilhão de música barroca, e sobre as cidades de Antuérpia e Liége, donde são naturais os fundidores dos dois carrilhões, Willem Witlockx e Nicolas Levache. Serão intérpretes os carrilhonistas Francisco Gato, Abel Chaves, Luc Rombousts, Ana Elias, Frank Deleu, Koen Van Assche, Marie-Madeleine Crickboom.
Depois do restauro dos seis órgãos históricos, inaugurado em 2010, a reabilitação dos carrilhões — que já não tocam desde 2001 — e dos sinos “vem reforçar uma das singularidades do palácio”, a sua monumentalidade, ao ter o maior conjunto sineiro, a nível mundial, e seis órgãos históricos a tocarem em conjunto, únicos no mundo, disse o diretor do palácio.
Ainda primeiro dia, 01 de fevereiro, estão previstas duas palestras, uma das quais sobre a heranaça de Willem Witlockx, por Luc Rombouts, musicólogo e carrilhonista belga, da cidade de Tienen.
No dia 02, realiza-se a bênção dos sinos e o concerto inaugural do restauro, momento em que os carrilhonistas Abel Chaves e Liesbeth Janssens vão interpretar composições de Vivaldi.
No segundo dia, decorrem também várias palestras sobre a encomenda dos dois carrilhões para o Real Paço de Mafra, por Isabel Iglésias, sobre a empreitada de reabilitação dos carrilhões e torres sineiras, por Luís Marreiros, sobre o complexo sineiro de Mafra, por João Soeiro de Carvalho, e sobre o estudo acústico dos carrilhões, por Vincent Debut.
O Palácio Nacional de Mafra vai manter um programa de concertos de carrilhões ao longo do ano, com a participação de carrilhonistas de todo o mundo, que está a ser ultimado, para ser anunciado, adiantou o diretor à Lusa.
Apesar de as obras de restauro englobarem os dois carrilhões, só o da torre sul vai ficar a funcionar.
A intervenção de restauro, orçada em 1,5 milhões de euros, começou no verão de 2018, depois de, nesse inverno, terem sido adotadas interdições de circulação no local, por sinos e carrilhões ameaçarem cair com o mau tempo.
O concurso público tinha sido lançado em novembro de 2015.
O Governo reconheceu na altura a “urgente necessidade de proceder à reabilitação” dos sinos e carrilhões, “face ao avançado estado de degradação” e aos “riscos de segurança, não só para o património em si, como para os utentes do imóvel e transeuntes da via pública”.
Os sinos, alguns a pesarem 12 toneladas, estavam presos por andaimes desde 2004, para garantir a sua segurança, pois as respetivas estruturas de suporte, em madeira, encontravam-se apodrecidas.
Na altura, os carrilhões de Mafra foram classificados como um dos “Sete sítios mais ameaçados na Europa”, pelo movimento de salvaguarda do património Europa Nostra.
Cada uma das torres contém um carrilhão (e respetivos sinos musicais), um relógio (sinos de horas) e parte de um conjunto sineiro de serviço litúrgico (sinos de bamboar), distribuído por ambas as torres.
Os dois carrilhões e os 119 sinos, repartidos por sinos das horas, da liturgia e dos carrilhões, constituem o maior conjunto sineiro do mundo, sendo, a par dos seis órgãos históricos e da biblioteca, o património mais importante do Palácio Nacional de Mafra, classificado como Património Cultural Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), no passado mês de julho.