Os trabalhos de escavação na acrópole (local mais elevado) do Castro de São Miguel-o-Anjo, em Famalicão, revelaram várias sepulturas medievais, que mostram um reaproveitamento da população naquele período em relação ao fortificado que existe, pelo menos, desde o final do segundo milénio antes da era cristã, ou seja, há mais de 3.000 anos. Depois de abandonados os castros durante a idade do bronze, este povoamento voltou a ser ocupado no final do século XI (onze), tornando-se então um importante local de cultura medieval. Ficou também claro que os materiais dos castros foram reaproveitados para construir as ‘novas’ estruturas.
Os trabalhos arqueológicos decorreram durante quase todo o ano de 2021, com coordenação de Tarcísio Maciel, e revelaram a presença de objetos em ferro e em bronze (confirmando assim a presença de habitantes há mais de 3.000 anos), conforme explicou a O MINHO a arqueóloga municipal Felisbela Leite: “Aos escavarmos, foram encontradas algumas estruturas circulares típicas dos castros. E, por baixo, foram encontrados alguns materiais que nos levam para a idade do bronze”.
Felisbela Leite salienta que as sepulturas encontradas, pelo menos sete, (embora possam existir mais) confirmam o que a “memória local” já apontava: “Foram de lá retiradas pias (sarcófagos) que demonstram que a acrópole tinha uma necrópole que mostra uma grande ocupação medieval”, para além da ocupação inicial.
É “o regresso ao topo do monte”, explica a arqueóloga, referindo-se ao período de século XI, quando a população parece ter regressado aos castros então desocupados. Felisbela salienta que apenas foram examinadas as sepulturas que já estavam abertas, onde muitos dos paralelos encontrados são similares à estação arqueológica de Perrelos, também localizada em Famalicão e pertencente ao mesmo período. Mas a especialista salientou que há necessidade de confirmação por parte de um antropólogo.
“Aos escavarmos foram encontradas algumas estruturas circulares típicas dos castros e por baixo foram encontrados alguns materiais que nos levam para a idade do bronze. As estruturas em si não foram identificadas, a não ser um pequeno nível, mas está um pouco destruído. Sabemos que teve ocupação, mas não identificamos as estruturas mas é certo que são do final do segundo milénio e inicio do primeiro (antes da era cristã).
A arqueóloga destaca a confirmação de uma ocupação continuada ali encontrada, não só pela descoberta dos objetos de bronze e das sepulturas, mas também por aquilo que parece ter sido a base de um torreão, associado a uma fortificação medieval (um possível castelo), junto ao chamado “penedo da Moura”.
“À partida, porque carece de maior confirmação porque está muito destruído, (o torreão) poderá ser realmente uma fortificação medieval, e grande parte da acrópole tem várias sepulturas. Mostra uma grande ocupação medieval, que está em consonância com os castrejos ocupados, pois volta e meia aparecem sepulturas medievais”, salientou.
Em comunicado enviado à imprensa, a Câmara de Famalicão, que promoveu as escavações. refere que o Castro de S. Miguel-o-Anjo se encontra classificado como imóvel de interesse público desde 1990.
Para o presidente da Câmara, Mário Passos, “os resultados obtidos com estes trabalhos permitiram confirmar a importância do local possibilitando também, o arranque da valorização do espaço, que se encontra em fase de projeto, e se vai associar a outros projetos em curso por parte do município, como por exemplo a rede de trilhos atualmente em desenvolvimento pelo pelouro do Desporto”.
Entretanto, e ainda segundo nota enviada pela autarquia, foram já colocados painéis informativos no Monte de São Miguel-o-Anjo marcando cada um dos acessos com um painel de sensibilização e informação ao visitante, destacando a entrada em Zona Arqueológica, espaço de cultura onde os trajetos devem respeitar os vestígios e a proteção do património, estando, também os comportamentos em harmonia com a fauna e a flora existentes.