As demolições do Edifício Transparente, no Porto, e de outras construções previstas no âmbito do Plano da Orla Costeira Caminha-Espinho vão permitir reduzir o grau de exposição, diminuindo os custos de defesa daqueles territórios, defendeu hoje um especialista.
“Estamos a reduzir o grau de exposição e se calhar daqui cinco ou dez anos já não estamos a gastar dinheiro a proteger uma coisa que, entretanto, já saiu dali”, afirmou Carlos Coelho.
Em declarações à Lusa, Carlos Coelho, que integrou a comissão de Acompanhamento do Grupo de Trabalho do Litoral, explica que isto não quer dizer que a demolição destes edifícios seja a melhor estratégia “custo-benefício”, defendendo que é preciso fazer esta análise numa perspetiva de longo prazo.
“Quanto é que custa uma demolição, que território vamos perder e que valor é que isso tinha de retorno todos os anos, quanto é que custa uma obra de defesa costeira, quanto é que custa manter essa obra de defesa costeira ao longo do tempo e qual é o benefício que traz o uso daquele território que estamos a manter ou quanto é que custa fazer uma alimentação artificial de areia (…) É preciso analisar o custo – benefício de cada uma delas, sendo que cada uma tem custos e benefícios”, sustentou.
O investigador do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, que há anos estuda a erosão costeira, dá como exemplo o caso das Torres de Ofir, ameaçadas pela subida do mar nas praias do concelho.
“Falando genericamente, gastar trinta milhões para demolir determinados edifícios, por exemplo as Torres de Ofir, tem um custo elevado agora ao início, mas à partida deixamos de ter ali exposição, podemos até reduzir depois, nos próximos 20 ou 30 anos, o grau de defesa que precisamos ali. E se estivermos a gastar vários milhões todos os anos para defender aquelas torres, se calhar ao fim de cinco ou dez anos já estamos a gastar mais dinheiro do que o que representaria aquela demolição”, afirmou.
No que se refere à nova proposta de delimitação da margem, Carlos Coelho, considera que esta “faz sentido” pela mesma razão que, sem olhar a casos específicos, as demolições podem representar um benefício.
“A frente até está consolidada e neste momento até está mais ou menos estável, mas sabemos que com os défices sedimentares agravados pelas alterações climáticas a perspetiva é a situação agravar-se e, portanto, estamos a investir num local que é de risco, estamos a aumentar a quantidade de bens que temos expostos a situações de perigo. Estamos a pôr ali valores que daqui a uns anos vamos ter que retirar ou defender com custos mais elevados”, referiu.
O investigador reitera que é preciso fazer uma avaliação concreta do custo-benefício de cada solução, sempre numa perspetiva de médio e longo prazo, por forma a encontrar a estratégia de combate à erosão costeira mais eficaz.
“Eu diria que as três abordagens são: ou trazer areia para dentro do sistema costeiro para fazer face ao défice sedimentário que existe ou proteger os nossos bens através de estruturas de defesa costeira como esporões, ou quebra-mar destacados, ou a relocalização, portanto demolir os bens que estão expostos e colocá-los em zonas mais recuadas diminuindo o grau de exposição. Destas três vertentes qualquer uma delas faz sentido”, defendeu.
O novo Plano da Orla Costeira Caminha – Espinho teve o parecer favorável condicionado de sete autarquias e várias instituições públicas e desfavorável dos municípios do Porto e Espinho, revela o parecer final da Comissão Consultiva.
Os autarcas da região vão ser recebidos na quarta-feira pelo ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, em Lisboa.
Ao abrigo deste plano, está prevista a destruição de várias dezenas de edifícios, incluindo o Edifício Transparente, vários espaços de restauração e centenas de casas.