O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, encontrou-se esta quarta-feira com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tendo discutido o fornecimento de fardas ao exército ucraniano, a juntar o apoio já assumido por Portugal na reconstrução de escolas.
O encontro, esta quarta-feira de manhã em Kiev, apenas foi revelado pelo chefe da diplomacia portuguesa cerca das 14:00 (12:00 em Lisboa), em declarações a jornalistas portugueses na capital ucraniana, e foi o motivo para o cancelamento da visita prevista para as 11:00 ao Muro Memorial dos Defensores Caídos.
Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros, que se avistou também com o seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, o Presidente Zelensky “transmitiu alguns pedidos de natureza militar”, que incluem a possibilidade de fornecimento de fardas ao exército ucraniano.
“Irei partilhar [esses pedidos] com a minha colega [da Defesa] e com o senhor primeiro-ministro”, disse João Gomes Cravinho, manifestando que Portugal está sempre disponível para estudar as possibilidades de novos apoios.
Nas declarações aos jornalistas, o ministro dos Negócios Estrangeiros referiu que as forças armadas ucranianas tiveram “uma expansão muito rápida, por razoes óbvias, e uma incorporação muito grande de milites nas suas fileiras” e que agora, “além de todas as necessidades de equipamento militar, portanto de natureza bélica, há também necessidades de fardas, tudo aquilo que a nossa indústria têxtil pode produzir”.
Após os encontros com o Presidente @ZelenskyyUa e com o homólogo @DmytroKuleba, o MNE @JoaoCravinho testemunhou os impactos devastadores da guerra na localidade de #Irpin, próxima da capital ucraniana, e conhecida pela sua heróica resistência face às incursões das tropas russas. pic.twitter.com/KNL590Hj8Q
— Negócios Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) August 24, 2022
No que toca a ‘stocks’ militares, o ministro observou que Portugal terá “alguma dificuldade” em corresponder, mas ainda “talvez ainda existam possibilidades” que serão exploradas após o seu regresso a Lisboa.
Em relação a novos temas no pacote de ajuda, João Gomes Cravinho referiu que “há mais matérias” que o Governo português vai igualmente estudar: “Os pedidos da Ucrânia têm surgido de forma continua, à medida que a situação vai evoluindo. Nesse quadro, vamos estudando as possibilidades que temos de corresponder”.
Durante o encontro, de acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros Volodymyr Zelenky “fez uma atualização em relação à situação militar, agradeceu o apoio de Portugal em múltiplas dimensões e manifestou muito interesse e muito apreço pelo trabalho que Portugal assumiu em relação à construção de escolas”.
Nesse sentido, o Presidente ucraniano “atribui muita importância à possibilidade de voltar a dar a normalidade possível nestas circunstâncias às crianças ucranianas” e ao trabalho que Portugal vai desenvolver em estabelecimentos de ensino em Jitomir, a cerca de 150 quilómetros a oeste de Kiev.
João Gomes Cravinho comentou que a visita que hoje realiza à Ucrânia, no seu dia da independência e também quando se assinalam seis meses desde a invasão deste país pelas forças russas, representa “essencialmente uma “manifestação de solidariedade” da parte de Portugal.
“É dia 24 de agosto, dia da independência da Ucrânia e também se marca seis meses desde a invasão ilegal e injustificada e da Rússia e era muito importante vir neste dia manifestar toda a nossa solidariedade, que se traduz, em temos práticos e concretos, em apoio político, financeiro, militar e humanitário, também em relação à população ucraniana de mais de 50 mil pessoas que foram para Portugal”, declarou, acrescentando: “Esta manifestação de apoio é para continuar, mensagem que transmiti ao Presidene Zelensky e ministro Dmytro Kuleba, em todas as dimensões”.
No encontro foi ainda abordada a situação atual na guerra na Ucrânia, tendo o ministro encontrado um estado de espírito “confiante e combativo” das autoridades ucranianas, bem como a central nuclear de Zaporijiia, tem sido alvo de acusações mútuas entre Moscovo e Kiev.
Para o ministro português, é “perfeitamente lamentável”, que se está a passar em redor da unidade nuclear, quando “o objetivo russo é cortar o fornecimento elétrico de Zaporijiia” e desviá-lo para “proveito próprio”, o que conduz a que seja fundamental realizar uma desmilitarização daquela zona, tal como é proposto pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.
Em relação à evolução da guerra, o ministro comentou que “a Rússia não tem tido sucesso” e que “sofreu claramente uma derrota no seu objetivo inicial de conquistar a capital e instalar um governo fantoche, tal como é tradição do tempo soviético”.
“Dizia-se inicialmente que em poucas semanas chegariam a Kiev. Passaram-se seis meses e nem sequer o Dombass (leste) controlam”, afirmou, acrescentando que tem a expectativa de que mantenha o empenhamento da comunidade internacional para dar condições à Ucrânia.
Segundo o ministro, o Governo não sabe ao certo quantos portugueses estão a combater na Ucrânia, “porque eles não anunciam”, mas não tem notícia de nenhuma baixa.
“Sabemos de sete que vieram, não sabemos se ainda cá estão, se alguns deles já voltaram, mas é um valor muito reduzido”, disse, insistindo que o Governo mantém “o nosso conselho muito forte que não venham cidadãos portugueses para Ucrânia combater”.