A comunidade brasileira de Braga, liderada pelo coletivo Doia Sequeira, está-se a organizar para criar um dia de luta contra a xenofobia.
A ideia surgiu na sequência da agressão ocorrida no último dia 10 de junho na freguesia de São Vicente, em que a vítima foi internada por um dia após um caso em que alega que teve motivações preconceituosas por ser brasileira.
“Isto não diz respeito apenas aos brasileiros”
Segundo o coletivo, o caso trouxe urgência para este tema, e quer marcar posição inclusive com uma manifestação, onde vão ser denunciados e expostos este e outros casos, num dia que espera-se também a participação da comunidade portuguesa e da classe política.
“Diante de diversos acontecimentos xenófobos que chegam ao nosso conhecimento diariamente, estamos a convocar uma reunião representativa de ativistas brasileiros para estabelecermos uma data de um dia de luta contra a xenofobia. Isto não diz respeito apenas aos brasileiros, mas aos angolanos, caboverdianos, guineenses, peruanos, argentinos, paquistaneses, indianos que estão aqui em Portugal e na Europa, disse Bemvindo Sequeira, famoso ator brasileiro residente em Braga, ativista político e membro da liderança do coletivo a O MINHO.
O caso
O referido caso ocorreu no último dia 10 de junho, quando o pernambucano Saulo Jucá diz que foi agredido por Fábio Lemos num café.
Como o nosso jornal noticiou, o engenheiro brasileiro conta que enquanto conversava com o dono do estabelecimento, o Fábio Lemos entrou e perguntou-lhe a nacionalidade. Saulo confirmou que era brasileiro e aí terão começado as agressões.
Em entrevista concedida a O MINHO esta quinta-feira, o bracarense Fábio Lemos negou a autoria de “qualquer ataque xenófobo ou de outro tipo”. O jovem de 29 anos desmentiu a versão do brasileiro quanto à origem dos incidentes em que este foi atingido com murros e pontapés.
PSP confirma queixa e caso foi encaminhado para o Ministério Público
Contactada por O MINHO, a PSP confirma que a queixa foi formalizada no dia 11 de junho contra um indivíduo cujo queixoso desconhece a identidade.
A denúncia foi encaminhada para o Ministério Público que agora realizará as necessárias diligências para a investigação.
“Porque não levantarmos a bandeira de luta por um mundo melhor?”
Independente deste caso, Bemvindo Sequeira lembra que Portugal não tem exatamente um perfil de xenofobia sistémica, como outros países, mas surgem relatos diários e que precisam ser estudados.
“Então achamos muito importante um dia de luta contra a xenofobia, que marque a posição de que é uma coisa muito degradante e perigosa, assim como a homofobia, misoginia, transfobia, etarismo e muitas outras coisas. Então porque não levantarmos a bandeira de luta por um mundo melhor? Por um mundo em que possamos viver em paz com quem é diverso de nós. O estrangeiro apenas é diverso, e por ser diverso e diferente, provoca um estranhamento, que causa posicionamentos muitos radicais, continua Bemvindo, que destaca que no Brasil a xenofobia também existe há muito tempo”, diz.
E acrescenta: “Eu sei como a xenofobia é desagradável. Eu sou de uma família de portugueses que migraram para o Brasil e sofreram na pele profundamente a xenofobia dos brasileiros contra os portugueses. Como também a diáspora de Portugal que sofre também em outros países por serem estrangeiros. A xenofobia é um assunto que não diz respeito apenas aos brasileiros em Braga, mas sim a todo o mundo. Hoje mesmo no Brasil há xenofobia entre as regiões, o Sul do Brasil é xenófobo aos nordestinos, por exemplo”.
Ainda não foi definido qual será o dia para assinalar a luta contra a xenofobia. Para já, o coletivo Doia Sequeira está a organizar-se com outros grupos para debater e definir a melhor estratégia.