A vereadora da Educação, Apoio Social, Arquivo Municipal, Toponímia, Transportes, Lazer e Tempos Livres na Câmara de Ponte da Barca renunciou hoje àqueles pelouros, alegando “falta de confiança”, mas garantiu que cumprirá o “mandato até ao fim”.
“Neste projeto faltou a confiança mínima que deveria ter sido máxima, escasseou a comunicação e a união era só aparente. Durante todo este tempo dei o benefício da dúvida com a esperança de que as decisões iriam deixar de ser unipessoais, passariam a ser discutidas por toda uma equipa, o que nunca aconteceu, bem pelo contrário”, afirmou hoje à agência Lusa, Fernanda Marques.
Nas autárquicas de 2017, o social-democrata Augusto Marinho, de 46 anos, conquistou a liderança do concelho ao Partido Socialista (PS), tendo ficado a liderar a autarquia com maioria absoluta já que elegeu quatro mandatos num total de sete. O PS ficou com três lugares na vereação.
A vereadora, que hoje apresentou a renuncia ao presidente da Câmara de Ponte da Barca, no distrito de Viana do Castelo, explicou que “continuar na vereação com pelouros seria um exemplo de hipocrisia política”.
“Ora, quem me conhece sabe que não sou hipócrita, sou muito frontal, o que, não raras vezes, me trouxe e me traz muitos dissabores, mas mesmo assim não me arrependo e continuarei leal aos meus valores”, afirmou Fernanda Marques.
A vereadora, até agora com funções naquele executivo de maioria social-democrata, garantiu que a renuncia aos pelouros não foi uma decisão tomada de “ânimo leve”.
“Faço-o em consciência e com a convicção que nunca conseguiria mudar a minha identidade, lutar diariamente contra o meu ser, estar sem realmente estar. Por tudo isto, e na certeza de que defenderei Ponte da Barca até ao fim do mandato, devolvo os pelouros ao senhor presidente, com efeitos, se assim o entender, a 31 de março, permitindo-me terminar ações pendentes e fechar um ciclo”, reforçou.
A Lusa tentou, mas ainda sem sucesso, ouvir a reação do presidente da Câmara de Ponte da Barca.
Fernanda Marques adiantou que “Ponte da Barca e os barquenses poderão contar sempre” consigo, assegurando que, “sem hesitar, em sede de reunião de Câmara”, aprovará “todas as medidas benéficas para o concelho, mas também será vigilante para com as que suscitem dúvidas e que não estejam previstas no programa eleitoral de 2017 sufragado pela maioria dos barquenses”.
“Não é fácil admitir que estava completamente enganada, não é fácil reconhecer que errámos, contudo, quando a convicção que nos move é inabalável agimos de acordo com os nossos princípios. É essa a minha postura perante a vida, é assim que sou. Por isso, a minha forma de estar, na vida e na política, obriga-me a tomar uma decisão”, destacou.
Fernanda Marques, disse que desde 2009 que “defende um determinado político” e que, em 2017, abraçou “um projeto sempre com os olhos postos na causa pública, no desenvolvimento do concelho e na melhoria das condições de vida dos barquenses”.
“Desde que assumi o cargo de secretária da vereação, e agora como vereadora, dediquei-me de corpo e alma a um projeto e a uma equipa, no entanto, com o passar do tempo, apercebi-me que nem todos estão na política para servir”, referiu.
Os primeiros casos de instabilidade política no seio da maioria social-democrata tornaram-se públicos em 2018.
Em outubro desse ano, a então vice-presidente da autarquia, Maria José Gonçalves, absteve-se na votação do orçamento para 2019, alegando “não ter sido envolvida” na sua elaboração que, disse, foi decidida “unilateralmente” pelo presidente da autarquia.
Dois meses depois, em declarações à Lusa, Maria José Gonçalves disse estar a ser vítima de ‘bullying’ laboral por parte de Augusto Marinho.
Em janeiro de 2019, a autarquia liderada pelo social-democrata Augusto Marinho justificou a decisão de cessação das funções de Maria José Gonçalves como vereadora em regime de tempo inteiro com a “pública desarticulação política”.
O orçamento para 2019 da maioria PSD foi viabilizado por um dos três vereadores eleito pelo PS.
Por despacho do presidente da câmara, o vereador Inocêncio Araújo passou a meio tempo e viu ainda aprovada, por maioria, a sua promoção de encarregado operacional a técnico superior da Câmara de Ponte da Barca.
Em dezembro último, o orçamento para 2021 foi aprovado com o voto de qualidade do presidente, após empate na votação do documento.
A vereadora social-democrata Fernanda Marques, que, entretanto, entrou para o executivo para substituir José António Ribeiro da Costa, que pediu suspensão de mandato e que acabou por renunciar ao cargo, absteve-se na votação do documento.
Já Maria José Gonçalves, vereadora também eleita pelo PSD, mas que em 2019 foi destituída da vice-presidência do município e esvaziada dos pelouros que detinha, votou contra, tal como dois vereadores do PS, Pedro Sousa Lobo e Ricardo Armada.
Na semana passada, em reunião camarária foi aprovada, por maioria, por proposta dos vereadores do PS, a avocação de competências ao autarca social-democrata relativamente a processos de licenciamentos e de contratação pública superior a 750 mil euros.
A avocação de competências foi aprovada com os votos de dois dos três vereadores do PS, Pedro Sousa Lobo e Ricardo Armada, da vereadora social-democrata Fernanda Marques (um dos quatro elementos da maioria PSD) e Maria José Gonçalves.