O executivo municipal de Caminha vai reunir-se, na segunda-feira, na União de Freguesias de Arga de Baixo, Arga de Cima e Arga de São João, para esclarecer a população sobre a prospeção e exploração de lítio na Serra d’Arga.
“A reunião vai servir para esclarecer a população do que se passa, do que pode vir a passar-se mas também do que se passou num passado recente, em 2010, em que a Câmara de Caminha, foi chamada a pronunciar-se sobre prospeção de lítio na Serra d’Arga, e nada disse”, afirmou hoje à Lusa o presidente da Câmara de Caminha, Miguel Alves.
A reunião pública descentralizada, que decorre sempre na última segunda-feira de cada mês, está marcada para as 18:30, e tem, como habitualmente, um único ponto da ordem de trabalhos, desta vez sobre a eventual prospeção e exploração de lítio na Serra D’Arga.
Na terça-feira, Miguel Alves, apelou à mobilização de autarcas, população e movimentos cívicos do Alto Minho para a “luta” que a região tem pela frente de contestação à prospeção e exploração de lítio.
“As câmaras não têm como garantir que não existirá prospeção e exploração de lítio. As câmaras municipais têm capacidade de garantir que lutarão para que isso não aconteça até à última gota de sangue. O Estado português é que terá de tomar essa decisão. Não estou a ver, qualquer governo, qualquer um que esteja à frente de um governo tomar uma posição contra toda a população”, afirmou, em São Lourenço da Montaria, em Viana do Castelo, no final da apresentação do projeto intermunicipal “Da Serra d’Arga à Foz do Âncora”.
O autarca socialista disse que o município de Caminha “foi notificado na segunda-feira, por carta, pela Direção Geral de Energia e Geologia, para se pronunciar sobre o concurso de prospeção e exploração de minérios no âmbito do concurso anunciado em maio pelo Governo”.
Segundo o autarca, o projeto “Da Serra d’Arga à Foz do Âncora”, já apresentado publicamente, envolvendo os concelhos de Caminha, Viana do Castelo e Ponte de Lima, visa a classificação da Serra d’Arga como Área de Paisagem de Protegida de âmbito regional, “será a muralha que sustentará a batalha da região contra qualquer invasão que faça mal ao território”.
“Tudo o que atentar contra este equilíbrio e contra esta riqueza terá a oposição da Câmara de Caminha. Nós temos uma mina, mas uma mina de biodiversidade, essa capacitação para criar riqueza a partir de valores naturais culturais e paisagísticos “, reforçou.
O projeto “Da Serra d’Arga à Foz do Âncora”, “incide sobre o território classificado como Sítio de Importância Comunitária da Rede Natura 2000 Serra d’Arga, correspondendo a uma área com 4.493 hectares, totalmente inserida na sub-região do Alto Minho, e cuja conservação florística e faunística é imperativa”.
A classificação daquele território como Área Protegida de âmbito regional pretende “reforçar o seu caráter único enquanto ativo territorial e produto turístico emergente”.
O projeto intermunicipal implicou um estudo entre o vale do Âncora e o maciço serrano, que incluiu o levantamento das espécies existentes.
Foram identificadas 1.124 espécies de flora, entre as quais uma raridade em Arga de Cima, no concelho de Caminha, a ‘Scrophularia Bourgaeana’ que se pensava estar extinta em território nacional.
Foram ainda identificadas 126 aves, dez anfíbios, 12 répteis, 23 mamíferos não voadores e dez voadores, e cinco espécies de peixes, além de 60 elementos geológicos.
O estudo permitiu ainda fazer “o levantamento do património construído, mais de 600 exemplares, entre igrejas, cruzeiros, alminhas, moinhos, fontanários”.
A investigação foi realizada pelas empresas Território XXI, Floradata, Wenature, Miew Creative Studio, no âmbito de uma candidatura dos três municípios a fundos do Norte 2020, no valor de 350 mil euros.
Foram efetuados atlas da flora, fauna e geologia, o inventário do património material, trilhos suportados por novas tecnologias através de uma aplicação móvel (app), um vídeo promocional e um documentário, reunidos numa página na Internet criada para o projeto.