Os 1.908 signatários de uma petição online contra a municipalização da gestão do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, de Braga, defendem que essa tutela, recentemente anunciada pelo Ministério da Cultura, “não pode responder ao seu papel regional, de apoio à investigação e de garante de boas práticas no âmbito da Conservação e Restauro que importa prosseguir”.
O documento, que apela a que a decisão seja “reequacionada”, sublinha que o Museu atua no âmbito da preservação, valorização e mediação do património arqueológico regional e nacional, sendo um “local de incorporação definitiva de espólio arqueológico” , constituindo-se como uma reserva científica de materiais arqueológicos em especial da região Norte, mas também de outros pontos do país”.
E acentua: “O Museu acolhe espólios que correspondem às materialidades representativas da ocupação humana de uma grande parcela do território atualmente português, abrangendo uma diacronia muito ampla, que vai desde os primórdios da Pré-História aos nossos dias”.
21 marcos miliários
O seu espólio – sublinha – integra o conjunto de 21 miliários romanos classificados como Monumento Nacional, em exposição no Museu, e o Túmulo de S. Martinho de Dume classificado como Bem de Interesse Nacional, em depósito no Núcleo Museológico de S. Martinho de Dume.
E acrescenta: “O Museu é em si próprio um sítio arqueológico identificado como “Cavalariças”, estando visitável o correspondente a uma estrutura residencial com dois grandes painéis de mosaico bicromo, datada do século I. Outras estruturas arqueológicas romanas estão preservadas no subsolo, constituindo-se como uma reserva arqueológica que parcialmente já foi alvo de escavação e estudo”.
Diz, ainda, que “a estrutura técnica e grande parte dos técnicos das áreas de inventário e conservação e restauro do Museu têm os seus fundamentos e formação base no Campo Arqueológico de Braga, cujo 50º Aniversário se celebra em 2026, a partir do qual foi criada a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho e foi revitalizado o Museu na sua estrutura atual”.
Recorda que, “a Arqueologia Urbana em Portugal teve a sua origem em Braga, em 1976, com a criação do Campo Arqueológico de Braga e a implementação de um conjunto de medidas legislativas que fizeram história na arqueologia portuguesa do pós 25 de Abril. O ‘Projeto de Salvamento de Bracara Augusta’, criado pelo Campo Arqueológico de Braga, constituiu o primeiro projeto de Arqueologia urbana nacional, agregando importantes investigadores portugueses e estrangeiros, mantendo-se em atividade até aos dias de hoje”.
Espólio, Laboratório, investigação e formação
Dos vários eixos de atuação desenvolvidos pelo Museu, a Petição destaca: é uma Reserva Local de Incorporação de espólio arqueológico (Regulamento de Trabalhos Arqueológicos), constituindo-se como uma reserva científica de materiais arqueológicos em especial da região Norte, mas também de outros pontos do país”.
Dá apoio técnico especializado (inventário, conservação e restauro, desenho e fotografia); tem instalações adequadas incluindo biblioteca especializada e áreas dedicadas ao estudo de materiais, para além de um auditório e salas de aulas e um arquivo documental acessível, bibliográfico, gráfico e fotográfico.
A atividade de apoio do Museu e parcerias estabelecidas e em curso contemplam instituições e investigadores de todo o território nacional, para além de Espanha, França, Itália, Reino Unido, Alemanha, Brasil, EUA, entre outros.
Laboratório de Conservação e Restauro
O Laboratório de Conservação e Restauro – acentua – “desempenha um papel fundamental na definição de procedimentos e trabalho prático na exumação de artefactos arqueológicos; Orientações de conservação preventiva; Intervenções práticas de conservação e restauro, tanto em estruturas, como materiais arqueológicos; Apoios na musealização de sítios arqueológicos e espaços museológicos”.
Formação
Faz, também, formação técnica de estagiários licenciados, mestrandos e doutorandos na área de conservação e restauro e do desenho arqueológico; Acolhimento e colaboração na formação de alunos universitários de arqueologia; Disponibilização de salas de aulas, auditório, materiais e apoio técnico especializado. A exposição permanente do museu constitui-se também num espaço de aula e aprendizagem.
Função museológica
O Museu expõe espólio representativo da ocupação humana do Norte do País, com evidências materiais do seu contexto cultural, datadas entre o Paleolítico e a Idade Média. O espólio da Pré e Proto-História, é proveniente na sua grande maioria de sítios arqueológicos do Noroeste Peninsular. Merece realce o espólio proveniente das escavações arqueológicas realizadas em Braga, a cidade romana de Bracara Augusta, a única capital de província do império romano em território português, e mais tarde capital do Reino Suevo.
A área expositiva integra as salas de exposição permanente, assim como as reservas, o laboratório de conservação e restauro, a sala de desenho e estúdio de fotografia.
Doação Bühler-Brockhaus
Para além do espólio de origem nacional, o Museu possui e expõe de forma permanente, uma coleção de cariz internacional, fruto da Doação Bühler-Brockhaus, que faz deste museu uma referência incontornável na leitura da relação entre o território ocidental da Península Ibérica e o Mundo Mediterrânico na Antiguidade Clássica. A opção dos mecenas foi justificada pelo carácter abrangente das coleções do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa e pela sua competência técnica especializada nas áreas da Conservação e Restauro, assim como pela dinâmica de apoio à investigação arqueológica.