A Associação de Defesa do Património (ASPA), de Braga, manifestou-se, hoje, preocupada com a possível venda do Palacete Júlio de Lima e Jardins, mas lembrou que “este conjunto está, desde 2017, sujeito a proteção legal”.
Em nota a propósito da colocação à venda do edifício, a ASPA diz que se encontra em vias de classificação, com uma ZEPP (Zona Especial de Proteção) que abrange uma área considerável.
“Em julho de 2015 a ASPA pediu a classificação, de âmbito nacional. Este pedido de classificação, que foi transmitido ao Município, teve em vista evitar a perda de património, tanto da casa como do Jardim e da área contígua. Entretanto o Município de Braga atribuiu-lhe classificação de âmbito municipal. O anúncio da venda preocupa-nos, como é óbvio”, refere.
Situado na freguesia de S. Vicente, em Braga, o Palacete voltou para as mãos dos herdeiros depois de um processo judicial que durou sete anos contra a empregada doméstica da última proprietária, tendo sido colocado à venda.
A Rádio Universitária do Minho (RUM) recorda hoje que foi mandado construir em finais do século XIX pelo benfeitor bracarense ao Arquiteto Moura Coutinho, este edifício classificado como bem de interesse municipal desde 2018, localizado na freguesia de S. Vicente, no coração de Braga, está formalmente na posse dos sobrinhos de Maria José Ferro, última proprietária, falecida em 2016.
O processo cível, que durou sete anos, terminou há duas semanas, um litígio que envolveu os herdeiros legítimos e a última empregada doméstica de Maria José Ferro que terá assinado um testamento onde entregava o palacete àquela funcionária com quem esteve nos últimos dois anos de vida.
No entanto, Maria José Ferro sofria da doença de Alzheimer, pelo menos desde 2008, como ficou, entretanto, provado em Tribunal sendo certo que a assinatura do referido testamento aconteceu já nessas circunstâncias.
Necessita de grandes obras
Os irmãos proprietários do Palacete Júlio Lima não têm, no entanto, condições financeiras para recuperar e manter o imóvel na sua posse, razão pela qual o colocaram à venda. O edifício necessita de uma intervenção profunda.
Uma das preocupações maiores da família é que esta “peça única” de Moura Coutinho seja “estimada como merece” sendo certo que até ao momento já chegaram múltiplas manifestações de interesse para aquisição do imóvel.
Em Braga, a Plataforma dos Amigos do Palacete Júlio Lima – dinamizada, entre outros, por Fernando Mendes – tem lutado pela preservação do imóvel e acompanhado com “mágoa” e “preocupação” o estado de degradação a que o edifício tem estado sujeito nos anos mais recentes.
Júlio Lima era de Arcos de Valdevez
Júlio Lima era natural dos Arcos de Valdevez, tendo passado a residir em Braga com doze anos onde trabalhava como operário na casa de Domingos José Gomes.
Aos 40 anos herdou uma fábrica de fiação de tecidos, na localidade de Alenquer. Depois disso, inauguraria em Braga, na Rua D. Pedro V, “A Industrial”, uma fábrica de produção de chapéus. Júlio Lima é também recordado como benfeitor.
Faleceu com 83 anos, e apesar de ter casado duas vezes, a única filha que teve resultou de uma relação fora do casamento, e a quem dedicou parte da sua fortuna, mas não o palacete, que viria a ser deixado em testamento à afilhada Maria José Ferro, conhecida e respeitada na cidade pela sua preocupação com o próximo, tendo sido coordenadora dos voluntários da Delegação de Braga da Cruz Vermelha Portuguesa.