Barcelos: Bordado de Crivo de S. Miguel da Carreira já é património nacional

Bordado de Crivo. Foto: DR / Arquivo

A inscrição da “Arte de Bordar o Crivo em São Miguel da Carreira” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI) já foi aprovada, informou hoje a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).

O despacho de 19 de setembro, assinado por Rita Jerónimo, subdiretora do Património Cultural, aguarda, agora, publicação em Diário da República.

Em comunicado enviado a O MINHO, a DGPC explica que o bordado de crivo é uma arte têxtil com particular expressão no sudeste do concelho de Barcelos, sobretudo na freguesia de São Miguel da Carreira, sendo historicamente tributária dos antigos linhares que pontuavam os campos desta região, já que são de linho os panos sobre o qual é executado o crivo.

Esta arte adquiriu predominância a partir da segunda metade do século XIX, em paralelo com o bordado das Terras de Sousa e a renda de filé de Felgueiras, manifestações têxteis que apresentam algumas semelhanças estéticas e que são comercializadas com grande abundância em Guimarães, no Porto e na zona da Lixa.

“As bordadeiras de crivo são um elemento fundamental da memória coletiva e da história local das povoações do concelho de Barcelos, dado que este ofício têxtil ocupou uma boa parte das mulheres destas freguesias, de premeio com outras ocupações”, refere o documento.

As próprias bordadeiras reconhecem-se como elos de uma cadeia de mulheres que, pelo menos desde o século XIX, têm vindo a manufaturar o crivo. A maior parte tinha familiares mulheres que exerciam esta atividade e o “saber fazer” foi-lhes transmitido no seio da própria família, tendo muitas começado a bordar em idades precoces.

Tradicionalmente, o bordado de crivo de São Miguel da Carreira é muito utilizado no têxtil para o lar, assim como em contexto religioso na decoração de toalhas de altar ou de batizado. Mais recentemente, têm-se tentado novas abordagens ao aplicar o bordado de crivo em peças de vestuário.

No entanto, a situação do bordado de crivo é bastante frágil, dada diminuição do número de pessoas dedicadas a esta produção. Atualmente, apenas quatro bordadeiras de três unidades produtivas artesanais certificadas dominam todas as fases de produção do bordado de crivo.

Estas artesãs distribuem-se pelas freguesias de São Miguel da Carreira, Cambeses e São Martinho de Galegos, existindo algumas outras que trabalham apenas quando recebem encomendas.

Para inverter esta situação, a Câmara de Barcelos decidiu avançar para o processo de inscrição da “Arte de Bordar o Crivo em São Miguel da Carreira” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, contribuindo assim para o estudo e registo desta prática e para a implementação de medidas de salvaguarda que garantam a sua viabilidade futura.

“Com esta inscrição, a DGPC reconhece a importância da manifestação enquanto reflexo da comunidade da freguesia de São Miguel da Carreira, no concelho de Barcelos; os processos sociais e culturais nos quais teve origem e se desenvolveu o Bordado de Crivo de São Miguel da Carreira, desde o século XIX até aos dias hoje; e as ameaças e os riscos suscetíveis de comprometer a viabilidade futura da manifestação”, conclui o comunicado.

 
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