Associação acusa ministra do Ambiente de “dar cobertura a asneira” em cascata no Gerês

Obras polémicas no Parque Nacional da Peneda-Gerês
Cascata do Tahiti. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

A Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS) afirmou esta segunda-feira que a ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, “está a dar cobertura a uma asneira” quanto às projetadas obras na cascata de Fecha de Barjas, popularmente conhecida como Cascata do Tahiti, em Terras de Bouro, no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Segundo A FAPAS, “não é porque a obra da cascata de Barjas tem parecer favorável (condicionado, a quê?) do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), a que o Ministério do Ambiente deu, ontem, cobertura que uma asneira deixa de ser asneira”, refere um comunicado assinado pelo presidente da FAPAS, o biólogo Nuno Gomes Oliveira.

Aquela associação ambientalista considera que “mais de meio século depois da sua criação, há quem ainda não tenha percebido o que é o Parque Nacional da Peneda-Gerês”.

“As intervenções num parque nacional devem respeitar o carácter do local de modo a não ferirem a sua fruição. E não é porque a obra da cascata de Barjas tem parecer favorável (condicionado, a quê?) do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), a que o Ministério do Ambiente deu, dia 10, cobertura, que uma asneira deixa de ser asneira”, defende a FAPAS.

E vinca: “É que acidentes nos parques naturais, infelizmente, sucedem com frequência, como dia 11 dá notícia de um jovem afogado na barragem de Vale de Anta (Chaves) e de um  turista italiano que caiu numa ravina, nos Açores, quando percorria um trilho. Mas  não são estes acidentes que vão fazer cercar de grades os trilhos de montanha, ou proibir o acesso às albufeiras”.

“Um parque nacional é um território que guarda valores excecionais e únicos de paisagem, cultura, história, geologia e biodiversidade; um território em que, pela sua dimensão e pela ausência de grandes estabelecimentos e atividades humanas, a pressão do homem sobre a natureza se faz sentir com equilíbrio”, acrescenta a FAPAS.

“Territórios com estas características temos, em Portugal, apenas as serranias da Peneda-Gerês onde, para além da atividade florestal e da pastorícia, pouco mais aconteceu durante séculos”, pode ler-se ainda.

A FAPAS salienta que “no passado recente juntou-se alguma mineração, o termalismo e a produção de energia hidroelétrica, com o crime dos anos 70, a construção da Barragem de Vilarinho da Furna e o desalojamento de uma aldeia comunitária”.

“Nos tempos mais atuais juntou-se uma outra atividade humana, o turismo, atraído pela marca parque nacional e pela moderna cultura de ar livre e natureza; e esse também é o papel de um ‘parque nacional’, promover e acolher o recreio e o turismo, mas sempre com o devido cuidado para não colocar em risco o que se pretende mostrar”, frisa o comunicado.

“Acontece que o turismo foi exercendo uma pressão negativa sobre o Parque Nacional, e teve um impulso, nos anos 80, com a abertura permanente da fronteira da Portela do Homem”, observa a FAPAS.

“De ‘turismo de natureza’ evolui para ‘turismo na natureza’, incentivado por inúmeras práticas de exploração, sem sustentabilidade, das belezas naturais, e massificou-se, ultrapassando claramente a ‘capacidade de carga’ de algumas cascatas e locais como a Mata de Albergaria, o Soajo ou o miradouro da Pedra Bela. Se no passado o Parque Nacional da Peneda-Gerês era frequentado, quase exclusivamente, por pessoas preparadas para a montanha e, que se saiba, não havia acidentes nem visitantes perdidos, com o boom turístico passou a ser frequentado por pessoas sem preparação, a maioria com hábitos culturais urbanos e, como isso, vieram os acidentes”, nota a FAPAS, salientando que “também a extinção dos guardas-florestais, sempre presentes no território, contribuiu para a atual situação”.

“Mas não se atribuam as culpas apenas às cascatas de Barjas ou de Cela Cavalos, onde no passado dia 10 de agosto ocorreu mais um acidente grave que obrigou à evacuação por helicóptero do INEM, ou à necessidade de resgate e socorro de um grupo, no passado dia 04 de agosto na Gavieira (Arcos de Valdevez), em pleno Parque Nacional”, conclui a FAPAS.

 
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