O arqueólogo bracarense Luís Fontes, que ontem apresentou publicamente o livro “Sete Fontes. O Sistema de Captação de Água da Cidade de Braga (séculos IV-XX)”, defende que o projeto de criação de um parque ecológico para a zona – o Parque Ecomonumental – , devia passar por um Plano de Pormenor e por intervenções que salvaguardem a água e o sistema de captação oitocentista. E julga que será necessário alargar o debate sobre o futuro da zona, embora reconheça que já houve um período de discussão pública sobre o Plano de Urbanização.
Em declarações a O MINHO, Fontes enaltece a atitude camarária de preservar o monumento, com a criação de um Plano de Urbanização, bem como de criar um parque verde para a cidade, mas considera que as Sete Fontes ficariam melhor defendidas com um Plano de Pormenor que garantisse a preservação do conjunto arquitetónico e salvaguardasse o seu grande recurso, a água.
Nesse sentido, propõe que sejam feitas obras de reparação e limpeza das condutas de água que fluem, de forma natural, para a cidade, bem como das minas, algumas das quais estão assoreadas.
Entende, também, que a água que ali nasce, de excelente qualidade, e que ainda serve algumas casas bracarenses nos termos de um acordo antigo de usufruto, podia ser aproveitada para as fontes e os chafarizes da urbe, podendo, ainda, ir para um reservatório para ser usada em caso de necessidade, por exemplo, se houver um problema ou uma rutura na captação no rio Cávado.
Para a preservação da água, das nascentes e dos veios subterrâneos onde se infiltra, Luís Fontes entende ser necessário acabar com a zona industrial existente na zona, e com o parque de estacionamento do Hospital.
Monumento Nacional
O livro, apresentado na Livraria Centésima Página, tem coautoria dos arqueólogos Cristina Braga, Jorge Ribeiro, Mário Pimenta e Maurício Guerreiro.
Na introdução, os autores dizem que “a captação, condução e utilização da água para serviço da cidade de Braga constituiu, ao longo de séculos, um dos elementos que mereceu especial atenção por parte dos governantes da cidade, que sabiamente investiram na construção, ampliação e conservação do sistema hidráulico, cuja complexidade e qualidade foi maximamente realizada nas captações das Sete Fontes, localizadas a cerca de 5 km do centro urbano. Bem patrimonial de reconhecido valor, foi classificado como Monumento Nacional em 2011”.
Trabalhos arqueológicos
Os trabalhos arqueológicos aí realizados entre 2012 e 2015 permitiram acrescentar significativamente o conhecimento das caraterísticas construtivas e arquitetónicas das estruturas hidráulicas do sistema de captação das Sete Fontes, que conserva elementos de época romana, medieval, moderna e contemporânea, “constituindo um testemunho singular e com caráter de exemplo das soluções de engenharia hidráulica e suas expressões construtivas e arquitetónicas, na longa duração, podendo afirmar-se que constituem uma raridade em Portugal.
Com 128 páginas, o livro, de grande formato e profusamente ilustrado, descreve detalhadamente e contextualiza historicamente a sua evolução no tempo longo. Uma edição especial, limitada a 75 exemplares, inclui um notável levantamento cartográfico integral do sistema, à escala 1:100, com 59 páginas, “um documento único no panorama do estudo dos sistemas antigos de abastecimento de água”.