O Hospital de Santa Luzia abriu inquérito para apurar uma acusação de negligência médica. A brasileira Lais Atkočiūnaitė, que vive em Portugal há três anos, fez uma denúncia de que o seu DIU – metódo anticoncecional – foi mal inserido e foi parar na barriga por uma perfuração uterina. Diz ainda que informações sobre o seu caso não foram devidamente esclarecidas e reclama da quantidade de procedimentos feitos.
“Não tive nem acesso ao nome dos remédios que foram ministrados, nem ao médico que fez a cirurgia. Nada. Um desleixo e uma negligência por uma falha. Sentia-me violada com tanta gente e tanta coisa dentro de mim”, disse Lais ao O MINHO.
Tudo começou quando tinha duas consultas marcadas, uma de ginecologia, outra de planeamento familiar. Nesta segunda, decidiu pelo DIU como método anticoncecional que queria usar, e fez a inserção imediatamente.
“Causou dor e sangramento intenso. Voltei para casa e fiquei 15 dias assim. Neste tempo, os profissionais de saúde disseram que era normal. O sangramento cessou, mas sentia dor tipo fisgadas do lado esquerdo. Mencionei isso, e continuaram a dizer que era normal. Pedi uma ultrassonografia e negaram”, explica.
No exame para o Papanicolau, a médica verificou o DIU, lembra Lais. Não encontrou os fios. “Começaram mais exames, como toque e apertos daqui e dali. Fez no mesmo momento uma ultrassonografia transvaginal e não localizou o DIU. Outros médicos foram chamados, mais exames e toques. Neste momento que senti-me violada”.
Deu entrada na emergência e fez um raio-X. Verificou-se que o dispositivo estava fora do útero, “questionei como isso pode ter acontecido, e diziam que não sabiam, mas que tinha migrado para a barriga”. Entretanto, a forma mais provável é que houve uma perfuração uterina no momento da inserção. Foi direcionada para a cirurgia como prioridade, e seria usada a técnica da videolaparoscopia, que é menos invasiva.
Foi chamada duas semanas depois, mas a videolaparoscopia não deu certo. Ela explica que precisou ser feito um corte maior que a cesariana de cinco anos antes. “O que me deixa chateada é que me pegaram a visualização do prontuário médico. Não me explicaram absolutamente nada. Questionei diversas vezes o que aconteceu. Não tive respostas. Não tive nem acesso ao nome dos remédios que foram ministrados, nem ao médico que fez a cirurgia. Nada. Um desleixo e uma negligência por uma falha”, acusa.
“Acredito que nem o fabricante foi informado da ocorrência, pois admitir uma falha médica fere o orgulho. Agora estou cá, de repouso por um mês, com uma filha pequena, lesionada na minha vida pessoal e educacional”.
Lais é de São Paulo e vive em Portugal há três anos. Mudou-se para Vale de Cambra, mas manteve-se sob os cuidados do Hospital de Santa Luzia. Ela precisará fazer mais exames em alguns meses, e não tem a intenção de entrar com uma ação judicial.
O MINHO entrou em contato com a direção do hospital. O Dr. Franklim Ramos, Presidente do Conselho de Administração, informa que não há indícios de má prática clínica, mas determinou a abertura de um processo de inquérito para esclarecimento cabal da situação.