A artista plástica portuguesa Joana Vasconcelos inaugurou este sábado a primeira exposição individual na Alemanha, no museu Marx Ernst, em Brühl, e a mostra tem para si “um sabor especial”.
O “Coração de Viana”, uma das peças icónicas da artista, está no centro da exposição.
A peça aresenta-se sob a forma de um enorme coração de Viana, com mais de três metros de altura, preenchido com talheres de plástico vermelho. Suspenso a partir do eixo, a obra executa um movimento rotativo circular, acompanhado pelo som de três expressivos fados interpretados por Amália Rodrigues.
Intitulada “Maximal”, reúne uma seleção de vinte obras da artista “à volta da obra de Marx Ernst” e com uma “perspetiva sobre o surrealismo”, revela Joana Vasconcelos, em declarações à agência Lusa, acrescentando que a exposição resultou de um trabalho de mais de um ano.
“Há 30 anos fiz um InterRail e o meu objetivo era chegar a Berlim. Parei em Madrid, depois parei em Paris, e lá fui visitar o [Centro Georges] Pompidou onde havia uma grande exposição do Marx Ernst [pintor, escultor, artista gráfico e poeta, nascido na Alemanha]. Tirei uma fotografia com a ‘Capricorn’ [escultura de 1948], que é talvez a sua peça mais importante. Guardei sempre essa fotografia e, curiosamente, três décadas depois, estou a expor ao seu lado”, indicou Joana Vasconcelos, sublinhando que, por isso, a exposição tem um “sabor especial”.
Na mostra há uma “espécie de troca” em que a artista leva uma das suas obras para o meio da coleção de Marx Ernst, ao lado das suas esculturas, trazendo também uma peça para a sua exposição.
“Expor a primeira vez na Alemanha, sozinha, num museu, e esse museu ser o Marx Ernst, tem um significado particular para mim porque eu, há 30 anos, não sonharia sequer ser possível estar ao lado do Marx Ernst e ser artista plástica. Eu estava a iniciar os meus estudos. Hoje, quando olho para trás, penso que a vida dá mesmo muitas voltas. É incrível a vida ter-me trazido aqui, é fantástico”, destacou.
O trabalho a ser exposto inclui peças que vão desde os emblemáticos “Coração Independente Vermelho” e “Carmen Miranda”, da série “Sapatos”, até outras mais antigas, como “Brise” e “Spin” (ambas de 2001), “Esposas” e “Passerelle” (de 2005), passando por algumas raramente apresentadas ao público, como “Style for Your Hair” (2000), contemporânea de “Mise”, e que evoca, a grande escala, o processo de pintura de madeixas, ou “Matilha” (2005), conjunto de diversos cães de porcelana, cobertos com ‘crochet’.
“O coração de Viana [Coração Independente Vermelho] está no centro da exposição, o ‘Cottonopolis’, que é uma peça enorme que eu fiz para o museu de Manchester, contracena com a escultura do ‘Moonmad’ do Marx Ernst. Depois tem uma série de peças, como a ‘Pantelmina’, que é uma das primeiras feitas a tricô, tem umas peças ligadas à água e à casa de banho, uma série de peças ligadas aos cabelos… Na verdade, tem vários núcleos de obra que estão conjugados de forma a criar espaços totalmente diferentes”, frisou à Lusa.
Joana Vasconcelos realça que “não foi difícil” escolher as 20 obras, que vão estar expostas até ao dia 04 de agosto, no “Max Ernst Museum Brühl des LVR” e não esconde o desejo de levar o seu trabalho à capital alemã.
“Viajo para onde o meu trabalho me leva, adoraria fazer uma exposição em Berlim. Pode ser que depois desta venha um convite para Berlim”, confessou a artista plástica.
“Maximal”, a exposição, é inaugurada hoje, ao final da tarde.