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‘Tiny Houses’. Como o nome já deixa claro, são casas pequenas. Construídas sobre rodas, têm direito a matrícula e a serem ‘estacionadas’ onde as casas ‘normais’ não podem. Permitem, assim, a quem o desejar, contacto mais próximo com a natureza, tendo sempre associada a ideia de sustentabilidade. Tiago Cavalcanti, 43 anos, natural do Brasil, mas cidadão do mundo com vida feita nos Estado Unidos, Irlanda e Holanda, assentou arraiais há cerca de um ano em Braga e, em conjunto com dois sócios locais, ergueu a Casagaea, empresa que está a implementar o conceito de ‘Tiny Houses’ em Portugal, onde ainda é pouco conhecido. Para já, o empresário está a confirmar que a aposta em Braga era a correta e realça que estas ‘casinhas’, que custam entre 30 a 40 mil euros, estão a atrair o interesse de não só de portugueses, mas também de estrangeiros que procuram aqui viver ou investir.
O “choque” nos primeiros dias de Braga
Já não é a primeira vez que a vida de Tiago Cavalcanti se cruza com as páginas de O MINHO. Nos primeiros dias a viver em Braga, a carrinha de família, com a qual tinha vindo para Portugal, com a mulher grávida e os dois filhos menores, de cinco e quatro anos, foi assaltada.
Tiago Cavalcanti não esquece o “choque” ao ver a carrinha da família, “com as cadeirinhas de crianças”, devassada e com os vidros partidos. Afinal, tinha de Braga a ideia de um “local mais tranquilo” e, poucos dias depois, “acontece aquele incidente”. “Fiquei, de facto, chocado”, conta a O MINHO. “Mas não deixei que afetasse a imagem da cidade, porque em qualquer lugar do mundo há violência. Encarei aquilo como um azar, aconteceu comigo aqui como podia acontecer com qualquer um em qualquer lugar”.
Os pais mudaram-se para Braga há dois anos e meio
Tiago Cavalcanti saiu muito novo do Brasil, com 17 anos. Trabalhando para multinacionais, na área financeira da indústria farmacêutica e hospitalar, passou grande parte da vida nos Estados Unidos, seis anos na Irlanda e mais três na Holanda, antes de se fixar em Portugal.
“Essa função que eu tinha dava-me capacidade para fazer projetos internacionais”, recorda, dando conta de que há dez anos que vem a Portugal passar férias, mas sempre no Algarve. No entanto, desde que, há dois anos e meio, os pais se mudaram para Braga começou a vir mais à capital do Minho e “a descobrir mais a região norte”.
Daí começou a fazer pesquisas e a perceber que era uma localização que se encaixava bem para a empresa que tinha em mente abrir. Quando veio definitivamente, em fevereiro do ano passado, “foi mesmo para dar andamento à implementação do projeto”.
Um ano depois, o saldo é positivo: “Foi um ano de muitas conquistas, muitas coisas boas aconteceram. Apesar do contexto de pandemia, sentimo-nos realizados de várias formas. O nosso filho nasceu cá, o que é interessante, porque a mais velha nasceu na Irlanda e o segundo nos Estados Unidos. Cada um nasceu em países diferentes. Também conseguimos montar a empresa e construir a nossa própria casa”.
E acrescenta: “Foi tempo suficiente para desenvolvermos o sentimento de que estamos em casa. Os meus filhos já falam mais o português de Portugal e não tanto o brasileiro, como os pais, estão bem adaptados à escola”.
Viver bem com menos
Viver bem com menos. É este o propósito do movimento arquitetónico e social ‘Tiny Houses’, com o qual Tiago Cavalcanti tomou contacto no Estados Unidos da América. “Tive a oportunidade de ficar hospedado numa ‘Tiny House’ e apaixonei-me pelo conceito, não só por ser um tipo de alojamento agradável, mas o facto de ser um movimento baseado na questão da sustentabilidade do planeta”, explica o fundador da Casagaea. E reforça: “Existe essa ligação muito forte entre a ‘Tiny House’ e nós podermos contribuir para protegermos o nosso planeta. Foi isso que me atraiu”.
Por várias vezes ficou hospedado em ‘Tiny Houses’, começou a desenvolver o projeto e, com a pandemia, passou a trabalhar mais remotamente e teve, então, a oportunidade passar mais tempo em Braga, onde foi aprofundando a ideia.
Conheceu os dois sócios: o arquiteto Victor Schneider e o construtor Antinino Araújo. “Interessaram-se muito pelo projeto, montamos sociedade e abrimos a empresa”, recorda Tiago Cavalcanti, notando que estas sinergias confirmaram a “ideia que tinha de Braga”.
“Na região norte, existem pessoas qualificadas e boas empresas que podem fornecer-nos a matéria prima de que precisamos. Percebi que é uma região bem desenvolvida em Portugal nesta área industrial. Braga é desse ponto de vista um bom destino”, justifica.
Têm matrícula para circular nas estradas
Mas, afinal, em que consiste uma ‘Tiny House’? “É uma forma de podermos viver num espaço reduzido, mas sem abrir mão do conforto e ter a oportunidade de contribuir para uma vida mais saudável”, responde Tiago Cavalcanti, desenvolvendo o conceito: “O que seria uma vida mais saudável? Não estarmos tão apegados a bens materiais, mas à oportunidade que uma ‘Tiny House’ oferece, por ser móvel, de estarmos mais perto da natureza”.
“Para mim, a ‘Tiny House’ é a oportunidade de realizar o sonho de uma pessoa. E porque digo isto? Porque a maioria das pessoas que se interessam pelas ‘Tiny Houses’ sonham um dia estar mais perto da natureza e ter esse estilo de vida mais simples, sem abrir mão do conforto. A Tiny House pode proporcionar isso”, reforça o empresário.
As Tiny Houses são construídas em cima de um reboque, permitindo a sua mobilidade e também a sua colocação em locais vedados à construção de imóveis. “E vêm com matrícula, então podem circular livremente nas estradas nacionais, porque as construímos com especificação que as permitem circular em cima do atrelado”, refere Tiago Cavalcanti.
Então o que as diferencia das autocaravanas? “A grande diferença é que se entrar numa autocarava, sente-se dentro de um automóvel, quando se entra numa ‘Tiny House’ sente que entra numa casa. Numa autocaravana, o acabamento não o faz sentir dentro de casa. Quando entra numa ‘Tiny House’, sente-se dentro de uma casa, pela forma como é decorada, os espaços bem definidos, a salamandra… É realmente uma casa num espaço bem reduzido. E, desse ponte de vista, é bem difirente de uma autocaravana. A única semelhança é que ambas são sobre rodas, de resto todo o conceito é diferente”, responde.
Preços a partir de 30 mil euros
As ‘Tiny Houses’ têm um custo a partir de 30 mil euros e que pode chegar aos 40 mil, dependendo do modelo, do acabamento e demais opções. “Temos plantas diferentes e também constríamos modelos especificamente para atender os desejos dos clientes”, sublinha o fundador da Casagaea, cuja fábrica começou a funcionar há cerca de três meses e está a ter bastante procura.
Além dos sócios, a empresa já tem três funcionários fixos e está a oficializar a quarta contratação para a parte administrativa.
Tiago Cavalcanti nota uma “uma grande curiosidade das pessoas”, sendo muitas as que entram em contacto depois de encontrar a empresa na internet, nomeadamente estrangeiros.
“Uma senhora da Holanda encontrou o site, tem desejo de se mudar para Portugal e está interessada em vir visitar-nos aqui em Braga porque quer uma ‘Tiny House’ próxima do Gerês”, aponta, dando conta de outros contactos de França e Reino Unido. “Vêem Portugal como possível destino, seja como segunda cassa, para férias, ou como investimento para pôr essas ‘Tiny Houses’ como alojamento local”.
“Era o que eu suspeitava: Portugal seria um bom destino por ter essa procura de pessoas estrangeiras”, conclui Tiago Cavalcanti, assinalando que um compromisso que a empresa vai assumir é apoiar financeiramente investigação na área da sustentabilidade.