A 25 de abril de 1980, um grupo de jovens minhotos reunia-se para participar na celebração do 6.º aniversário da Revolução dos Cravos, no caso em Vila Verde, no distrito de Braga. Aí nasceu o RAÍZES – Grupo de Acção Cultural, que conquistou um lugar de destaque no panorama nacional da música tradicional. Passados 40 anos, o multi-instrumentista e autor Xico Malheiro, na banda desde setembro de 1980, relança a herança desta banda com um novo disco sobre o Minho – com o título provisório “40 anos a cantar raízes”, a editar em março.
“É o quinto disco do RAÍZES, ou, se preferir, o primeiro a solo de Xico Malheiro & RAÍZES”, diz o gestor da marca “RAÍZES” a O MINHO, contando para o efeito com os trabalhos produzidos pela banda em 30 anos: Raízes (LP, Orfeu/RT, 1982), Diabo do Belho!… (LP, Rádio Triunfo, 1985), Caminho d’Água (LP, distribuição da Euro Cartel, 1991) e Sexta Feira 13 (CD, Tradisom, 2010). O grupo era formado por Firmino Neiva (voz, viola braguesa, banjolim e bombo), Armando Machado (voz, viola, viola braguesa, banjolim, flautas, gaita de foles, ponteiro), Chico Malheiro (voz, cavaquinho, pinhas, banjolim), João Manuel Oliveira (voz, viola, bombo, caixa, reque-reque), Mira Lira (voz, bombo), Luís Vilela (voz, viola, paus), Isabel Dias (voz, ferrinhos), Gonçalo Gonçalves (voz, castanholas, bombo, ferrinhos, caixa) e Zeca Torres (voz, viola, viola braguesa, bombo) – este último, o outro membro de continuidade.
Entretanto, houve saídas, zangas e o RAÍZES quase estagnou. “Enquanto tiver força nos dedos para tocar e cantar, o RAÍZES não vai acabar. Já tive boas marés, más marés e menos marés… Podia ter seguido carreira militar, mas não quis por causa da música. Fui funcionário da Câmara Municipal de Vila Verde, mas para não ser visto de lado, saí”, explica Xico Malheiro, explicando a questão da propriedade intelectual.
“Eu é que detenho a marca. Fiz o registo e pago pelos direitos ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Na área do espetáculo, o nome RAÍZES não pode ser usado. Fui eu que assinei os papéis porque era eu que tinha disponibilidade na altura, mas podia ter sido qualquer outro membro”, esclarece.
Dez anos depois do último trabalho do RAÍZES e mais de mil espetáculos em todo o país e em países como Espanha, França, Luxemburgo e Dinamarca, chega outro disco. Como? “Participei em espetáculos do Zé Barros [José Barros Navegante] no Olga Cadaval [Sintra] em 2018 e a caminho de Vila Verde o José Moças [editor e proprietário da Tradisom] desafiou-me a fazer um disco”, rememora Xico Malheiro, que acrescenta que “tinha feito uma maquete na sala de trabalho do RAÍZES”.
Com José Barros como produtor, e a colaboração estreita de José Manuel David, o trabalho contará com 13/14 temas “quase a 100% minhotos com arranjos originais” e será editado pela Tradisom no próximo mês.
Vai ter Xico Malheiro como rosto e a banda RAÍZES como suporte. Integram o RAÍZES nomes como Rui Rodrigues (percussões), Zeca Torres, Luís Muxima, Jorge Rodrigues (guitarra braguesa) e a voz de Vânia Martins, que dará um toque de fado ao universo musical deste projeto. “Estou seriamente a pensar meter nesta banda um músico que toque concertina, um instrumento que sobressai em alguns temas, e mais um elemento feminino, para a voz e coros”, anuncia Xico Malheiro.
Neste disco ainda sem título definitivo, em produção no estúdio de José Barros em Sintra, colaboram nomes como o já referido José Manuel David (Gaiteiros de Lisboa), Artur Fernandes (Danças Ocultas), Sara Vidal (A Presença das Formigas; Aire; Diabo a Sete; Sons Vadios; Espiral…), Tentúgal (Vai de Roda), Mimmo Epifani (bandolinista da região de Puglia, no sul de Itália), Pedro Barreiros (irmão de Xico), Zezé Fernandes, Augusto Canário, Daniel Pereira Cristo e as Cantadeiras do Neiva.
Com a forte possibilidade de associar o álbum a uma marca de divulgação de música nacional, Xico Malheiro conta apresentar o trabalho ao vivo em maio, esperando poder mostrá-lo em vários palcos minhotos nesse mês, para depois pensar numa tournée fora do país.
RAÍZES chega aos 40 anos com vida e os mesmos objetivos: sem abandonar a música popular e tradicional e as suas características intrínsecas, apresentar composições próprias com um estilo personalizado, utilizando novas sonoridades, instrumentais e musicais, a diversificação de instrumentos, o rigor na execução e o compromisso em respeitar as tradições e costumes, acompanhando a evolução dos tempos.