O militar da GNR que ameaçava matar uma juíza esteve destacado para entregar expediente no tribunal onde ela trabalhava, em Vila Verde, foi esta sexta-feira referido em audiência no Tribunal de Braga.
O guarda cumpriu essa missão entre 2019 e 2020, numa ocasião em que o Conselho Superior da Magistratura alertava o Destacamento Territorial da GNR de Braga para eventuais agressões à juíza Alda Sá Faustino, cujas ameaças se estendiam às duas filhas da magistrada e aos procuradores Nuno Filipe Ferreira e Ana Isabel Peixoto, que também trabalhavam no mesmo tribunal.
Na audiência desta sexta-feira, no Palácio da Justiça de Braga, foi revelado que depois de ser decidido afastar o agora arguido, em alternativa passou a ser destacado para entregar diariamente expediente na secretaria do Tribunal de Vila Verde, onde trabalhavam precisamente todos os três magistrados alvo da revolta do militar, entretanto suspenso e desarmado.
A juíza vogal que presidiu à audiência quis esta sexta-feira saber se a hierarquia, isto é, os oficiais da GNR de Braga, achavam “oportuno” e “conveniente” determinar que aquele mesmo militar de quem os magistrados se queixavam de ameaças e perseguições a si próprios tivesse sido encarregado de ir todos os dias entregar papeladas ao mesmo local, que se aproxima da alegoria de “deixar o lobo a tomar conta das ovelhas”, dadas as ameaças.
A propósito, os juízes do Tribunal Coletivo de Braga fizeram questão de ler algumas das ameaças do guarda da GNR, especialmente direcionadas contra a juíza Alda Sá Faustino, à medida que os oficiais iam relativizando o potencial de perigo daquele militar.
O procurador da República que está a representar o Ministério Público neste julgamento considerou “muito estranho” que o guarda Carlos Pereira Lima, anunciando que queria atentar contra os magistrados de Vila Verde, fosse precisamente o mesmo encarregado de entregar expediente, até porque a psicóloga da GNR que o acompanhava quebrou o sigilo profissional, por levar muito a sério as intenções manifestadas pelo militar contra os três magistrados.
Tudo começou quando Carlos Pereira Lima foi condenado, através dos referidos três magistrados, por ter disparado na direção de um empresário de bombas de gasolina, de Vila Verde, que alegadamente devia cerca de 100 mil contos e não pagava ao pai do militar da GNR.
Ao longo de meses a fio, o guarda deslocava-se ao Tribunal de Vila Verde, assistindo a um elevado número de julgamentos em que participavam a juíza e os procuradores, que perseguia, entre o estacionamento dos seus automóveis e a entrada ou saída do Palácio da Justiça de Vila Verde, para além de os interpelar enquanto almoçavam nas traseiras, no restaurante Palácio.