Um homem conhecido por “Vidrinhos”, a aguardar a sua sentença por crimes de violência doméstica, contra a mãe, em Braga, foi novamente detido, ao fugir do Projeto Homem, em Vila Real, não cumprindo assim as medidas de internamento preventivo, tendo sido encaminhado para o Serviço de Psiquiatria do Hospital de Braga, até uma decisão definitiva do Tribunal de Braga.
Como tem problemas de esquizofrenia, com base em relatórios médicos juntos ao processo, o Ministério Público pretende que “Vidrinhos” seja não só condenado pelo crime de violência doméstica, como declarado inimputável, o que, neste último caso, se for decretado judicialmente, em vez de uma condenação de prisão efetiva, ficará sujeito a medidas de internamento compulsivo.
Fernando Jorge Alves Soares, conhecido como “Vidrinhos”, de 50 anos, natural de Braga, fugiu do centro de tratamento de toxicodependentes onde estava internado, em Bisalhães, Vila Real, e regressou a Braga, onde se hospedou, contactando a mãe, apesar de estar proibido de o fazer. Volta, agora, para o regime de internamento, como decretou o Tribunal Criminal de Braga.
As medidas de coação de internamento preventivo e de proibição de contactar a mãe, a quem terá agredido e insultado, para obter dinheiro, a fim de comprar droga, ao longo dos últimos meses, tinham sido decretadas aquando da sua anterior detenção. As restrições mantiveram-se durante a fase de julgamento, mas há uma semana o indivíduo desobedeceu às decisões judiciais.
O juiz, Emídio da Rocha Peixoto, decidiu esta semana que “Vidrinhos” fique a aguardar a leitura da sentença, agendada para o próximo mês de janeiro, internado no Serviço de Psiquiatria do Hospital de Braga, porque no Projeto Homem, em Vila Real, não há condições físicas para evitar novas fugas, nem sequer instalações que permitam uma separação entre doentes internados.
Violência doméstica em nome da droga
Segundo a acusação do Ministério Público, Fernando Jorge, ao longo dos últimos anos, tem vindo a infligir grande sofrimento mãe, atualmente com 76 anos, com maus tratos psíquicos e físicos, exigindo-lhe constantemente dinheiro para droga, estimando-se que ele precise de uma média de 100 euros diários para poder consumir drogas duras, quer heroína, quer cocaína.
Os relatos de violência doméstica são constantes, com queixas apresentadas na PSP de Braga, desde empurrões e agressões, a insultos, passando por partir imagens religiosas muitos queridas da sua mãe. Em 2015 escaqueirou no chão uma Nossa Senhora de Fátima. Exigia sempre mais e mais dinheiro para comprar drogas, chegando a roubar-lhe objetos pessoais.
Num dos casos, “Vidrinhos” roubou um tablet à mãe, que tendo o valor comercial de 270 euros, foi rapidamente trocado pelo equivalente a 40 euros de droga, levando a septuagenária “a ter um medo imenso do filho”. Recentemente, ameaçou-a que se iria “vingar” por o ter “posto em tribunal”, afirmando igualmente: “Empresta-me dinheiro, quero dinheiro, dá-me dinheiro”.
O Ministério Público considera que o indivíduo, divorciado e reformado por invalidez, tem vindo a “submeter a mãe a ameaças à sua integridade física, com situações reiteradas de violência doméstica”, cometendo os crimes através de “violência física e psíquica, humilhando-a e fragilizando-a, afetando a sua dignidade como pessoa humana”, longo calvário que tem de terminar.
O quotidiano da septuagenária, mesmo depois das medidas de coação que o seu filho frequentemente incumpre, vivendo só a idosa, “é de sofrimento e humilhação”, causando-lhe “nervosismo, medo, constrangimento e desgosto, o que lhe provoca ainda instabilidade emocional permanente, situações que se refletem no seu dia a dia”, acrescenta a acusação do Ministério Público.