“Um avião a rasar os anos dos meus sonhos”. Foi desta forma que José Teixeira, presidente do conselho de administração da dstgroup, classificou a inauguração, este sábado, de um trabalho artístico construído por Miguel Palma, desvendada esta manhã no campus daquela empresa bracarense, em Palmeira.
A obra, preenchida por “escala, megalomania e detalhe”, consiste em quatro estruturas [torres de energia], com cerca de 30 metros de altura, que através de uma cablagem, seguram um avião. Para o responsável, a arte é uma forma de escapar da insanidade mental, podendo “fechar farmácias” pois é uma cura para a loucura do dia-a-dia.
José Teixeira não deixou por mãos alheias o reconhecimento que granjeou ao longo dos últimos anos no apoio à cultura e poesia por todo o país. Na inauguração da obra, o empresário destacou os “artistas, atores, músicos” e todos “os que produzem beleza”, pois sem “beleza, não conseguimos ser competitivos e sem cultura não conseguimos sobreviver”.
O administrador do grupo, que está fortemente implementado no mercado estrangeiro, com especial incidência em grandes obras na Holanda, em França ou no Reino Unido, assume que os artistas são protagonistas do acto de fazer não esquecer o passado, para que “homens e mulheres” quando “olharem para trás”, não vão ver “um enorme buraco negro”.
“Esta permanente atenção às questões das artes funciona como uma espécie de saída para a sanidade mental que precisamos de ter hoje”, defendeu.
“Esta obra era um desafio da ativação de sinapses, responsaveis pelo sentir bem. Nesse sentido, já há uns anos encomendei esta obra ao Miguel, que se chama Zénite, e que no texto se chama voo em ti”, acrescentou.
O título dado pelo artista prevaleceu, mas José Teixeira, com o título sugerido, pretende passar uma mensagem de “procura da beleza, limpa, que subtrai o excesso e depura a perfomance de grupo”.
“A beleza é como um martelo que molda na bigorna as vieses, apara o mal e vence a mentira”, disse, em tom poético.
“Quando encomendei, pedi postes de energia que ninguém quer no seu quintal. Adicionei aero-geradores e pedi para pendurar um avião a rasar os anos dos meus sonhos. Isto fecha farmácias. Beleza e poesia”, destacou.
“Agradeço a confiança dada pelo engenheiro José Teixeira”
Miguel Palma, artista plástico que concebeu a obra, revelou que “há 12 anos” foi feito um pedido por parte de José Teixeira para uma “possibilidade de voo, um voo aparente, um voo que fica numa imagem”.
“O avião em si é pensado para voar, e todas as pequenas áreas deste avião são razão para se auto-sustentar no ar, neste caso, através de uma tecnologia que eu sozinho nunca iria dominar, numa posição de voo”, explicou, acrescentando que esta simulação é “uma paragem no tempo”.
“Ao longo da minha vida tenho tido um trabalho diário no meu atelier, como a maior parte dos artistas, mas nunca tive uma presença em projetos de ato público, nunca me convidaram para fazer rotundas, trabalhos perto dos lugares onde as pessoas passam e sempre senti, por um lado, algum desgosto, mas por outro lado, alguma satisfação, porque me sentia mais livre”, confessou o artista.
“Neste caso foi a liberdade total, porque tive uma empresa que me facilitou, construiu e criou as funções que eu muito dificilmente iria encontrar. Esta ligação, entre a arte, o artista e a engenharia de uma empresa como a dst, não é tão estranha no meu trabalho, porque eu sou uma espécie de engenheiro para os outros artistas”, argumentou.
“Na verdade, eu sou uma espécie de engenheiro falhado, e através da dst sinto-me a esse nível reconfortado e agradecido”, finalizou Miguel Palma.
“A zet gallery é O projeto”
Helena Mendes Pereira, diretora da zet gallery, destacou a “escala, megalomania e detalhe” do projeto de Miguel Palma. “Nesse desafio, nascem os engenhos, as máquinas, os objetos cheios de significado e significâncias”.
A responsável deixou elogios ao dstgroup e a José Teixeira pelo apoio à cultura: “Sinto muitas vezes que a zet gallery é O projeto. Faz com que cheguemos à galeria bem dispostas para trabalhar”, destacou.
Revelou ainda que o segredo para conseguir “montar e desmontar” rapidamente uma exposição de grandes dimensões passa por pertencer “à grande família” que é a dst. “Não nos falta nada e criar cultura nestas condições é um privilégio e deve ser um exemplo”, afirmou.
Sobre a obra Zénite, que passa agora a ficar em exibição permanente no campus da dst, em espaço público para que todos possam apreciar, Helena Mendes Pereira realça o “apelo à rebelião”.
“A obra do Miguel Palma apela à nossa rebelião, porque nos inquieta e porque não é uma obra de parte nenhuma, é uma obra do mundo, que tem um conjunto de signos globais mas com referências a lugares particulares”, vincou.
“[Miguel Palma] é, sem dúvida, um filho da Europa”, finalizou.
Exposição PROTÓTIPOS: MECANISMOS DE ENSAIO
Esta obra foi o ponto de partida para a exposição “PROTÓTIPOS: MECANISMOS DE ENSAIO”, que apresenta oito trabalhos antigos do artista, produzidos entre 2007 e 2019, alguns quase inéditos, e um conjunto de desenhos e esculturas produzidos, propositadamente, para o espaço da zet gallery.
Dos quase inéditos destaca-se o caso de “Origens” que, pela primeira vez, tornou o auditório da zet gallery em caixa negra de exposições. Juntam-se “Bipolar”, “Ocidente”, “Férias”, “Air Print”, “Bypass”, “Tempest in a Teapot” e “Oilofon”, tudo na “escala da ambição suprema, logisticamente falando”.