“Os trabalhadores da Coelima, que eu represento enquanto advogado, só vão aceitar uma eventual aquisição da empresa se o comprador der garantias de que mantêm os direitos adquiridos”. Quem o afirma a O MINHO é o jurista João Magalhães, com escritório em Braga, a propósito da anunciada intenção de compra por parte de três empresas ou grupos do setor têxtil e que terão sido apresentadas ao juiz titular do processo no Tribunal de Famalicão.
O causídico, que representa três funcionários, quadros da firma, diz que há trabalhadores com dezenas de anos de casa que têm direito a receber dezenas de milhares de euros cada um, quantia que, no caso de quadros técnicos, pode ir a 60 ou 70 mil euros.
Importa recordar que a Coelima esteve em pré-falência nos anos 90 do século passado, só tendo sido salva graças à intervenção do então Governador Civil de Braga, Fernando Alberto Ribeiro da Silva – já falecido -, o qual conseguiu convencer o primeiro-ministro de então, Aníbal Cavaco Silva a reestruturar a empresa, e a injetar muito dinheiro.
Apreensão de bens
Sobre as intenções de compra, João Magalhães salienta que, até agora, o juiz mantém a decisão de insolvência da Coelima, e ainda no final da semana ordenou ao administrador de insolvência que proceda à imediata apreensão dos bens, e também dos elementos de contabilidade da Devedora e de todos os seus bens, ainda que arrestados, penhorados ou por qualquer forma apreendidos ou detidos”.
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“Se não houver garantias escritas, em documento juridicamente válido, votaremos contra a venda da empresa e pugnaremos pelo arresto dos bens para garantir os direitos dos funcionários”, salientou o advogado, vincando que, se assim não for, e se a evolução da Coelima após uma eventual compra correr mal, os trabalhadores ficam sem nada”.
Última proposta é da Mabera
Recorde.se que, e conforme O MINHO noticiou, a têxtil Mabera, de Famalicão, apresentou uma proposta de recuperação e manutenção dos postos de trabalho da insolvente Coelima, que se segue a outras duas avançadas por dois consórcios de empresas do Vale do Ave o plano de insolvência entregue ao Tribunal de Comércio de Guimarães, os “vetores fundamentais” da proposta da Mabera passam por “manter a atividade da Coelima”, “manter os postos de trabalho”, “regularizar o passivo resultante dos créditos que venham a ser reconhecidos e verificados no processo” e “recuperar a confiança de fornecedores e clientes encerramento da atividade da empresa e a sua posterior liquidação arrastará para o desemprego os seus trabalhadores, o que constituirá foco de pobreza, instabilidade social e acréscimo de encargos para o Estado”, considera a administração da Mabera – Acabamentos Têxteis.
A Coelima – Indústrias Têxteis apresentou-se à insolvência no passado dia 14 de abril, na sequência da quebra de vendas “superior a 60%” provocada pela pandemia e da não aprovação das candidaturas que apresentou às linhas covid-19.
A empresa decidiu avançar com o pedido de insolvência, fruto da situação criada pela pandemia, que provocou uma forte redução das vendas e uma pressão sobre a tesouraria insustentável.
O anúncio da sentença de declaração de insolvência foi publicado em 22 de abril, com a empresa a apresentar um passivo de perto de 30 milhões de euros e cerca de 250 credores no final de 2020.
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Entre estes, destacam-se a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Fundo de Apoio à Concentração e Consolidação de Empresas (FACCE), que, no conjunto, “representam aproximadamente 80% do total do passivo extra grupo da Coelima, por referência a 31 de dezembro de 2020”, segundo a Petição Inicial (PI), a que a Lusa teve acesso.
A CGD detém 42% do passivo, mais de 8,5 milhões de euros, enquanto o FACCE representa 38% do passivo, mais de 7,8 milhões de euros.
A têxtil de Guimarães integra o grupo MoreTextile, que em 2011 resultou da fusão com a JMA e a António Almeida & Filhos e cujo acionista principal é o Fundo de Recuperação gerido pela ECS Capital.
Depois da restruturação realizada ao longo dos últimos anos, a Coelima esteve perto de ser alienada em março do ano passado, mas a operação acabou por não avançar, num contexto de incerteza gerada com a pandemia.