Os pais de Martin, ‘o guerreiro’, que ficou gravemente ferido após o carro onde seguia ter sido abalroado por um comboio, em Caminha, abriram um centro de tratamento neurológico inovador em Braga. É o primeiro do género na Europa. Amaya Guterres e Paulo Fonseca descobriram este tipo de tratamento no Panamá, o qual teve bons resultados com o seu filho, e decidiram trazê-lo para Portugal.
O Brain Treatment Center (BTC) abriu na segunda-feira, na rua Padre Armando Lira, tendo como grande novidade o tratamento inovador MeRT (Magnetic Ressonance Therapy), que consiste na estimulação do cérebro para potenciar os resultados das diversas terapias.
“Na nossa procura de melhor qualidade de vida para o Martin e entendendo as dificuldades que tínhamos cá em Portugal para conseguir aliar a fisioterapia, terapia ocupacional e a terapia da fala a outro tipo de tratamentos que pudessem potenciar todas essas terapias diárias que ele faz, encontrámos três clínicas no Panamá que trabalham em conjunto e em sintonia para promover precisamente esta melhoria diária nas terapias”, começa por contar a O MINHO a mãe de Martin.
O processo de tratamentos culmina em “resultados de optimização cerebral para, por sua vez, nas terapias conseguir ter resultados muito mais satisfatórios”.
Tecnologia MeRT
E em que consiste a tecnologia MeRT? “É um tratamento muito específico que começa da seguinte forma: primeiro é feito um eletroencefalograma (EEG) e um eletrocardiograma para perceber como funcionam o coração e o cérebro dessa pessoa. Com o resultado desses exames, a médica que trabalha connosco faz um relatório, discutido em conjunto com os vários técnicos e especialistas americanos”, explica Amaya.
É criado, então, um tratamento específico para cada paciente, “totalmente individualizado”. “A partir daí é que iniciamos o tratamento MeRT, que consiste numa máquina que dirige impulsos ao cérebro para estimulação”, detalha Amaya, usando uma analogia: “Imagine que o nosso cérebro é uma orquestra, tem todos os instrumentos, só que esses instrumentos não estão a funcionar de forma correta, cada um faz o que lhe apetece. O que precisa para funcionar de forma correta? Um maestro. E é isso que faz esta tecnologia MeRT. Vai fazer uma neuromodelação. É uma forma de que a informação chegue de forma correta aonde tem que chegar”.
A mãe de Martin explica que este tratamento funciona “para qualquer tipo de lesão cerebral” e também em “crianças com autismo”, entre outros vários problemas neurológicos.
Primeiro na Europa
O BTC é o primeiro a trabalhar de forma integrada na Europa e é direcionado sobretudo para crianças e jovens, embora o tratamento MeRT possa trazer benefícios para qualquer pessoa.
Segundo Amaya, já há estudos que mostram que a tecnologia MeRT afeta de “forma muito positiva o dia-a-dia destas crianças, que se tornam muito mais funcionais, despertas, ativas e mais predispostas para depois trabalhar nas outras valências como a terapia da fala, ocupacional e fisioterapia”.
Entre médicos, terapeutas e técnicos, o BTC tem seis pessoas a trabalhar diariamente.
Eletroencefalogramas gratuitos
Aberto na segunda-feira, já tem o ginásio a funcionar, estando já a ser atendidas crianças na parte das terapias.
O centro está também a realizar eletroencefalogramas (EEG) gratuitos. “Qualquer pai que esteja interessado pode vir aqui fazer um EEG quantitativo, que é diferente do que se faz no hospital. O que vamos medir é a modulação do cérebro. Com esse resultado conseguimos perceber as falhas do cérebro e os pontos exatos que temos de tratar”, explica.
Os pais de Martin importaram este tratamento inovador após terem visto as melhorias no seu próprio filho. Amaya dá conta da sua evolução: “O Martin, quando saiu do hospital, estava num estado ainda semicomatoso, não estava presente, não conseguíamos ter comunicação da parte dele. Pouco a pouco, começámos a notar que já começávamos a ter alguma comunicação, e decidimos que tínhamos de arranjar alguma coisa para potenciar isso ainda mais. Se ele já estava a despertar daquele estado de não presença, sentimos que precisávamos de dar ali uma ajuda, temos que ir mais longe. E foi quando fomos ao Panamá. A partir da vinda do Panamá, o Martin teve melhorias incríveis, uma presença completa. Ele não fala, está ligado a um ventilador, mas percebe tudo o que o rodeia. Tem capacidade de perceber absolutamente tudo o que lhe dizem. Posso dar-lhe um exemplo: ouve uma anedota e se for boa, ri até não poder mais. Consegue acompanhar um filme do início ao fim e nota-se que está a acompanhar porque reage a qualquer emoção que o filme possa ter, de forma espontânea”.
Também nas terapias, acrescenta, o Martin sente-se “menos cansado” e “colabora” e “empenha-se mais”.
Apesar de estar tetraplégico, com as terapias já consegue produzir “movimentos voluntários ao nível dos braços e das pernas”.
Este novo centro vem dar esperança a outras crianças e jovens como Martin.
Grave acidente em dezembro de 2020
Esteve nove meses em coma e agora vive ligado a uma máquina de apoio respiratório, encontrando-se dependente para todas as funções normais do dia-a-dia.
Na altura, fonte da GNR adiantou que “ainda no local a criança foi sujeita a manobras de reanimação, tendo sido transportada ao hospital de Santa Luzia”, passando depois para uma Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) num hospital do Porto, entrando em coma.
“O ferido grave, que seguia no banco traseiro da viatura, é amigo da criança de 11 anos que seguia, na frente, ao lado da mãe, condutora da viatura. Mãe e filho não sofreram ferimentos, mas a mulher foi transportada ao hospital de Viana do Castelo para receber assistência psicológica”, especificou a fonte da GNR.
A Infraestruturas de Portugal garantiu que “tanto os sinais sonoros como o mecanismo que aciona as barreiras da passagem de nível funcionaram”.