Os nossos Heróis 

Nem sei bem como traduzir o que sinto, por palavras a partir deste texto. Numa época em que as referências públicas muito nos desapontam e desiludem, vergo-me à tenacidade e espírito de sacrifício dos bombeiros portugueses. De todos eles sem exceção.

Desde que vivo no Alto Minho, e são apenas meses, assisti a dezenas de incêndios. Vi o que nunca tinha visto enquanto vivi na cidade, fosse no Porto, em Matosinhos, em Lisboa ou em Madrid.

Descobri, desde então, como é diferente viver fora das grandes cidades. Viver no campo e ser orgulhosamente campónio, como alguns agora me gostam carinhosamente de chamar. Mas, hoje não é sobre isso que quero escrever.

São muitas as vezes que me cruzo com carros dos bombeiros parados na berma da estrada. Homens a dormir ou a dormitar à sombra de uma árvore, após intermináveis horas de combate aos fogos.

Da minha janela vejo há vários dias um céu carregado por efeito dos incêndios de Caminha e de Cerveira e lembro-me da guerra que estarão a travar aqueles que lá estão sem descanso. Entretanto, são vários os “pequenos” incêndios no Vale do Lima que começam e acabam. Começam e acabam, sem se perceber já nada disto.

Eu não sei se andei distraído todos estes anos ou se foi a vivência da cidade que não me fez ver que estes homens são do melhor que uma sociedade pode desejar ter.

Gente abnegada que corre um enorme risco para defender os outros. Muitos são voluntários e aprenderam na família o gosto da corporação e do serviço ao próximo.

Quantas vezes me vejo batalhar na minha cabeça porque não encontro referenciais cívicos. Que distraído que ando! Os Heróis dos nossos dias são os Bombeiros.

Todavia, pagamos e continuaremos a pagar com os nossos impostos toda a ineficiência que envolve este sistema montado à volta dos incêndios, já há anos.

Temos gente nas prisões que poderia ajudar nas limpezas de matas e na prevenção dos fogos. Mas preferimos tê-los fechados, longe da sociedade, porque tememos a sua presença, ao mesmo tempo que advogamos a sua reinserção social. Nem distinguimos pequenos delitos de grandes crimes porque é mais confortável nem falar no tema.

Temos beneficiários do rendimento social de inserção que passam os dias nos cafés e estamos preocupados com o custo destes para a sociedade.

Um bombeiro ganha 2,30 euros por hora. Um preso custa ao Estado cerca de 50 euros por dia.

Se eu pudesse, num instante mudava o paradigma deste enorme crime ambiental, social, económico e cultural que são os incêndios.

 
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