O Quarteto Contratempus estreia em Vila Nova de Famalicão a ópera “18 Months”, com música de Dimitris Andrikopoulos e libreto de Fadi Skeiker, para abordar o tema cada vez mais urgente dos refugiados, com um apelo ao amor universal.
A estrear-se na quinta-feira, com repetição na sexta-feira, no palco da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, “18 Months” aborda um “tema atual, contemporâneo, urgente, e [que] cada vez mais será, terrivelmente”, nas palavras do encenador, Nuno M. Cardoso.
“A deslocação das pessoas do seu país, do lugar onde nasceram, para encontrar um melhor lugar, vai ser cada vez mais uma realidade, transversal a todos os países e continentes. Este tema é algo que me toca profundamente, no sentido humano, não humanitário, mas humano”, disse à agência Lusa o encenador do espetáculo que vai chegar ao Centro Cultural de Belém em 10 de abril e quer viajar para palcos internacionais, não só pelo tema, mas pelo facto de ser cantado em inglês.
A diretora artística do Quarteto Contratempus, Teresa Nunes, que é a soprano no elenco da ópera, afirmou que o objetivo era ir além da politização da questão dos refugiados, para assumir uma perspetiva “a favor da humanidade, de um amor universal, da paz mundial, e tornar esse amor como uma espécie de antídoto para a guerra e o conflito”.
Desenvolvida ao longo dos últimos dois anos, com música e libreto original, como todas as óperas do Quarteto Contratempus, a criação do libreto levou o sírio Fadi Skeiker a conversar com refugiados afegãos, sírios e ucranianos em Portugal, inspirando-se nos testemunhos para que pudesse “universalizar”, nas palavras de Teresa Nunes.
A ópera aborda a “ideia de viagem que é feita não à descoberta, não heroica, mas humana, de alguém que tem uma necessidade, que precisa, para sobreviver, de procurar um outro lugar”, disse o encenador.
No desenho da peça, Nuno M. Cardoso recorreu também à ideia de linhas, desde as que ligam dois pontos de um percurso às que estabelecem fronteiras, muitas vezes criadas como resultado da decisão de alguém, de uma política ou de um contexto histórico.
“São três as abordagens que tenho: uma em relação à matéria escrita e à referência sobre a realidade que me toca, esta dimensão humana; a segunda, esta relação sobre as linhas que se estabelecem entre a criação e a realidade; e a terceira sobre a dimensão musical que também influencia os ritmos, os tempos, a velocidade”, afirmou o encenador.
A peça conta com uma personagem que representa os refugiados, de nome Ahmad, com os seus “companheiros de infortúnio e de procura de um lugar seguro”, a par de figuras não-humanas, o Pai e Salma, que observam a realidade a partir de um ponto de vista superior, colocando várias questões sobre poder, estatuto ou possibilidade de mudança, explicou Cardoso.
Há depois duas personagens – Cláudia e Inês – que representam quem acolhe os refugiados, no primeiro caso como figura da burocracia que “desumaniza” e, no segundo, alguém mais empático, mas sem experiência em primeira mão do que significa estar desenraizado.
“Esta ópera diz que ainda há muito caminho a percorrer e nós sabemos disso, mas queremos que ela seja aberta o suficiente para não ser moralista e para que cada pessoa que venha assistir leve o que seja importante para si. E se isso mudar um bocadinho do mundo de cada um é incrível para nós”, afirmou Teresa Nunes.
Com música original do grego Dimitris Andrikopoulos e libreto do sírio Fadi Skeiker, a ópera, para maiores de 12 anos, encenada por Nuno M. Cardoso, tem cenografia e figurinos de Nuno Carinhas com interpretação de Teresa Nunes, Miguel Leitão, Crispim Luz, Carolina Leite Freitas e Bernardo Pinhal.