E chegada a época, os desejos de bom Natal concluem as frases, em apêndice ao bom dia, boa tarde, boa noite.
O que é um bom Natal?
Um entra e sai de festa em festa até nos rebolarmos enfartados para a última ceia na mesa farta de consoada, interregno de alguns dias, e nova torrente de iguarias para digerir na passagem de ano?
Um corridinho em maratona pelas lojas, numa espécie de transe coletivo ou rally paper da aquisição de artigos para ofertar, tendo esse objeto supostamente um significado comovente de gesto de carinho para com alguém de quem se gosta?
Um contrarrelógio entre catálogos promocionais em busca do presente sonhado pelas crianças ao melhor preço, acabando por, na euforia da compra e hipnotizados pelas técnicas de marketing, se adquirirem outras quinquilharias completamente dispensáveis, perdendo-se o que se poupou?
Para não sobrecarregar o espírito, à parte ficam as linhas sobre como pode existir esse bom Natal, de paz e amor, se o mundo está em guerra e o sofrimento devassa uma grande fatia da família humana.
Não sou indiferente ao Natal.
Sabe-me bem andar à deriva pelas ruas iluminadas a cortar o frio entre pensamentos e pessoas, sabe-me bem estar viva, sabe-me bem estar com quem gosto, sabe-me bem sentir-me cristã, sabe-me bem sentir mais a presença de Deus na época natalícia, apesar do ruído de fundo.
Isso é para mim o bom Natal.
Natal de tempo e de afetos, Natal humano.
Tudo o resto é artefacto.