Os nomes mais sonantes do PSD da região do Minho têm vindo a revelar quem apoiam na corrida à presidência do partido nas eleições diretas que se realizam a 04 de dezembro próximo. A disputa promete ser acesa entre Rui Rio e Paulo Rangel, sendo este quem reúne mais apoios de figuras de proa na esfera distrital de Braga, entre eles os autarcas Ricardo Rio (Braga), Mário Passos (Famalicão) e Benjamim Pereira (Esposende), assim como o eurodeputado José Manuel Fernandes que, num passado recente, havia apoiado Rui Rio. Mas no que ao Minho diz respeito, Rio conta com o apoio impactante do líder da distrital de Viana do Castelo, Olegário Gonçalves, dos líderes das concelhias de Bruno Fernandes (Guimarães) e António Lima (Barcelos) e do presidente da Câmara de Barcelos, Mário Constantino. Nenhum dos líderes das concelhias de Viana do Castelo se quis pronunciar até ao momento. Já o presidente da distrital de Braga, Paulo Cunha, prefere manter uma “posição equidistante”, conforme revelou a O MINHO, não seguindo assim em linha com a grande maioria dos líderes das outras distritais que já se colocaram ao lado de Rangel. O 39.º Congresso do PSD decorre entre 14 e 16 de janeiro, em Lisboa, onde será aclamado o vencedor.
“Entendi que não devia apoiar nem Rui Rio nem Paulo Rangel, pois considerei que neste momento devo optar pela equidistância em relação às eleições internas, não deixando de reconhecer em ambos os candidatos qualidades para presidirem ao PSD,”, revelou-nos Paulo Cunha, presidente da distrital do PSD, ele que resolveu não se candidatar a um terceiro mandato na Câmara Municipal de Famalicão, o que desde logo foi interpretado como uma vontade de ganhar espaço no partido para começar a desenhar uma alternativa na liderança do PSD. Mas o dirigente que saiu de cena em Famalicão para se dedicar às profissões de advogado e professor universitário, havia revelado publicamente que nunca quis concorrer à presidência do PSD. Por seu lado, o seu sucessor na cadeira presidencial do município famalicense, Mário Passos, já anunciou o “apoio inequívoco” a Paulo Rangel.
Olegário Gonçalves, que preside à distrital do PSD de Viana do Castelo, entende ser Rui Rio a melhor opção do momento “para liderar o partido e o país”, conforme revelou ao nosso jornal.
“Trata-se de uma questão de continuidade e de percebermos que Rui Rio é o mais capaz para exerce funções como líder do partido e primeiro ministro”, referiu, para lançar um apelo de seguida: “caso o orçamento de Estado não seja aprovado, gostava de apelar ao bom senso entre as partes para que se unam em torno da candidatura de Rui Rio para assim ser possível darmos uma imagem de coesão e de força”.
O líder da distrital vianense mostra alguma insatisfação pelo timing da realização das eleições diretas, mas acredita que as bases do partido vão dar a vitória a Rio e “legitimar o seu trajeto político em crescendo que já deu bons resultados nas últimas autárquicas”.
Quem tem a mesma opinião é o novo presidente da Câmara Municipal de Barcelos, Mário Constantino, que, em declarações a O MINHO, sublinha: “num cenário de eleições antecipadas é Rui Rio quem, inequivocamente, reúne melhores condições para continuar a ser líder do nosso partido”, justificando esta opinião com “o trajeto político e a consistência” de Rio.
Também Bruno Fernandes, que dirige a concelhia de Guimarães, se decidiu pelo apoio a Rui Rio, ressalvando que o faz a título individual, até porque existem elementos da organização afetos a Paulo Rangel.
“A minha posição é individual e entendemos que a comissão política não devia tomar posição, fruto dessa divisão de opiniões”, realça. No entanto, faz questão de frisar que “no atual momento do arco de governação, Rui Rio é o líder ideal para o PSD conseguir vencer as legislativas”, razão pela qual já o apoiou nas eleições diretas realizadas há dois anos.
Reforço de peso para Rangel é José Manuel Fernandes, o influente eurodeputado vilaverdense que entende agora ser a altura ideal de mudança na vida interna do partido. Em declarações a O MINHO, José Manuel Fernandes justifica o seu apoio a Paulo Rangel com o facto de o PSD precisar “de um líder moderno”, que conheça “não só os dossiers nacionais como também os europeus e que tenha uma rede de contactos que não se circunscreva a um território”.
“Vivemos num mundo global e o PSD precisa desse tipo de líder”, destacou.
Quem também manifestou o apoio a Rangel foi Ricardo Rio. De resto, o discurso do presidente da Câmara de Braga foi bastante aplaudido na sessão de apresentação de Paulo Rangel à liderança do partido que decorreu, neste domingo, no Palácio da Bolsa do Porto.
Em 2010, Ricardo Rio já tinha estado ao lado de Rangel na sua corrida à liderança, preferindo não se manifestar nas duas últimas eleições internas, para voltar de novo a apoiá-lo neste ato eleitoral.
Em declarações a O MINHO, Ricardo Rio vê em Paulo Rangel um político com um “discurso moderno e mobilizador”, alicerçado “numa visão transformadora da sociedade portuguesa, onde pontificam prioridades claras”.
Segundo Ricardo Rio, Rangel “é o elemento que pode catalizar o partido e o país para a viragem que todos ambicionamos”, saudando a preocupação do candidato com os setores cultural e social e com a sustentabilidade.
Com a ambição de ver Paulo Rangel na liderança do partido, Ricardo Rio espera que o PSD “possa de novo assumir o seu papel liderante no espectro não socialista” e que, tal como aconteceu com Sá Carneiro, Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho, “o futuro líder do PSD e futuro primeiro ministro consiga resgatar o país do socialismo e nos possa devolver essa ambição transformadora”.
Refira-se que o líder da concelhia de Braga do PSD, João Granja, e Olga Pereira, vereadora da autarquia bracarense, decidiram não manifestar apoio a qualquer dos candidatos, sendo que o vereador João Rodrigues optou por apoiar Paulo Rangel. Em sentido contrário, conforme já havíamos noticiado, Rui Rio acolhe os apoios de Firmino Marques, deputado e ex-vice presidente da autarquia, Rui Sá Morais, gestor da Agere, e Sónia Palmeira, da comissão política local.
Contagem de espingardas com Rangel à frente
Rangel está neste momento em vantagem nos apoios dos lideres das mais importantes distritais, incluindo Porto e Braga, que foram bastiões cruciais para Rui Rio, mas este tem desvalorizado o peso do aparelho, facto que, por exemplo, foi realçado a O MINHO por Olegário Goncalves ao referir que “os militantes de base estão com Rui Rio”.
Rui Rio ponderou não se recandidatar à liderança do PSD, mas o apoio que recebeu das bases na digressão autárquica pelo país, fizeram-no reconsiderar e ir a votos contra Paulo Rangel. Na apresentação da sua candidatura, Rui Rio não mencionou nomes, mas referiu-se implicitamente a Paulo Rangel ao afirmar que o PSD “tem de ser um partido de homens e mulheres livres, não podendo ser uma coutada seja de quem for, principalmente daqueles que muitas vezes se movem pelo seu lugar pessoal”.
A respeito, salientou: “o que está em causa é Portugal, é a escolha do próximo primeiro-ministro, não estamos perante a escolha de um bom tribuno ou eficaz angariador de votos partidários”.
No seu entender, o PSD está mais perto de vencer as próximas legislativas, considerando prejudicial para o partido e para Portugal “se o PSD mudasse de presidente no justo momento em que o país deu sinais evidentes de abertura para votar no PSD”.
E acrescentou: “depois da manutenção do Governo regional da Madeira, recuperação do Governo regional dos Açores, do contributo dado para a eleição do Presidente da República, recuperação da governação da capital do país e reconquista de um conjunto alargado de metas, a única etapa que nos falta é ganhar as legislativas”.
Por seu lado, Paulo Rangel vai somando vários apoios no aparelho e enquanto candidato a líder já disse que não se conforma “com um partido que está à espera de que o poder socialista se afogue no pântano ou caia de podre”, sublinhando que o PSD “não pode ser o partido da espera e tem de ser o partido da esperança”. Paulo Rangel garante estar preparado para triunfar nas legislativas de 2023 sobre o PS, que culpa “por duas décadas de estagnação em Portugal”.
Quem é quem
Rui Fernando da Silva Rio , de 64 anos, nasceu no Porto a 06 de agosto de 1957, foi presidente da Câmara Municipal do Porto entre 2002 e 2013 e é presidente do PSD desde fevereiro de 2018.
Rui Rio entrou na política através da Juventude Social Democrata, onde foi vice-presidente da Comissão Política Nacional, entre 1982 e 1984. Aos 18 anos aderiu também ao Partido Social-Democrata. Nesta estrutura, entre 1996 e 1997 foi secretário-geral da respetiva Comissão Política Nacional, com Marcelo Rebelo de Sousa como presidente. De 2002 a 2005, foi vice-presidente, sendo líderes Durão Barroso e, subsequentemente, Pedro Santana Lopes. Repetiria o cargo, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite.
Rio foi eleito deputado à Assembleia da República, pelo Círculo do Porto, nas legislaturas iniciadas em 1991, 1995 e 1999, abandonando nesta última o mandato de deputado após ser eleito Presidente da Câmara Municipal do Porto, nas eleições autárquicas de 2001. Foi ainda vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD e seu porta-voz para as questões económicas.
Depois de ter conquistado a maioria relativa nas autárquicas de 2001, Rio foi reeleito presidente da Câmara Municipal do Porto, com maioria absoluta em 2005, contra Francisco Assis, e em 2009, contra Elisa Ferreira. Terminou o seu terceiro e último mandato em 22 de outubro de 2013, sendo o autarca que, na história da cidade, durante mais tempo presidiu aos seus destinos.
Paralelamente, durante oito anos (2005-2013), presidiu também à Junta Metropolitana do Porto, o que, até hoje, constitui igualmente o período máximo de tempo no desempenho desse cargo.
Foi, finalmente, presidente do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular, entre 2003 e 2005.
Publicou Política In Situ (2002) e Análise à Distribuição Regional do Investimento Público (1999), colaborou nos jornais O Comércio do Porto, Público e Diário Económico. Foi distinguido com o Prémio Personalidade Marketing Cidades e Regiões 2004 e, em 2005, com o Prémio Alfredo César Torres. Em 2012, ganhou o Prémio Carreira da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
Em 2014, foi publicada a sua biografia da autoria de Mário Jorge de Carvalho, intitulada Rui Rio – de Corpo Inteiro. Um ano mais tarde, em 2015, foi publicado o livro Rui Rio – Raizes de Aço, da autoria de Carlos Mota Cardoso.
A 10 de junho de 2006, foi agraciado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
É de novo Deputado à Assembleia da República desde outubro de 2019 e Conselheiro de Estado desde novembro do mesmo ano, eleito pela Assembleia da República.
Rui Rio anunciou a sua candidatura à liderança do PSD a 11 de outubro de 2017, em Aveiro. Nas eleições diretas do partido, marcadas para 13 de janeiro de 2018, defrontou o ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, tendo saído vitorioso com 54,37% dos votos dos militantes do PSD. Tomou posse no 37º congresso do PSD, realizado em Lisboa, de 16 a 18 de fevereiro de 2018.
Em 2020, Rui Rio recandidatou-se a Presidente do PSD, concorrendo, numa primeira volta que teve lugar a 11 de janeiro, contra Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz, tendo reunido 15 546 votos num universo de 32 082 votantes. A segunda volta, que decorreu no dia 18 de janeiro, deu o segundo mandato a Rui Rio, com 17 157 contra os 15 086 de Luís Montenegro, num universo de 32 582 votantes. O reeleito Presidente do PSD tomou posse no 38 .º Congresso, realizado em Viana do Castelo, de 7 a 9 de fevereiro de 2020.
Paulo Artur dos Santos de Castro de Campos Rangel, de 53 anos, nasceu em Vila Nova de Gaia a 18 de Fevereiro de 1968, passando a infância e juventude no norte do país, tendo crescido entre Vila Nova de Gaia, Porto e Gondomar.
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, em 1991 é advogado de profissão, dedicando-se especialmente ao Direito Administrativo e ao Direito do Ambiente, sendo também docente naquela universidade.
Foi distinguido com o Prémio D. António Ferreira Gomes, da Universidade Católica (1986) e com o Prémio René Cassin, do Conselho da Europa (1989) e condecorado com Grã-Cruz do Mérito com a Estrela da Ordem do Mérito da Alemanha (2009).
A primeira participação de Paulo Rangel na vida política deu-se nas eleições autárquicas de 2001, quando o PSD e o CDS-PP lhe confiaram a redação do programa de candidatura à Câmara Municipal do Porto, encabeçada por Rui Rio. Rangel estaria, então, mais próximo do CDS, chegando a filiar-se, a convite de Lobo Xavier. Quando Aguiar-Branco foi nomeado Ministro da Justiça do XVI Governo Constitucional (PSD/CDS-PP), este indicou Rangel a Pedro Santana Lopes, para ser Secretário de Estado Adjunto da Justiça do mesmo governo.
Depois da queda do governo de Santana Lopes, Rangel foi incluído nas listas do PSD para as legislativas de 2005. Eleito deputado à Assembleia da República, pelo Círculo do Porto – altura em que formalizou a sua adesão ao PSD – viria a ter um papel de destaque no Parlamento com a chegada de Manuela Ferreira Leite à liderança, que o indicou para presidente do Grupo Parlamentar, em junho de 2008.
No ano seguinte, em 2009, foi a escolha de Ferreira Leite para encabeçar a lista do partido às eleições para o Parlamento Europeu, das quais saiu vencedor. Desde a sua eleição coordena o Grupo Europeu do PSD, sendo igualmente vice-presidente do Grupo Parlamentar do PPE. Em 2011 passou também a presidir ao então criado Grupo Parlamentar União Europeia-Brasil. Já em 2015 foi eleito vice-presidente do PPE, no congresso de Madrid, realizado a 22 de Outubro desse ano.
Em fevereiro de 2010, com o fim do mandato de Manuela Ferreira Leite, Rangel disputou com Pedro Passos Coelho e Aguiar-Branco a liderança do PSD. Apresentou como mandatário nacional António Capucho, e saiu derrotado por Passos Coelho, mas venceu sobre Aguiar-Branco.
Nas eleições europeias de 2014, Rangel foi convidado por Pedro Passos Coelho para encabeçar de novo a lista do PSD, que acabou por fazer lista conjunta com o CDS-PP. Embora tenha sido ultrapassado pela candidatura do PS, a lista encabeçada por Rangel obteve 27,71%, elegendo 7 deputados ao Parlamento Europeu (em 21), contra 31,46%, obtidos pelo PS. O resultado obtido face às expetativas internas do PS nestas eleições, que esperava uma maior margem de vitória perante a coligação PSD/CDS-PP, numa altura em que o governo formado por estes partidos aplicavam as medidas impopulares do memorando de Portugal com a Troika, viria a causar uma crise política interna no PS.
No passado dia 14 de Outubro, Paulo Rangel anunciou a sua candidatura à liderança do partido, durante o Conselho Nacional do PSD.
Rui Feio de Azevedo