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Mais de uma centena de pessoas participaram na segunda marcha LGBTI+ de Barcelos, na tarde deste sábado. Os intervenientes assinalaram que a pandemia tornou mais vulnerável a situação da comunidade LGBTI+. E foram muitos os alertas para o recrudescimento da extrema-direita, do ódio e da homofobia. Bloco de Esquerda, PAN e MAS foram os partidos políticos representados, além dos núcleos antifascistas de Barcelos e Braga.
“Nem menos nem mais, direitos iguais” e “A nossa luta é todo o dia contra o machismo, o racismo, a homofobia” foram algumas das palavras de ordem da marcha que começou com uma concentração no Praceta Francisco Sá Carneiro, partindo, depois, por um pequeno trajeto no centro da cidade. Entre os participantes, muitos jovens, não só de Barcelos, como do distrito e até do Porto.
A primeira marcha LGBTI+ em Barcelos realizou-se em 2019 e no ano passado não houve devido à pandemia. Voltou hoje à rua. “Foi bastante tempo em casa. Esta marcha serve como um momento de reivindicação dos nossos direitos e celebração da liberdade”, refere Miguel Martins, membro da comissão organizadora, salientando que, com a pandemia, “milhares de pessoas ficaram em situações mais vulneráveis e a comunidade LGBTI+ foi das mais afetadas”.





E exemplifica: “As redes de apoio, os locais de refúgio das pessoas LGBTI+, principalmente os jovens, onde se sentiam em segurança, deixaram praticamente de existir com a pandemia. Muitos deles foram para casa, ficaram em espaços confinados, às vezes, em situação de violência, física ou psicológica”.
Miguel Martins acrescenta que essa “situação de isolamento” teve também impacto na saúde mental bem como no próprio mundo laboral onde “a instabilidade que já existia” para a comunidade LGBTI+ se “agravou, como para todas as pessoas do país”.
“Ver tanta gente deixa-nos orgulhosos”







O membro da comissão organizadora afirma que o objetivo não passa por “contabilizar” as presenças, mas não esconde o agrado pela adesão, que superou a centena de pessoas. “Não estamos aqui para contabilizar, mas obviamente ficamos entusiasmados por termos um grande número de pessoas – estávamos a contar com menos, dadas as condições atuais e o calor que está”.
“Ver tanta gente presente nesta segunda marcha deixa-nos orgulhosos. Vemos que as pessoas saem à rua para reivindicar direitos humanos, que são os direitos LGBT. Vemos por este momento de luta e celebração que vale a pena a fazer estas iniciativas”, reforça.
Primeira marcha em 2019 foi “marco histórico” na cidade
A primeira marcha em 2019, recorda, foi como “abrir uma caixa de Pandora”. “Pela primeira vez, Barcelos teve um momento de luta e celebração do orgulho LGBTI+. Esse momento foi histórico, um marco na cidade. As pessoas que estavam na rua ficaram a olhar, começaram a falar umas com outras e isso foi um momento marcante que começou a sensibilizar as pessoas de que existe uma comunidade LGBT em Barcelos, tal como existe em todas as cidades do país, com maior ou menor expressão”, analisa Miguel Martins.
E acrescenta que, apesar das dificuldades que a comunidade enfrente, tem havido progressos: “Em Barcelos ainda encontramos várias dificuldades, como em todo o país. Há muitos problemas que as pessoas LGBTI+ sentem, seja no acesso à saúde, na escola, no dia a dia, nos locais de trabalho. Há uma discriminação que tem de ser combatida. As pessoas sentem isso na sua pele diariamente. Ainda assim, fomos alcançando desde o início da luta LGBTI+ em Portugal várias conquistas, seja através da criação de instituições mais ou menos formais, iniciativas legislativas ou as próprias marchas. Vemos que há cada vez mais abertura e consciencialização paras pessoas LGBTI+”. Contudo, conclui, “há muito a fazer no combate a preconceitos e discriminação”.
BE destaca que Barcelos é espaço de liberdade LGBTI+
José Maria Cardoso, deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia da República, salienta que o partido “não poderia deixar” de estar presente nesta marcha, uma vez que “é uma das lutas que trava desde há muito”.
“Estamos a falar de direitos iguais. Cada pessoa toma a opção de vida que muito bem entende e não pode, de maneira alguma, sofrer algum constrangimento por isso. Uma sociedade é tanto mais livre quanto menos discriminações tiver e , nessa perspetiva, ela só é verdadeiramente livre quando não houver discriminações”, defende.
O deputado salienta que no Parlamento o BE “sempre teve uma posição frontal no sentido de criar legislação que assegurem esses direitos”, mas também o faz a nível local. Por proposta do partido, a Assembleia Municipal de Barcelos aprovou, por larga maioria, uma moção que torna Barcelos um espaço de liberdade LGBTI+.
“Pode ser simbólico, mas é a criação de condições para que, de um ponto de vista legal, daquilo que é o lado institucional, seja possível e se torne uma prática cada vez mais usual o direito à participação de todos. Sabemos que há políticas que têm vindo em crescendo a defender situações completamente contrárias e temos que as saber combater”, afirma o deputado barcelense, considerando-se “orgulhoso” por na sua cidade haver uma marcha LGBTI+ que se realiza pela segunda vez.
Vídeo: Pedro Luís Silva/ O MINHO
“É preciso sair do armário, é preciso que as pessoas se afirmem da forma como bem entendem e tenham a possibilidade de se manifestarem pelo seus direitos. É para mim um orgulho como barcelense isto acontecer na minha cidade”, conclui.
Manuel Carlos Silva, candidato do BE à Câmara de Barcelos, também esteve presente e considerou que o partido é “defensor de todas as liberdades” e a liberdade sexual “é fundamental”.
“Não há apenas um único modelo de família”, aponta o candidato, defendendo “a liberdade e aceitação de diferentes tipos de família”. “As crianças têm o direito de serem protegidas e tanto podem sê-lo por casais heterossexuais como homossexuais. Por isso, sou defensor desta manifestação e que elas se multipliquem por outros lugares e municípios do país”, remata.


“É um protesto pelos direitos humanos”, defende PAN
Rafael Pinto, porta-voz distrital do PAN e candidato à Câmara de Braga, considera que “é importante” a presença do partido nesta marcha, porque se trata de “uma questão política”. “E se queremos o avanço da igualdade, que é disso que se está a falar, do fim da discriminação, é importante que as pessoas saibam quais são os partidos políticos que têm esta posição e ao longo dos últimos anos têm lutado na Assembleia da República, nas assembleias municipais e nas câmaras para fazer avançar a causa LGBT”.
“Marcamos presença nesta marcha pela segunda vez, porque acreditamos que na rua se faz muito a diferença. Os partidos têm que sair dos gabinetes e vir para a rua mostrar que estamos a lutar por estas causas e queremos fazer isto avançar. E acima de tudo queremos o apoio popular. As marchas ajudam a sensibilizar e a mostrar que há uma força por detrás destas causas. É isso que hoje estamos aqui a demonstrar. Sobretudo é um protesto pelos direitos humanos”, conclui Rafael Pinto.



MAS alerta para o crescimento da extrema-direita
Vasco Santos, dirigente e candidato do MAS à Câmara de Barcelos, afirma que o partido marcou presença nesta marcha porque considera importante a “luta contra a homofobia”.
“Apesar de ter havido alguns progressos em relação aos direitos LGBTI+, agora também há retrocessos, como o crescimento da extrema-direita, o crescimento do ódio – como se vê nas políticas do Viktor Órban na Hungria, em que os direitos LGBT foram destruídos ou no assassinato de um jovem na Corunha”, assinala Vasco Santos.
E completa: “Na verdade há conquistas, mas os problemas são muito maiores do que já se conseguiu, por isso é fundamental estar aqui hoje, como já estivemos no Porto e em Lisboa e vamos estar em Braga. E como estaremos sempre. Enquanto houver necessidade de lutar pelos direitos que ainda não foram conseguidos nós estaremos lá”.