“Não fui eu que a matei. Encontrei-a sem vida junto à cama e levantei-a, voltando a pô-la no leito”. A declaração de inocência foi feita hoje no Tribunal de Braga por Fernando Almeida, de 51 anos, de Carvalhos, Barcelos, que começou a ser julgado por, supostamente, ter assassinado a mãe, de 89 anos, por asfixia, em junho de 2022.
Questionado pela presidente do coletivo de juízes, pelo magistrado do Ministério Público e pelos advogados de defesa, o arguido negou o crime, afirmando que encontrou a mãe já morta ao lado da cama no quarto da casa onde viviam, nas Carvalhas em Barcelos.
Confirmou que, a seguir, foi a um café da aldeia onde disse, a todos os presentes, que tinha morto a progenitora e telefonou a uma irmã a dizer o mesmo. Um grupo dos presentes foi com ele a casa da mãe, tendo confirmado a morte e chamado a GNR. O dono do café, o “senhor Oliveira”, terá ficado indignado e tentado agredir o alegado assassino, recriminando-o pelo crime.
Na ocasião, o magistrado do MP quis saber se tinha batido na mãe antes dela morrer e se disse ou não que a tinha morto no café e pelo telefone a uma irmã, mas o arguido – que tinha voltado a casa após cinco anos de prisão em Custóias por crime de violação – negou ter agredido a mãe e ter telefonado à irmã, mas disse ser verdade que o tinha afirmado no café do Senhor Oliveira.
Tem um aparelho num ouvido
Sobre esta confissão, apresentou uma justificação que pode ajudar à tese da defesa, a de que é inimputável, pois sofre de alterações de personalidade. Contou que fez essa declaração com o facto de ter um aparelho instalado num ouvido, que lhe foi colocado quando vivia em França por um homem – com quem teve sexo – sem que ele se apercebesse.
Esse aparelho – declarou – faz com que ele ouça conversas de outras pessoas, mesmo que não estejam no local: “pensei que eles iam ouvir e dizer que fui eu, pelo que confessei. Mas não fui eu, ela estava morta”.
Doença psiquiátrica
A defesa de Fernando Almeida, que está em prisão preventiva em Braga, defendeu, durante a Instrução do processo que não devia ser julgado por sofrer de doença psiquiátrica mas o juiz não atendeu o pedido. Vai ser julgado, esta terça-feira, no Tribunal de Braga pelos crimes de homicídio qualificado e de violência doméstica.
A acusação diz que, no dia do crime, o arguido estava a beber vinho em casa. A mãe, Lucinda Ribeiro ralhou-lhe, pedindo-lhe que parasse de beber, já que o fazia constantemente, ocasiões em que se tornava violento e a agredia.
A falecida chegou a queixar-se à GNR de que o filho queria dormir com ela na mesma cama, ao que não acedeu por ter medo de ser violada, um medo que radicava no facto de ter estado preso seis anos e seis meses por crime de violência sexual praticado em Vila do Conde, tendo saído dois meses antes da prisão.
Discutiram, ele deixou cair a garrafa e o copo no chão, e começou a bater-lhe com um objeto não identificado na cabeça. Empurrou-a para a cama e asfixiou-a.
A seguir, ligou à irmã dizendo: “morreu, fui eu que a matei! E foi ao café dizer o mesmo: “a velha está morta. Vinde a nossa casa, ela está morta em cima da cama”.
E, ainda, foi pedir ajuda a um vizinho.
Uma versão que desmentiu, a seguir, quando interrogado pela PJ e pela GNR.
Falou aos jornalistas
No dia seguinte, contou aos jornalistas no local que estava na cozinha, ouviu um barulho e supôs que a mãe estivesse a fugir, por, alegadamente, padecer da doença de Alzheimer: “Pensei: lá vai ela fugir outra vez. Fui ao quarto dela e não estava na cama, estava caída no chão e nua e morta. Peguei nela, pu-la em cima da cama”, disse. Face à falta de indícios seguros de crime, a PJ optou, então, por não o deter, ficando a aguardar os resultados da perícia médico-forense.