Milhares de pessoas passaram por S. João d’Arga

Milhares de pessoas passaram por s. João d'arga

A romaria de S. João d’Arga voltou a atrair milhares de pessoas de todo o país e além-fronteiras, sobretudo pelos inúmeros cantares ao desafio acompanhados por concertinas que polvilham a festa popular.

Regada a bagaço com mel, vinho e cerveja a rodos, esta tradição imemorial de fim de agosto é tida como “a mais genuína do país” por quem lá reside e calcorreia – como é também tradição – os cerca de 20 quilómetros de estrada serpenteante que parte da vila de Caminha até ao mosteiro de S. João d’Arga.

“Só quando fiz vinte e tal anos é que passou a haver estrada, dantes era pelo meio dos arbustos”, disse à Lusa Teresa Gonçalves Dias Branco, vendedora de fruta de 82 anos que, ao participar na romaria desde os 14, concluiu que a procissão em que se pediam curas para quistos, rugas, infidelidades ou ainda para arranjar casamento se transformou entretanto numa “festa de tolos”.

Segundo a natural de Barroselas, Viana do Castelo, “a festa agora é forte para a mocidade, mas também é muito vadiada”, até porque em torno do mosteiro – que consiste numa capela ao estilo românico de finais do século XIII rodeada de albergues em granito – “toda a gente tropeça e atira as caixas de fruta abaixo”.

“Formou-se aqui uma concertina e deitaram-me tudo ao chão”, lamentou, referindo-se a mais um entre dezenas de círculos de concertinas em que se canta ao desafio com vozes roucas de tanto vociferar e beber.

É mesmo ao lado do mosteiro que o principal da festa avança. Entre luzes amarelas suspensas sobre o palco e arredores, os membros da Banda Filarmónica de Vila Nova de Anha saltam com instrumentos de sopro e incitam o público a dançar ao mesmo compasso, enquanto tocam versões de rock inglês ou folclore nacional em ritmos frenéticos que recordam até o som de festas ciganas típicas de uma Europa mais a leste.

“É um ambiente completamente diferente de todas as outras festas”, gritou à Lusa José Silva, 20 anos, baterista da banda filarmónica, antes de voltar às tarolas, bombo, timbalões e pratos.

Esta edição da romaria de S. João d’Arga é ainda motivo de orgulho para os residentes pelo restauro do respetivo mosteiro – orçado em quase meio milhão de euros – algo que para Elisabete Pedrosa, mordoma principal da romaria e membro da comissão de festas, foi vantajoso na medida em que “chamou a atenção de ainda mais gente”.

“É uma grande festa tradicional e não há outra como esta – é única”, garantiu, congratulando-se ainda por, durante a inauguração do renovado mosteiro, ter sido “confirmado pelo bispo que esta é a festa mais genuína do Alto Minho”.

Horas antes, pouco depois do cair da noite, falava-se com Joaquim Amorim, emigrado na Córsega, ilha mediterrânica sob administração francesa, desde 1974, enquanto ainda caminhava monte acima.

Na tal estrada de curvas e contracurvas, iluminada tão-só pela lua cheia e ocasionais faróis de carros e motas de quem acorria à festa, admitiu que caminhava para a romaria para “dar um prazer à esposa, que ela sempre gostou de concertinas”.

“E eu gosto muito destes ares frescos da montanha”, adiantou, quase apologético, enquanto ao longe já se ouviam, entre o rio Minho e o Atlântico, cantares ao desafio que diziam: “Meu amor anda-me ver/ que eu não te vou procurar/ a água procura o rio/ e o rio procura o mar”.

 
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