O Presidente da República alertou hoje para a necessidade de a sociedade estar “permanentemente” preparada para viver em contingência, considerando que os setores social, privado e público têm de fazer “ainda mais” do que têm feito até aqui.
“Temos de estar preparados para aquilo que é o viver, não direi em emergência, mas em contingência por virtude de fatores que uns controlamos, outros não controlamos”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, na entrega dos Prémios Manuel António da Mota, no Porto.
Olhando para o setor social, o Presidente da República afirmou que “mudou imenso a capacidade de resposta e a capacidade de resiliência, a capacitação de técnicos e dirigentes e novas formas de empreendedorismo e inovação social”.
“Tem vindo a mudar também a exigência das populações perante a intervenção do setor privado, obrigando a ser generalizado aquilo que foi pioneiro quando arrancou este prémio – a consciencialização das empresas sobre o seu papel na resolução de problemas que são de todos nós. Tem vindo a mudar, mas precisa de mudar mais”, disse.
O chefe de Estado defendeu que o contributo do setor privado numa economia como a de Portugal é não só muito importante, como insubstituível.
“É notável a introdução da responsabilidade social, mas em períodos críticos ou de uma certa emergência o apelo é acrescido, [para um equilíbrio] entre o valor dos negócios declarados, ou de proventos desses negócios, e aquilo que constitui a massa salarial ou as responsabilidades emergentes da própria gestão”, acrescentou.
No que respeita ao setor público, o Presidente da República disse que “tem vindo a mudar a sua ação, todo ele e, em particular, o poder autárquico, ainda mais atento aos territórios e seus problemas, desenvolvendo posturas de proximidade e de defesa dos próprios interesses”.
Estas mudanças, destacou, são evidentes e positivas, mas o esforço tem de ser contínuo: “Uma coisa é certa – não podemos voltar a olhar para os números da pobreza dentro de uma década e reconhecer que, entretanto, por causa de fatores exógenos, o essencial não mudou”, referiu.
Na sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa recordou que em 2009, que foi o Ano de Combate Contra a Pobreza e Exclusão Social, “a taxa de risco de pobreza era de 42,5% antes das transferências sociais e de 18% após as transferências sociais”.
Em 2021, disse, “com o efeito em pleno da paralisia das economias por causa da pandemia”, no ano de arranque da preparação da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, “a taxa estava em 43,4% antes das transferências e 18,4% depois das transferências sociais”.
“Estávamos em 2021, na sequência da pandemia, pior do que em 2009, na sequência da crise internacional. Os números não são pessoas, todos o dizem, mas acabam por revelar e muito sobre aquilo que são as emergências, os custos das emergências, e de como elas de repente deitam por terra anos do que consideraríamos de progresso social”, sublinhou.
A Reencontro – Associação Social, Educativa e Cultural, que atua junto de pessoas e famílias vulneráveis, no concelho de Gouveia, foi a vencedora da edição de 2022 do Prémio Manuel António da Mota.
Criada em 2010, e com sede em Vila Nova de Tazem, na Guarda, a Reencontro desenvolve atividades nas áreas social, educativa e cultural junto de pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade ou exclusão social.
Sob o lema “Portugal Justo”, o prémio de 50 mil euros foi atribuído hoje, numa cerimónia que decorreu no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, ao projeto “Ser Criança”, um programa de intervenção comunitário dirigido a crianças dos 03 aos 10 anos e que consiste no diagnóstico, intervenção e desenvolvimento de competências.
A 13.ª edição do Prémio Manuel António da Mota distinguiu ainda nove instituições nacionais.