O maestro Lourenço Cruz, com raízes em Caminha, vai dirigir nos próximos meses algumas das mais importantes orquestras do Mundo. Em Minsk, na Bielorrússia, terá a seu cargo a Orquestra da Rádio Televisão da Bielorrússia e Orquestra Nacional da Bielorrússia, depois dá um salto a Itália Rimidi para ficar à frente da Chamber Orchestra e finalmente na Geórgia, a Geórgia Summer Festival.
Lourenço Cruz é filho de pais emigrados em França, onde nasceu, mas aos oito anos muda-se ‘de armas e bagagens’ para o concelho de Caminha. Apesar de ser de uma família com fortes ligações musicais, é o desporto e mais concretamente o remo, que lhe enche as medidas.
Só por volta dos 14/15 anos quando andava na Escola Profissional de Música de Viana do Castelo, “é que comecei a trabalhar e a estudar com mais profundidade”, é que o gosto pela música foi surgindo.
“O primeiro ano custou-me muito” mas “os professores muito bons que tive aliado ao ambiente saudável que existia foram importantes”. Aqui destaca o professor Paulo Silva, “foi ele que me pôs o bichinho da música” como um dos pilares desta altura. O trompete assume a condição de instrumento prioritário e será neste instrumento que fará a formação superior.
Tira o curso no Conservatório de Música de Vigo onde o professor José Vicente Simeon o vai marcar. “Foi preciso fazer provas para entrar”.
A verdade é que a direcção de orquestra é transversal a este percurso: “sempre me interessei pelo papel dos instrumentos dentro de uma orquestra e a direcção foi sempre algo que me chamou atenção”.
Direcção de orquestra
“Gerir 80/90 pessoas depois de criar algo e fazer com que o público responda de forma positiva é o que me preenche”, diz o maestro reconhecendo que a direcção de orquestra é completa: “precisamos de investigar o compositor, o seu carácter, a época, o estilo e depois transmitir isso aos músicos para fazer com que chegue ao público. Para mim, é fantástico”.
O resultado está à vista: já recebeu sete prémios internacionais em direcção de orquestras dos quais dois primeiros lugares.
“É o reconhecimento de que o estou a fazer é o caminho certo e isso é reconfortante”.
Um dos mais recentes aconteceu no concurso Internacional de Direção de Orquestra, realizado em Espanha, onde ficou em primeiro lugar entre nove concorrentes vindos de várias partes do mundo. Participar num evento como este implica “muito estudo, uma preparação prévia muito grande porque somos avaliados por um júri com um currículo enorme”.
Professor de música
Atualmente, Loureno Cruz é professor no Agrupamento de Escolas de Murça onde dirige a orquestra marcial local. Tem ainda a seu cargo a Orquestra Energia, um projeto da EDP de inclusão social e combate ao abandono escolar; o coro da Cruz Vermelha de Mirandela e a Orquestra Clássica de Trás os Montes e Alto Douro da qual é maestro titular.
Depois de muitos anos em Espanha, a vontade de voltar era muita até porque “ainda há muita coisa a trabalhar na música. Somos um país de grandes artistas que precisam de recorrer ao estrangeiro para trabalhar e reconhecer o seu trabalho”. Mas os desabafos não se ficam por aqui.
“O apoio à cultura é muito desequilibrado e quem tem a faca e o queijo na mão da decisão deveria saber para que serve cada uma das áreas e formação”. Aliás para Lourenço Cruz esta pode ser “uma das explicações para que as pessoas fujam da música, sobretudo para quem estuda tanto”.
No entanto, não custa ao maestro admitir que as coisas, actualmente, estão a melhorar, sobretudo, nas grandes cidades, “onde já há espaços com comodidade, um trabalho de base interessante e pessoas que começam a ter sentido crítico”.
Na forja está outro projeto que o está a entusiasmar: na rede de escolas de música do Caribe, em Medellin, Colômbia, vai ser desenvolvido um projeto, no seguimento do trabalho com a Orquestra Energia, para resgatar as crianças com condições sociais mais desfavorecidas.
Enquanto isso não acontece irá dirigir orquestras na Bielorrússia, Itália e Geórgia.