As 101 obras de arte em espaço público espalhadas pelo concelho de Braga foram perpetuadas num livro hoje apresentado publicamente e tido como “um documento único” a nível nacional.
Segundo a vereadora da Cultura na Câmara de Braga, Lídia Dias, o livro reúne obras de arte datadas de 1934 a 2020.
“Estamos perante um conjunto de monumentos e obras que vão desde tempos mais antigos, essencialmente bustos e pessoas, até obras mais contemporâneas, marcadas pela ousadia e inovação”, afirmou a autarca.
Em causa está o projeto Braga em Obras (BeO), levado a cabo pela zet gallery, em parceria com o município, que consiste num livro de inventariação e catalogação das obras de arte em espaço público no concelho de Braga e de colocação de sinalética explicativa junto das mesmas.
Para Helena Mendes Pereira, diretora da zet gallery e que assumiu a curadoria editorial e a redação dos textos, o projeto BeO partiu do sonho de, em ano de Capital da Cultura do Eixo Atlântico, “fazer do território um imenso museu”.
“Cada obra conta uma história: a do seu autor e a do seu propósito, contexto ou homenageado”, referiu, sublinhando a importância da colocação de sinalética, para que todos os públicos possam desvendar o que encerra cada peça.
Segundo Helena Mendes Pereira, pouco mais de metade das obras de arte que constam no livro são contemporâneas em termos de linguagem.
Vinte e uma delas correspondem a propostas bidimensionais, ou seja, painéis de azulejos (três) e pinturas sobre mural, a chamada arte urbana.
Uma parcela de cerca de 35% diz respeito ao campo da estatuária (com bustos e vultos redondos), bem como outros elementos enquadrados nas homenagens a instituições e individualidades.
Temporalmente, cerca de 17% datam do período pré 25 de abril de 1974, sendo todas as outras posteriores à Revolução dos Cravos.
“É apenas estatística mas tem relevância, porque há uma constância de, excluindo as propostas que enquadramos no contemporâneo, se referenciarem figuras da igreja e do mundo dos negócios, o que reforça o peso da religião na cidade, por um lado, também a nível simbólico, e o papel meritório da indústria e dos seus impulsionadores”, escreveu a curadora.
O centro histórico e as freguesias adjacentes concentram a maioria dos elementos inventariados, “ainda que o Sameiro, margens do rio Cávado e Palmeira sejam, por exemplo, polos a merecer visita atenta”.
Do ponto de vista dos autores, entre os que dominam no período pré 25 de abril e que marcam a estatuária, de temática civil ou religiosa, há nomes como António de Azevedo, Salvador Barata Feyo, Leopoldo de Almeida e Raúl Maria Xavier.
Em contexto de liberdade, o concelho apresenta, em catálogo aberto, nomes como Pedro Cabrita Reis, José Rodrigues, Clara Menéres, Paulo Neves, Isaque Pinheiro, Miguel Palma, Rui Anahory, Vhils, Alberto Vieira, Alberto Péssimo, Rute Rosas, Volker Schnüttgen ou Francisco Vidal.
A ideia é, agora, promover algumas “visitas teste” às peças de arte retratadas no livro, com vista à eventual elaboração de roteiros.
Para a Câmara de Braga, este é um projeto pioneiro em Portugal, que “catapulta a cidade como a primeira do país a ter todas as suas obras de arte em espaço público inventariadas e catalogadas e com sinalética uniformizada”.
“Esta pode ser a candeia que vai à frente e alumiar outros concelhos, para replicarem esta iniciativa e valorizarem o trabalho de tantos autores de obras em espaço público”, disse a vereadora da Cultura.
O livro tem fotografia assinada por Hugo Delgado, estando o design a co-curadoria editorial a cargo de Bárbara Forte.