Os liberais quiserem mostrar na convenção que estão preparados para as legislativas, mas também para vir a ser poder, um objetivo “sem pressas” de uma Iniciativa Liberal onde o debate ideológico foi aceso e o crescimento um desafio
“Preparados” foi o mote da VI Convenção Nacional da Iniciativa Liberal (IL), a primeira reunião magna de dois dias da história do partido que, sem surpresas, elegeu o recandidato único João Cotrim Figueiredo para mais um mandato como presidente do partido com 94% dos votos.
A IL cresceu em número de membros e núcleos e isso foi visível na organização, dimensão e produção desta convenção no Centro de Congressos de Lisboa, bem diferente daquela, mais modesta e tímida que, em Pombal, há dois anos, elegeu pela primeira vez João Cotrim Figueiredo.
Mas o crescimento do partido trouxe outras dores e desafios e, apesar da recandidatura do presidente não ter oposição interna, do debate das moções e de algumas intervenções vieram críticas — algumas mais ferozes – à direção e a expressão das divisões ideológicas nas hostes liberais.
Com uma reunião magna a menos de dois meses das eleições antecipadas de 30 de janeiro, foram traçados já objetivos eleitorais e estratégias de alianças, com um piscar de olho aos eleitores porque, assegurou Cotrim Figueiredo, “no poder ou na oposição o voto mais útil” é nos liberais.
As metas eleitorais são claras e quantificáveis: 4,5% dos votos e cinco deputados eleitos, o que significaria mais do que triplicar o resultado nacional das legislativas de 2019 — quando tiveram 1,29% – e passar da condição de deputado único para um grupo parlamentar.
Sobre o ‘dia depois’ das eleições, Cotrim Figueiredo deixou, num dos seus três discursos ao longo da convenção, avisos: “Não viabilizaremos uma solução de tipo bloco central” e “não haverá acordos, nem pré nem pós eleitorais, com PS, PCP, BE e Chega”.
Mas o presidente reeleito e deputado único traçou um objetivo ambicioso mais a longo prazo, convicto de que o partido será um dia “poder em Portugal”, um objetivo sem pressas, não a qualquer custo e sem “vender a alma ao diabo”.
“Não temos pressa, não tomaremos atalhos, não trocaremos convicções por cargos, mas seremos um dia poder em Portugal”, afirmou no sábado, quando apresentou a moção global de estratégia.
O encerramento da convenção — onde até a banda sonora bateu ao ritmo da liberdade, com “I Want to break free”, dos Queen, e “Freedom, the Pharell Williams — o alvo de Cotrim Figueiredo foi o Governo do PS, desfiando críticas, casos e polémicas para comprovar o “seu desgaste”, trazendo à memória José Sócrates e até falando diretamente para António Costa e a sua “habilidade de se agarrar ao poder”.
Sobre candidatos às eleições, a tal “parte sumarenta”, João Cotrim Figueiredo explicou que estas foram deixadas de fora deste congresso de propósito, mas anunciou um Conselho Nacional na próxima semana para aprovar as listas às legislativas, sendo que a única certeza é que o deputado e presidente voltará a ser o cabeça de lista por Lisboa.
A ideia de que os liberais pensam pela sua cabeça foi amplamente defendida e ficou expressa, por exemplo, no debate sobre a nova declaração de princípios, com críticas não tanto ao conteúdo, mas sim à forma não participativa como decorreu o processo, tendo o texto acabado por ser aprovado um dia depois do previsto.
Mas foi uma das 16 moções setoriais, que acabou chumbada, que gerou a maior polémica entre os membros.
“Em defesa da Liberdade” trouxe discórdia e posições bem opostas, uma moção que pedia à IL a defesa da “liberdade individual em tempos de paz, em tempos de guerra, em tempos de cólera, em tempos de Covid”.