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O Município de Amares alertou o Ministério Público (MP) do Tribunal local para a existência de cerca de 60 estudantes de São Tomé e Príncipe na zona, a frequentar um estabelecimento de ensino profissional, mas a viver em antigas pensões, em Caldelas e em Rendufe, em condições de sobrelotação.
E casos houve em que lhes faltava a comida, dado que tinham vindo para Portugal com pouco dinheiro, antes do curso começar, e sem receberem bolsa ou qualquer apoio.
O MP abriu um inquérito para averiguar o caso. A situação repetiu-se em Braga para onde um grupo de 80 jovens santomenses veio morar por falta de alojamento em Amares, o que obrigou a Câmara Municipal, em parceria com instituições sociais e organismos estatais, a intervir.
O seu presidente, Manuel Moreira, adiantou a O MINHO que, além do problema da sobrelotação lhe chegaram também relatos de dificuldades várias, incluindo a de falta de dinheiro para comer: “Chegaram à Câmara relatos preocupantes de situações pessoais sobre alguns destes jovens, em termos humanos e sociais, pelo que decidi apresentá-las à Justiça”
Dinheiro da bolsa “é pouco”
Em abril, em Braga, uma ambulância da Cruz Vermelha foi buscar uma santomense que se sentira mal e concluiu que estaria desnutrida, tendo dado o alerta à Câmara Municipal que desencadeou um processo de apoio social dando alimentação a cerca de 125 santomenses.
Os jovens frequentam a escola profissional Sábio de Lago, em cursos de três anos, recebendo uma bolsa que não chega a 450 euros mensais, tendo de, com ela, pagar o alojamento, comer e deslocar-se em autocarro (22 quilómetros por dia).
Nesta vila termal, O MINHO encontrou um grupo de 30 jovens, rapazes e raparigas com idades entre os 18 e os 22 anos, que estudam no Sábio e vivem numa casa, uma antiga pensão, um pouco acima das instalações das Termas.
Falamos com seis jovens, que, com algum receio, solicitaram o anonimato, e que disseram que as condições eram boas, que o dinheiro era suficiente e que estavam contentes: “Só queremos que o curso acabe para podermos trabalhar”, disse-nos um deles. A situação repete-se noutras casas da vila.
Antes disso, e num café-bar, uma jovem de 19 anos, a Cadima, que ali trabalha aos sábados e domingos de manhã, confessou que o dinheiro da bolsa “é pouco”, que gosta do curso e que a vila de Caldelas é “tranquila”, mas tinha “pouco para oferecer em termos de diversão”.
Na vila, a população em geral estima a presença dos africanos e alguns conseguem empregos em ‘part-time’ em lojas, cafés ou pensões. E apreciaram a sua participação alegre nas festas locais, no último fim de semana.
Sábio de Lago nega problemas
O MINHO contactou a Sábio de Lago, sita na chamada Ponte do Bico, tendo a sua diretora-geral Lurdes Almeida dito que as dificuldades dos jovens se deveram ao facto de terem vindo antes do curso começar, muitos deles com pouco dinheiro: “Mal o curso começou adiantamos algum dinheiro da bolsa, no caso cerca de 500 euros”, disse.
A responsável garante que os estudantes estão satisfeitos com os cursos que frequentam e sublinha que, no geral, conseguiram alojamento na zona.
Questionada sobre a informação que obtivemos segundo a qual o proprietário da escola seria também dono de casas alugadas a alunos, a diretora negou: “Procuramos ajudar, mas não mais que isso”.
Inicialmente, Lurdes Almeida aceitou uma visita nossa ao local, mas acabou por não o permitir, alegando que tal poderia perturbar os jovens nas suas tarefas.
Em Braga recebem 50 euros e têm consultas grátis
O Município de Braga concluiu que estavam a dormir 80 jovens santomenses num espaço alugado, junto ao Sameiro, pela Ordem do Carmo e onde apenas cabiam 40.
A vereadora da Educação, Carla Sepúlveda adiantou que os 40 “excedentários” foram transferidos para outros locais, nomeadamente para Barcelos e que está a ser dado, pelo Alto Comissariado para as Migrações um cheque de 50 euros mensais para que possam comprar alimentos em duas grandes superfícies (Mercadona e Pingo Doce). “Fazemos um acompanhamento semanal do caso com o Instituto de Emprego, a Caritas e a Cruz Vermelha”, vincou.
A autarquia conseguiu, também, que o Agrupamento de Centros de Saúde ACES desse consultas e fizesse análises, aos sábados das 08:30 às 18:00, aos que se inscrevam. A cooperação estende-se ao SEF, à Segurança Social e à Caritas.
Sobre o caso dos alunos de Amares, a autarca disse que a delegada regional Norte do Instituto de Emprego colocou várias possibilidades: Desafetação dos jovens da Sábio de Lago para outras entidades formadoras (Guimarães, Barcelos, Porto, Vila Nova de Gaia e Santa Maria da Feira) e a integração das matrículas, nessas entidades, mas com o compromisso de alojamento.
Embaixada de São Tomé veio a Amares
O Embaixador de São Tomé em Lisboa esteve em maio em Amares, tendo visitado a Sábio do Lago para se inteirar da situação. “Vimos que havia alguns problemas, mas nada de grave”, disse a O MINHO fonte diplomática.
A mesma fonte salientou que uma boa parte dos alunos que vêm para Portugal são trazidos por associações locais, que têm relações com os centros de formação, sem interferência do Governo. “Daí que não seja fácil monitorizar o processo, dado que desconhecemos quando vêm e como”, vincou.
A Embaixada garante que está a monitorizar o caso, nomeadamente informando os jovens das vicissitudes que aqui podem encontrar.
AEB alugou quatro apartamentos
O centro de formação da Associação Empresarial de Braga acolhe, também cerca de 15 estudantes do país: ”para lhes resolver o problema do alojamento, alugamos quatro apartamentos”, disse a O MINHO o seu diretor-geral, Rui Marques.
O MINHO contactou, mas não obteve resposta até agora, o IEFP para saber como funciona a vinda de estudantes dos PALOP e quantos estão em Portugal. No caso de São Tomé, haverá mais de 150 no Norte.