Chama-se Garantia e há quem garanta que o mesmo é “assombrado”. E, de facto, tem essa aparência há vários anos. O hotel, que encerrou portas em 1985, vai agora dar lugar a lojas de comércio e a 18 habitações. A informação é avançada pela edição desta semana do semanário O Povo Famalicense, citando fonte da Câmara Municipal.
Sobre o hotel, relatava em 2014, num artigo de opinião publicado no seu blogue, o escritor famalicense João Afonso Machado: “Por artes do diabo, não me larga o espírito o fantasma do Hotel Garantia assombrando o centro de Famalicão”. Trata-se, pois, de um edifício imponente que, quando foi inaugurado, nos idos anos de 1940, recebeu epíteto de “Chiado lisboeta à moda de Famalicão”.
Quase 30 anos depois de ter sido encerrado, o escritor descrevia “umas luzes tristes, à noite, nesta ou naquela janela de persianas estoiradas”, revelando que “alguém ali habita”. Provavelmente, e a existirem, os fantasmas não necessitarão de luz. O autor estava, no entanto, com a ideia de que se tratavam de operários da empresa que adquiriu o edifício, que por lá dormiam.
Encerrado desde 1985 – há quase 40 anos -, e assombrações à parte, vai ganhar uma nova esperança. Escreve o Povo Famalicense desta semana que o edifício “vai acolher comércio ao nível do rés-de-chão e habitação nos restantes três pisos, viabilizando a criação de nove lojas e 18 fogos”.
O projeto terá ainda estacionamento subterrâneo e já foi aprovado pelo urbanismo da Câmara, para uma área de construção de 6.760 metros quadrados, assegurando os elementos arquitectónicos de valor, como o pórtico de entrada.
Esta é uma revisão de um projeto anterior, que remonta a 2011, e onde apontava a construção de um centro comercial, ideia entretanto abandonada para dar lugar ao comércio e habitação. a obra será assinada pelo arquiteto Noé Diniz.
De acordo com a Câmara de Famalicão, o edifício localizado entre as artérias Rua Adriano Pinto Basto e Rua de Santo António, “é constituído por três frentes, sendo duas alongadas pelas artérias citadas, de piso térreo (comércio) e superior (quartos) e uma, correspondendo à fachada principal, de fachada simples, possuindo no telhado, um terraço onde funcionou uma esplanada”.
A sua construção, explica a autarquia, deveu-se à figura de Amadeu Mesquita e à Companhia de Seguros Garantia, aproveitando a estrutura do antigo Hotel Vilanovense.
Com a junção de alguns edifícios adjacentes, foi inaugurado a 19 de junho de 1943. No entanto, “devido aos poucos hospedes e ao elevado preço praticado encerrou em 1950”.
Com mais alguns “abre e fecha” durante a década de 50, acabou por reabrir em 1956 como “Hotel Café-Restaurante” com salão de bilhares e barbearia privativa.
Vasco César de Carvalho, poeta e empresário famalicense, referia o seguinte sobre o hotel, no livro “Aspectos de Vila Nova -IX”: “A Companhia de Seguros Garantia, do Porto, havendo feito a compra deste velho prédio aos descendentes familiares do Hotel Vilanovense, (…) residentes em Lisboa, – ao qual juntou a transacção compradora das duas casas ligadas pela Rua de Santo António, cujos donos estavam ligados à descendência do Visconde de V.N. de Famalicão, pela escritura notarial de 30.4.1942, construíu então neste local o Hotel Garantia”.