A companhia “Dançando com a Diferença” estreia no sábado, em Guimarães, o bailado “Vaamo share oque shop é Beiro Pateiro”, uma criação cuja principal marca é a alegria, para contrapor aos atuais tempos “cinzentos e soturnos”, decorrentes da pandemia.
Com coreografia de Vera Mantero, o espetáculo vai subir ao palco do Centro Cultural Vila Flor, pelas 11:00, pela mão de oito bailarinos, três dos quais com trissomia 21, um invisual e outro com uma síndrome não identificada.
“A principal característica do espetáculo é a alegria, de certa forma um paradoxo com esse tempo de vivemos. Mas uma das características da arte é essa mesmo, a arte vai buscar o que falta noutro lugar. Neste tempo muito mais soturno e cinzento, este espetáculo vem cheio de alegria e de cor”, referiu o diretor artístico da companhia.
Segundo Henrique Amoedo, o espetáculo não tem uma história ou uma narrativa.
“O público assiste e depois constrói a sua própria história”, referiu, sublinhando que, na obra de Vera Mantero, “poucos são os espetáculos narrativos”.
O nome do espetáculo é da autoria de um dos próprios bailarinos e Henrique Amoedo não o quis “descodificar”.
“Foi um dos bailarinos, que tem deficiência intelectual, que o escreveu. Quando o lemos, também não sabíamos o que era, com o tempo chegámos ao que queria dizer aquilo, pensando na voz da pessoa a falar aquilo, no sotaque, na articulação das palavras. Se juntar tudo isso, a gente consegue perceber”, referiu.
Sublinhou que, bem mais do que o nome da peça, o importante mesmo usar a linguagem daqueles bailarinos e integrá-la como uma parte da criação do espetáculo.
A companhia “Dançando com a Diferença” completa 20 anos em 2021 e tem um espírito inclusivo, mostrando que é possível realizar espetáculos com qualidade com “corpos e sensibilidades diferentes” em cena.
“A importância é mudar a norma do que é o corpo em cena, aceitar diferentes corpos em cena, aceitar diferentes sensibilidades, diferentes formas de raciocinar e estar em cena”, disse ainda Henrique Amoedo.
O diretor artístico enfatizou o facto de a companhia ter conseguido “conquistar espaços” na programação normal das casas de espetáculos e não apenas em eventos relacionados com a deficiência.
“O principal ganho é mostrar ao público em geral que é possível fazer espetáculos com qualidade”, acrescentou.
O bailado “Vaamo share oque shop é Beiro Pateiro” esteve programado para a edição de 2021 do Festival Internacional de Dança Contemporânea de Guimarães (Guidance), que não se chegou a realizar por causa da pandemia de covid-19.
Vai, assim, estrear-se no sábado, marcando o regresso dos espetáculos presenciais ao Centro Cultural Vila Flor.
Fátima Alçada, diretora artística d’A Oficina, que gere os espaços culturais de Guimarães, disse à Lusa que a lotação da sala será reduzida para metade, passando de 798 lugares para cerca de 400.
Máscara obrigatória, distância entre lugares, desinfeção das mãos e medição da temperatura à entrada são requisitos obrigatórios para quem quiser assistir.
“Nada que diminua o entusiasmo do público, que denota uma fome enorme de cultura. Este espetáculo é de entrada gratuita e ainda não sabemos como vai correr, mas esperamos uma grande afluência. Temos outros dois já marcados que já têm lotação esgotada”, disse Fátima Alçada.